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Mensagem de Natal

 
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Um frio brilhante e luminoso bate na minha janela tingindo tudo dum laranja quente e criativo. Olhando a árvore de Natal, prova dum lar com crianças, consigo por momentos rever uma figura de Cristo no que me rodeia. O Amor e pouco mais.
Á medida que vou acordando para todos os detalhes, outra realidade bem diferente daquela que crio na minha mente toma forma. Um Natal bem mais escuro e hipócrita.
Felizmente Jesus comemora o seu nascimento noutro dia.
Longe desta furia consumista, partilhando tudo com os que ama.
Se tivesse realmente vindo apenas para expiar os nosso pecados quão triste estaria ele agora ao ver de que valeu o sacrificio.
Amedrontados pelo passado e futuro agarramo-nos a coisas perenes e acabamos com mãos cheias de nadas. Uma mensagem que é de despojamento, de austeridade tornou-se num gigante bezerro de oiro.
Um nascimento em palhas teve que ser doirado com prendas preciosas vindas de três estranhos montados em animais de bossa e pouca sede e todos nos sentimos mais confortáveis.

Celebra o pai natal fazendo as tuas prendas e dando descanso ao pobre homem.
Larga essa carteira recheada dos pecados deste mundo.
Ama quem não te ama pois amar quem nos ama não é feito de monta.
Respira o ar puro e recebe a Luz que é de todos nós e prepara-te para morrer por aquilo que És!
Olha á tua volta e entende que a vida está nas pequenas coisas que te rodeiam.
O Futuro, o passado, a carreira, a doença, o dinheiro ou falta dele, os filhos, os pais, os bens, as ideias, as morais, a ciência, o progresso,os sonhos, os receios, as duvidas e certezas. Nada disto é tão real como o estalar sempre diferente duma baga de romã entre os meus dentes.E as palavras nunca poderão realmente descrever a realidade de que escrevo. Só alguém que também já o fez pode percepcionar aquilo de que falo.
A natalidade deixou de ser uma benção e pode ser considerada uma praga.
O Natal deveria ser apenas um começo e há muito se tornou um fim em si mesmo.
No calor dum fogo e aconchego das pessoas amadas era a altura certa para reflectir sobre os trabalhos e angústias do ano a terminar. Numa suave calma e quase apatia este é o tempo em que enfrentamos quem somos e fazemos planos para nos tornarmos alguém melhor. Plantamos sementes no nosso próprio coração na esperança de futuros frutos e bebemos vinhos doces ansiando por aromas novos. Partilhamos tudo o que somos e o que queremos ser com aqueles que amamos na certeza de que eles vão ser indispensáveis á concretização do nosso futuro.
O Natal que era um tempo dificil, de incerteza, de esperança em algo melhor que o próprio momento transformou-se numa época em que se celebra a Vida como se não houvesse amanhã. Os excessos são de bradar aos infernos.
Uma amálgama de costumes, tradições, hábitos são utilizados pela máquina capitalista para produzir um Natal totalmente artificial mas onde tudo tem um preço.
As prendas, os mimos, as boas acções, as tréguas natalicias, o perú assado ou o bacalhau com todos, os milagres, tudo se compra, vende, troca nestes dias em que queremos o melhor para todos e por que não também para nós.
Por não ser diferente deixo os meus votos de Natal a todos os que me possam ler e se alguém conhecer o Pai do dito façam-no ler estas linhas e digam-lhe que troco todas as minhas prendas, passadas e futuras por um mundo onde fosse Natal todos os dias.
Um mundo sem guerras, doenças, exércitos, políticos, advogados, companhias de seguros, atentados diários ao meio-ambiente, atentados diários aos direitos humanos, banqueiros, religiões, ódios, invejas, culpas, moedas, escravos, mentiras, manipulações ou meias-verdades.
Um mundo onde conseguimos parados entender o nosso lugar nesta bela aventura que é a Vida. Nunca as coisas foram tão belas e apaixonantemente terríveis, o Natal continua á nossa espera mas enquanto continuarmos demasiado ocupados com a realidade que criámos podemos deixar escapar aquela por que ansiamos.
Não sei porquê mas o Natal deixa-me a pensar se não andaremos mais preocupados com aquilo que queremos do que com aquilo que já temos...
Já agora Feliz Natal a todos!


A necessidade estará em escrever ou em ser lido?
Somos o que somos ou somos o queremos ser?
Será a contemplação inimiga da acção?
Estas e outras, muitas, dúvidas me levam a escrever na ânsia de me conhecer melhor e talvez conhecer outros.

 
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Paulolx
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