Sonetos : 

Soneto dos cirros alvissareiros

 
“ Em lugar stava já donde se ouvia
Rumor, igual de abelhas ao zumbido,
De água, que noutro círculo caía:
Eis três sombras partir vi comovido,
Correndo, de uma turba que passava
Debaixo do martírio desmedido.”

A Divina Comédia – canto XVI







Fluem céleres os anos distinguindo nos solstícios,
inflexíveis lobriga caminho confesso pelo destino.
N’ aras, debalde, néscios oferecem em sacrifícios,
plan' alvo fumo da mirra diante d’altar paladino.

Bispadas as cavidades, penetre pel' oco, podridão,
vista cinza do zodíaco havidas será cinza-realidade.
Esvaído do mel nos favos, abelhas repelidas de roldão
em que pese colares d’ ouro, só mais um dia na cidade.

Agora se sabe, como n’ outro dia, tudo fora assim,
perfeito é o juízo de quem não desconhece a razão,
e acima d’ ouro recuam nos anéis e pulseiras enfim.

Látego, qual cirros alvissareiros em horas de paz,
aceito esses fatos já-prostrado num negro caixão;
noticia o vento espalhará c’o fumo rindo pertinaz.



 
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shen.noshsaum
 
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