Poemas : 

VELOCIDADE MÁXIMA INVERTIDA: DE “CENTO E VINTE” A “ZERO”

 
120: ÚLTIMA PARADA:
Fui longe demais: nem entendo ainda onde estou
Lugar de poucos sinceros amigos e raros desejos
Quase todos iguais: diria que aqui todos sãos iguais
Silêncio total: vejo anjos silenciosamente voando

110: QUASE CONCORDANDO EM IR:
São tantos que me ajudam e outros desejam que eu vá
Bobagem: um pouco caduco, lerdo, aborrecido, incomodo
Tal de fralda, mamadeira, cadeira de roda, de banho
Um sol pela manhã, ao meio-dia to no frio, à tarde volto

100: AINDA NÃO SABIA DE NADA
Passaram um ano comemorando até que chegou, já sabia:
Quando se marca o tempo, o dia chega; tempo marcado dói
E o tempo anda de ré, vai empurrando a gente e não pára
Não inventei o tempo, não me deram controle do tempo

90: LINDO TEMPO
Homem de poucas caminhadas e plantador de orações e de muita fé
Brincava com as rugas que não tinha, beijava uma amada na janela, sorria
Ainda me permitia alguns passos pelos salões da vida, pelos jardins
Não apagaram em mim, o sol, a lua e um riacho urrando como leões

80: AINDA DESACREDITANDO
Sem saber a distância pra seguir e chegar, nem quanto já caminhou
Ainda com muita saudade dos lugares e corpos por onde passou
Ainda sem lavar a alma só prá sentir o perfume do último abraço
Escondendo nas pedras, correndo dos ventos, se protegendo de tudo

70: DA DOCE DISTÃNCIA CAMINHADA
Como foi gostosa a simetria do tempo, nesse doce caminhar até aqui
Mentes perfeitas, indeléveis, leves plumas, não se foram: me abraçaram
Guardei esses dias, como passarinhas guardam seus ovos: cuidando
E os nobres cuidam de suas jóias e de seus desejos a quatro segredos

60: COMO FOI DOCE CHEGAR AQUI
Chegar com muitos Chicos, Robertos, Tons, Alexandres, tantos Thans
Sem saber que tantas cores nos esperam nas esquinas como guardas
Cada vez que dormi numa esquina pintei em sua alma nossos desejos
Em cada livro que li, ouvi suas palavras: dormia no espaço das linhas

50: MEIO SÉCULO – METADE DA VIAGEM (ACREDITAVA)
Foram muitas serras subidas, muitos tombos, amigos, incertezas e poesia
Violões quebrados, desafinados, tantos pedidos, poucos ouvidos e indo
Agradecido e ainda sentindo as dores que minha mãe sentiu: 50 anos idos
Onde estou é onde piso, como criança lisa, brinco de fugir, sorrindo brinco

40: COMO É DOCE TRABALHAR E SONHAR
A gente nem sabia, só sabia que o saber existia, queria liberdade, bons livros, viagens
Amar os amores havidos, um pouco dos amores idos, amores dados, doces amoras
Que a gente cheira na ponta dos dedos e não lava a camisa e esfrega a pele pra sentir
Amor contratado, desconfiado, calado e tão magoado, gritando, sangra no ultimo sorriso

30: BONS E DUROS ANOS
Obrigado belo horizonte, sua tão grande beleza me encantou, me tornou menino e me fez feliz
Subi suas serras, beijei suas terras e em suas florestas montei o meu ninho e como passarinho
Criei minhas filhotes: minha doce vida que tão querida é pra nunca esquecer, doces meninas
Também nesse tempo levaram meu melhor e único amigo: meu querido pai. Ainda choro! Choro!
Obrigado amiga por tudo!

20: DOCES 20 ANOS COM TODOS OS SABORES
De tão lindos não duraram uma década, tão intensos foram poucos meus marcados vinte anos
Quando deixei de ouvir e seguir as vozes sábias de quem falava com a sabedoria dos mestres
Quando com eles aprendi e entendi que era só início e que nada sabia; meus primeiros festivais
Meus primeiros sonhos sonhados, meus primeiros minutos, minhas únicas primeiras estradas

10: UM NEGRINHO MEDROSO
Chegando da roça, criado com cheiro de ar e banho de água pura, corrida na bica de bambu
Tinha medo de carro, não gostava da luz, pois, tinha saudade da minha lamparina e escuridão
Buscava meu gado no pasto, meu cavalo baio, tirava o leite da minha vaca Viçosa e respirava
As manhãs eram longas e sadias, meus ventos vadios não me contaram nada dessa historia

0: DEPOIS FUI SABER
Não foi por minha escolha que eu estou aqui: Obrigado meu pai, minha mãe, por se amarem
Tantas vezes minha mãe me embalou num berço de taquara; nunca me faltaram amor e leite
Não foi por seu medo, nem seu segredo, que me deixou na estrada; obrigado mãe, obrigado mãe!
Meu pai, a você, forte abraço, cheio de alegria, sorrisos e um violão afinado que eu levo no peito


Assim, nessa tarde fria e cheia de saudade, fiz uma viagem dos 120 aos 0 anos.... acredito que alguma coisa possa ser lida e sentida por nossos leitores...
Em todas elas sempre vou amar àquelas pessoas que sempre deixaram seus perfumes em minha estrada.
Abraço


José Veríssimo

 
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