Poemas : 

Façam por não Verem Mais

 
MOTE

Vós, ó mães idolatradas,
Façam por não verem mais
Crianças abandonadas,
Tísicas — nos hospitais.

GLOSAS

Sim, vós, ó mães carinhosas,
Criai as vossas filhinhas,
Educai-as de criancinhas,
Mas não em leis religiosas,
Que essas leis são perigosas,
E p'los homens inventadas.
Não sigam, pois, enganadas
Pelos padres sem consciência,
E amem o deus-Providência,
Vós, ó mães idolatradas!...

Se quereis ver a religião,
Já noutro tempo atrasado,
Leiam um livro chamado
«Mistérios da Inquisição»...
Lendo aí, compreenderão
Como as pessoas reais
Mandaram fuzilar pais
E mães sem fazerem mal.
Padres e gente real,
Façam por não verem mais.

E quando se saiba amar
Como irmãos, em toda a terra,
Bombas, revoluções e guerra
Para sempre hão-de acabar;
Nem mais se hão-de encontrar
Mulheres «matriculadas» —
Infelizes que, desonradas,
Ali procuram a morte,
Deixando, aos vaivéns da sorte,
Crianças abandonadas.

Hão-de acabar os ladrões,
Os patifes, os mariolas —
Quando se fizerem escolas
Das igrejas e prisões.
Hão-de acabar os patrões,
Que são prejudiciais —
Comprando bons enxovais
P'ràs suas filhas — enquanto
As dos pobres vertem pranto,
Tísicas — nos hospitais.

António Aleixo in "Este Livro que Vos Deixo"


António Fernandes Aleixo
( 18/02/1899 — 16/11/1949)
Autores Clássicos no Luso-Poemas

 
Autor
António Aleixo
 
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Enviado por Tópico
cleo
Publicado: 21/04/2009 10:02  Atualizado: 21/04/2009 10:02
Usuário desde: 02/03/2007
Localidade: Queluz
Mensagens: 3731
 Re: Façam por não Verem Mais
Um poema para ler e reler e acima de tudo, para reflectir!
Tanta verdade em singelos versos...

Gostei muito, mesmo!