Estimula-me. Dá-me um choque dessa tua arte, deixa-me absorver-te em toda a tua criatividade. Pincelada a pincelada, pintas-me. Eu envolvo-me em ti, e nos baldes de tinta que te deixo despejar em cima de mim, substituindo os tons de preto e branco, sou a tua tela, espero que me dês cor e vida. Começas a pintar-me, suavemente, primeiro vêm os tons mais claros, os pastéis, e depois os mais fortes, aplicados com serenidade, e na devida medida. Sabes o que queres atingir à partida, ainda assim sou um quadro um pouco surrealista e enigmático, no qual manifestas os sentimentos que te envolvem a alma, deixando um pouco de ti em mim. Não me queres forçar, nem sufocar com tinta em excesso, és um autêntico pintor, adquiriste as noções das minhas capacidades de absorção, enquanto tela que sou. Sou a tua obra-prima, por mais defeituosa que seja, conservas um afecto por mim, e fazes de tudo para me pintar o melhor possível, embora sejas humano, e te esteja negado atingir a perfeição. Quero ser a obra de uma vida, aquela que nunca acabas de pintar, pois é te tão estimada, e que se um dia eventualmente a concluíres, e gastares toda a tua imaginação para uma nova pincelada, ficará por tempo ilimitado, visível numa parede da tua casa, sempre no mesmo lugar, e quando a contemplares, vais reconhecer todas as pinceladas concebidas por ti e cada significado oculto, conteúdos esses que ficam entre nós, eu tela e tu pintor.
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