Poemas : 

A morte da rainha

 




O cavalo do rei trouxe o bispo negro,
ajoelhando-se aos pés da torre de marfim,
passando um whatts para o palácio
anunciando que a rainha chegou ao fim.

Dias
e noites
contadas
para a rainha de ébano
gravemente doente
sitiada
nas casas brancas
sem saída
sem alternativas
para
manter
a vida.


A rainha está morrendo,
chamou doze apóstolos
orientando o lorde chanceler
para cancelar compromissos
dos finais de semana
adiando a caça à raposa.

Bispos despiram os casacos franciscanos,
enquanto peões colocavam armadura
no cavalo vestido de monge
confessando pecados inconfessáveis.

[Não achando o confessor real
as damas de preto saíram
em busca de um sacerdote em Paris.]

Houve apelos ao santo padre.
Francisco não estava em Roma,
embarcou no Queen Elizabeth,
escoltando o Titanic,
pelos mares gelados da Groenlândia
abandonando Reykjavík
aos bardos vikings arrependidos
dos pecados comentidos em nome dos druidas.
Paramentou-se para a extrema-unção
enfim chegando ao destino
depois de quatro semanas e meia de viagem,
três casamentos e um funeral.

O papa franciscano trouxe a água benta,
e todo o resto do equipamento,
ajaezado com crucifixos góticos
encimado por uma suástica védica.


Confessou
a rainha
ao bispo
do rei
sempre
ter sido
fiel à grei.
Ter sido
sempre
esposa leal
e jamais
ter recusado
sexo oral
no primeiro
ano de casados,
estar arrependida
mesmo sem
ter pecados.


Ante as trocas de olhares maliciosos
entre o chanceler e o monge,
jurou que em infindáveis anos de reinado
se houve único, primeiro e doloroso pecado,
que desabasse o teto do santo sepulcro
na cabeça do lorde chanceler.
Jurou jamais ter colocado cantáridas moídas,
no copo de cristal do soberano atual,
mesmo tendo ficado mais de um ano
sem sequer uma relação sexual.

[Exaltou os rebentos que deu à luz
belos pimpolhos de cachos dourados
em que pese serem como a nogueira
as madeixas do consorte enfeitado.]

Antes de exarar um último suspiro
quis deixar consignado
que Carrol sempre foi mentiroso
ao dizer que queria a cabeça de Alice,
sempre foi uma grande tolice
inventada pelo Espantalho
seguindo conselhos tortos do Leão,
enquanto procuram algas marinhas
no caminho das esmeraldas.

No inicio da manhã do terceiro dia
o rei confidenciou secretamente
aos bispos na capela real
a morte da ultima soberana esguia.
Queimaram incenso respirando mirra
e leram cânones em um salmo
à luz dos pavios das velas brancas
da galera de Cleópatra revivida.

Seguiram em cortejo pomposo
até as câmaras ardentes
provocando delírius tremellis
nos pacientes da hemodiálise
vendo correr o sangue nos tubos azuis.

Foi
sepultada
em Verona
aos pés
do mausoléu
dos Capuletto
enquanto
a Escócia
pegava fogo
invadida
por hooligans
de cara vermelha.
perseguindo saiotes azuis.

 
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Zambrito
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