Desejo o mar
Com a sede de quem nunca soube nadar.
Vejo-o ao longe, vasto e azul,
Mas meus pés
Estão presos à terra firme dos impossíveis.
Assim também é teu olhar:
Horizonte que me chama,
Mas não me permite chegar.
Queria o mar, mas o mar não me queria.
Queria teu amor,
Mas tua alma já era porto de outra vela.
Sou barco sem leme,
Soprado por ventos de ausência,
Navegando no sal da minha própria espera.
Teu olhar é onda que beija a areia,
E logo recua.
Minha vontade, náufraga,
Morre na linha que separa
O que se sonha e o que se toca.
Não posso navegar o mar,
Não posso habitar teu abraço.
Mas posso ser a poesia do que falta,
O eco de um amor que nunca foi,
Mas ainda assim, dói como se fosse.
Te quis como quem deseja o mar:
Não para cruzá-lo,
Mas para ser afogado em sua beleza.
E mesmo longe, mesmo negado,
Há eternidades que vivem num único olhar.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense