Poemas : 

Soneto da agonia batendo à porta

 
“ Quantos lumes reflete o iroso aspecto!
À porta chega: ao toque de uma vara
Abre-se a entrada do alcáçar infecto.

— “Ó turba vil, que o céu de si lançara!” —
Ao limiar falou da atroz cidade,
— “Donde vos vem da audácia a insânia rara?”

A Divina Comédia – Inferno – Canto IX




Preguiçoso, cortando as entranhas da brenha,
entremeado um fluxo de água limpa refresca;
torrentes balançando a grama giram a azenha,
uma canção suave sobre a tela, qual arabesca.

Mas, anoitece agora acima do orbe tranquilo,
um imenso manto havia sobre cada um de nós.
Quem hoje será conviva da noite a pedir asilo,
quem agora baterá sombrio na porta, tão grós?

São as mãos crispadas ressoando a aldrava;
depois duras as pancadas no carvalho vetusto
do enorme portal, uma chave teimosa girava,
deixando-o entrar, ao som de trovão robusto.

Mesmo sem nada dizer, sob a capa algo trazia,
sem convite, à ditosa mansão adentra a agonia.





 
Autor
shen.noshsaum
 
Texto
Data
Leituras
537
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
0 pontos
0
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.