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O Meu Mundo

 
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Este lugar, este sitio aqui em Alfama, que me é familiar desde sempre, é o Meu Mundo...

Em Alfama a únião de quem gosta de boa música, e para quem a vive, é evidente, sente-se, e aquela porta está sempre aberta para mais um. Começou pelo o Fado e hoje o Jazz, os Blues são uma parte do que se toca e ouve por aqui. Estou adorando fazer parte de um grupo que sente o que faz, tocar e cantar é um bem que todos nós aqui sentimos e deixamos para trás o que no minuto antes nos preocupava.


Desci as escadas.

Ali estava eu num Domingo de manhã bem cedo.

Mais uma noite de Sábado em companhía de amigos numa Tertúlia sobre o que nos une: A Música.

Dormi quatro horas e o Sol começou a entrar por uma fresta da janela, convidando-me a um banho, um bom pequeno almoço e uma saidinha pela cidade .

O escuro tomou conta de mim enquanto percorría os últimos degraus que me separavam da porta. A citara, tocada magistralmente, era o pano de fundo de um centro de yoga, numa das ruas continuas á minha. Não resisti e entrei. A voz da anfitriâ fez-se ouvir. E mesmo que a minha visão ainda estivesse ocupada a percorrer os cantos, as cores e a luz do sítio onde me encontrava, a audição fazia o seu trabalho e aprendia todas as indicações que, rapidamente, me levaram a uma sala onde o silêncio e as boas vibrações imperavam. Preparava-me, então, para a minha aula de meditação. Desde que vim do Tibete, que nunca mais tinha tido oportunidade de realizar uma aula de Meditação a sério e sem nada defenido nem pré-marcado, eu ali estava e com uma noite quase sem dormir...


Banho se Som

Sentei-me de modo a ficar confortável. As pernas estavam cruzadas, as mãos sobre os joelhos, o polegar a tocar o indicador, as costas direitas e os olhos fechados. A concentração é a base de toda a meditação. Concentração em si mesmo, nas capacidades, no silêncio, nos sons. Foi aí que voltei a experimentar a primeira técnica de meditação- Banho de som- que consiste em ouvir o som de uma taça de metal ou cristal, a Taça Om, concentrando todos os pensamentos neste ruído que enche rapidamente um espaço de quatro paredes. Fiz um esforço para me concentrar, para, como me foi pedido, esvaziar a minha mente de todos os pensamentos negativos. O mundo á minha volta. O stress. O trabalho. O trânsito.


Tudo isto devería ser algo do passado, algo que não se impusesse à minha vontade de atingir o caminho da iluminação. Tentei. , confesso, é dificil. Num mundo onde a calma e os momentos relaxantes são quase inexistentes, desligar a mente é complicado. A voz da minha anfitriã - calma e serena como já não ouvia há muito tempo- impôs-se sobre o som que ali pairava. Desliguei. Do mundo, do stress, do trabalho, do trânsito. Para mim. existia aquele momento, ali e agora. Este estado de felicidade interior durou largos minutos. O barulho da rua atarefada não existia. O momento tinha-se tornado só meu, da minha respiração pausada e controlada da minha consciência. Perfeito.

Liberdade procura-se.



O grande objectivo da meditação é atingir a iluminação. Atingir um estado de espirito em que os sentimentos negativos desapareçam. Ódio, rancores e impaciência são palavras e conceitos que não existem neste dicionário budista. Pelo contrário, descobrimos cada vez mais um grande potencial de paz interior - porque a nossa mente só está feliz quando está em paz - e de autoconfiança, que nos dá força para seguir um caminho espiritual em que ultrapassamos todos aqueles aspectos negativos da nossa vida e conseguimos descobrir os positivos. A minha mentora desta experiência de hoje, explicou-me que "o trabalho é gradual mas que a prática regular de meditação traz um estado maior de paz, harmonía, libertação de obsessões e ansiedade, construindo um novo caminho todos os dias". A clareza que esta prática proporciona permite, aos que a experimentam, chegar a um estado de consciência plena, vivenciando o presente, ao mesmo tempo que se recicla toda a informação externa - positiva ou negativa - e se arranja uma extrutura forte que permite aprender a não nos afectarmos por tudo o que nos faz mal.

Ouvir o silêncio.



Foi quando estive no Tibete quando conheci a prática de meditação com que mais me identifiquei, "Nádia Brah-man", que significa "o som do silêncio". Depois de alguns exercícios de relaxamento entreguei-me a uma experiência única, incomparável. Na posição ideal, segui os conselhos que me foram dando, tapei os ouvidos e ouvi...o silêncio. A percebi-me, ao longo de todas as minhas aulas, que o silêncio é um som real e aprender a ouvi-lo, a senti-lo, a caracteriza-lo é uma ajuda preciosa para atingir a concentração necessária. Nesse dia, subi as escadas agora diferente. O escuro desapareceu. Uma sensação de leveza apoderou-se de todo o meu corpo, tomou conta da minha mente de uma maneira que nunca imaginei que pudesse acontecer. Lisboa não existia. As buzinas deixaram de tocar, as pessoas passavam ao meu lado sem que eu me apercebesse da sua presença. Abstraí-me dos pensamentos e relaxei. Decidi aproveitar ao máximo o "MEU" momento.


Porque meditar - mesmo que não seja numa fase avançada - concede uma clareza de pensamento inigualável e um controlo emocional que muitas vezes perdemos. Com estas aulas, percebi que não é impossível. Orientar os sentimentos, as emoções, os desejos e as fraquezas é um objectivo a ser concretizado e, surpreendentemente, com alguma facilidade.

O importante é chegar à conclusão de que precisamos de uma mente em paz.É ter autoconfiança suficiente para seguir um caminho espiritual, porque

temos todas as condições reunidas para atingir este estado de plenitude.

De regresso...



Eu sinto-me uma outra Mulher, já não sou aquele doce de pessoa porque alguém me magou, porque alguem me fez ver que eu não devo confiar, que existe a maldade, e que existem pessoas que se aproveitam da fragilidade e da doçura de outros, para tirarem beneficios próprios, não se importando do que possam causar de mal para sempre a essas infelizes. Eu fui uma delas infelizmente que confiei cegamente em alguém que só mal me fez e ainda faz, porque o tenho ainda guardado em mim, mas desta vez que fiz este caminho da meditação, foi diferente. Desta vez experimentei uma concentração única, um estado de relaxamento que ainda não conhecia e que, até agora, não sabia existir. Entreguei-me a sensações que dificilmente conseguiría aqui descrever. Não vou dizer que a minha vida mudou, continuo a mesma, mas penso de outra maneira e não vou apregoar que já consigo atingir o estado da iluminação. Sei sim, que o silêncio me ajuda a encontrar, a clarificar as minhas ideias e a gostar mais de mim, afastando da minha mente quem tão mal me fez. Sei que quero e o que quero, quero chegar mais longe na música e continuar no meu trabalho ligado à cosmética e à medicina oriental. Sei que quero chegar mais longe, que pretendo continuar a desvendar este mundo, a aprofundar o conhecimento de mim própria. Porque oportunidades destas não existemn muitas. E esta é certamente uma a não perder.

E.L.

2008/1/03


E.L.

 
Autor
Emilia Lamy
 
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