Nesta natureza 
Escamoteada de barulhos 
Entro nas palavras 
Que te leio 
Nas vagas de sentir 
Que me enfermam 
Não sou horizonte 
Sou fímbria de cortina 
Clássica e inteira 
Reposteiro de amores 
Paixões adiadas 
Sou sussurro ligeiro 
Nos dias de Maio 
Quentes mas nublados 
Mas não sou nenúfar 
Que a água é leve 
E afundava-me 
Na incerteza dos sentidos 
Decifro-te e invento-te 
Menina de azul 
Sentada no mar de mim 
À espreita de ti 
Naufragada em mim 
Na palavra que dedilho 
Nas névoas que tingem 
O azul do mar 
Em auras de mistério 
Abarco teu amor 
Escondido na sombra 
E tenho medo do lume 
Que brota devagar 
Na tua face pintada 
Na erecção dos cactos 
Buscando a água 
Que do céu não vem 
Sou salgado no beijo 
Que deixas para mim 
Na ausência de um rosto 
E humedeço-me 
Quando te dispo 
Na loucura que vem 
Vestindo-te no quente 
De um abraço definitivo 
Rubra de mim 
Na papoila que cresce 
Transparente e só 
Sou o teu segredo 
Na alma e no ser 
Que de mansinho vens 
Sorridente como o pincel 
Que das algas fez tinta 
Para pintar a alma 
Do poeta que se excedeu 
Na solidão