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Minha Mãe

 
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Minha Mãe

Escolhi de propósito o mês de Março
Para homenagear a figura de minha mãe…
A “Amélinha das Eiras”,
Nome por que era mais conhecida na terra .
Foi em Março de 1939 que me deu à luz,
Já lá vão 72 anos…

Foi muito conhecida na freguesia e nas redondezas
Por ser detentora da arte de capar frangos
Em pequeno fui o ajudante dela…
Mas o destino quis que eu dela me apartasse

Quando fiz 12 anos, aproveitei uma oferta
Da Fidalga de Soutelo, que depois de me ver
Com a quarta classe feita, se prontificava
A custear a continuação dos meus estudos
Se eu aceitasse ir para o seminário
E depois me ordenasse padre.

Não tinha muitas alternativas naqueles tempos,
Por isso, escolher entre ser padre
Ou ajudar nas tarefas da lavoura…nao hesitei:

Fui para o Seminário com doze anos e saí com 19.
Depois veio o serviço militar…
Em 1961 começavam as guerras do
Ultramar e lá fui eu para Angola
Sem que me permitissem ir à terra
Despedir-me da família…

Por lá fiquei cerca de 15 anos

Quando voltei em l976
Abracei e beijei
Meu pai e minha mãe
Como nunca tinha feito antes.
Ficamos os três para ali chorando
E quando olhei á minha volta…
Havia muito mais gente a chorar:
Meus irmãos e cunhadas…
Depois a minha imã Augusta.

Foi um dia pleno de alegrias
De lágrimas beijos e abraços
Como eu nunca imaginara antes.
… … … …

O tempo… foi decorrendo implacável
Meu pai… foi o primeiro a partir.

Minha mãe entrou numa espécie de letargia
E foi perdendo suas faculdades pouco a pouco…
Conta a Augusta, minha irmã que com ela esteve até ao fim
Que a Mãe só perguntava pelo José
Queria ver o José….e o José era eu…
Um dia fui ter com ela
(Eu vivia em Lisboa),
Quando cheguei
Fiquei á porta olhando-a com
Carinho, esperando que me reconhecesse.

Foi então que a Augusta lhe disse:
“-Então mãe? Sabe quem é este senhor?
Ela disse que sabia… que eu era o senhor Doutor
(O médico que a costumava assistir)

Minha irmã explicou:
- Este é o José!
- Anda sempre a perguntar por ele!
- E ele aqui está!.

Ela então respondeu:

“- Esse não pode ser o José!
- O José é pequenino
- E esse senhor é grande!...”

O tempo e a memória dela
Tinham parado no menino
Que ajudava a capar frangos…


José Mota

 
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PoetaSenior
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 02/03/2009 21:14  Atualizado: 02/03/2009 21:14
 Re: Minha Mãe
Olá poeta e amigo mui querido..
fiquei muito emocionada ao visitar sua página e ver essa linda homenagem que fizeste á vossa mãe.
Hoje em dia sabemos que muita coisa mudou,muitos filhos não honram seus pais,não respeitam,não dão o devido valor a estas pessoas tão especiais em nossas vidas.
Aplaudo de pé tão linda homenagem.

bjus




Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 02/03/2009 22:33  Atualizado: 02/03/2009 22:33
 Re: Minha Mãe
"- Este é o José!
- Anda sempre a perguntar por ele!
- E ele aqui está!."


querendo ou não é de se ficar com o nó na garganta, a voz embargada e congelando o olhar para que a lágrima não caia.

daqui uma emoção, por reconhecer neste trecho do seu poema, a minha mãe, com 85 anos , ainda lúcida.

obrigado Xará, por esse momento, e parabéns pela linda homenagem.

meu abraço fraterno poeta.
Silveira


Enviado por Tópico
Hisalena
Publicado: 03/03/2009 22:23  Atualizado: 03/03/2009 22:23
Membro de honra
Usuário desde: 30/09/2007
Localidade: Leiria
Mensagens: 734
 Re: Minha Mãe
Um doce, terno, saudoso e comovente poema. É dificil ficar indiferente a uma tão rica história de vida, a uma tão grande experiência de vida e sobretudo a uma homenagem tão querida a uma pessoa tão especial´.
Muito bonito.