Há em mim um desejo que não grita,
Ele respira.
Anda descalço pelo peito,
Tateando portas antigas,
Essas que só se abrem por dentro.
Quero abrir meu coração
Como quem oferece abrigo à chuva mansa,
Sem promessas grandiosas,
Apenas a entrega do que é verdadeiro
E ainda tremula.
As delícias do seu amor
Não me parecem excessos,
Mas uma doçura calma,
Um repouso onde o mundo
Finalmente silencia.
Desejo provar esse amor
Como se prova um fruto raro:
Devagar, com reverência,
Aceitando que o sabor
Também transforma quem o sente.
Abrir meu coração não é fraqueza,
É coragem vestida de ternura.
É dizer ao tempo:
“Pode passar,
Eu não tenho mais medo de sentir.”
E se um dia esse amor me atravessar,
Que seja assim:
Sem alarde,
Sem defesas,
Como quem permite que a luz
Entre pela fresta
E fique o tempo que precisar.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense