Às vezes, é o mundo que morre, não os mortos.
Os mortos apenas dormem em silêncio,
Guardam o fôlego das estrelas
E o perfume das flores que não murcham.
Mas o mundo…
Ah, o mundo sangra em cada esquina esquecida,
Em cada olhar que desaprendeu a ver o céu.
Às vezes, é o mundo que apodrece de dentro,
Com suas máquinas que devoram o vento,
Seus risos ocos, suas promessas sem alma.
Os mortos, em sua calma, parecem mais vivos,
Porque ainda recordam o que é ser inteiro.
Talvez a morte verdadeira
Seja continuar aqui, respirando o ar do fim,
Caminhando entre ruínas
Que ainda fingem ser cidades.
Porque às vezes, só às vezes,
Os mortos somos nós,
E o mundo é apenas o túmulo
Que insiste em se mover.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense