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Crisálida

 
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A cidade acorda nublada, corpos movem-se nas sombras do fumo. Tudo passa impessoal, nada importa, o que interessa é o trajecto rápido e certeiro. Ninguém se cumprimenta, os autocarros, o metro, o cacilheiro, cruzam sempre na rotina, escondidos na neblina. Taxistas lêem enquanto esperam clientes, estudam temas de conversa circunstancial, a bola, as gajas, as noites de copos, a gripe das aves ou dos porcos, enquanto isso a crise instala-se e ninguém faz nada. As conversas são as mesmas e o País, está parado no marasmo, o mais interessante que poderá ocorrer são espasmos, provocados pela tosse dos cigarros e dos excessos da bebida de ontem. Empresas encerram descapitalizadas pelos donos que se passeiam em luxuosos carros pagos pela comunidade Europeia, as suas amantes perfumadas, bem montadas, passam o dia no cabeleireiro e continuam lá as conversas vazias, carregadas de uma futilidade embaraçosamente estúpida. É o comodismo instalado, o baixar os braços permanente, sempre a condenar o governo dos fracassos que no fundo são culturalmente nossos, frutos de uma aquisição recente. Nem sempre fomos assim, crise era noutros tempos que o meu avô me contou de uma sardinha para quatro e de um pão para sei lá quantos. Nessa altura, embora numa sociedade censurada havia muitos filhos, tradição, conversas preocupadas e cheias de esperança onde nunca ninguém falava em baixar os braços ou viver à custa do estado, as pessoas não viviam obcecadas pelo materialismo de mostrar ao vizinho. Viviam genuinamente, é por isso que cada vez gosto mais do campo, a espontaneidade sincera do povo simples conservam mais tempo os sentimentos puros que acordam todos os dias com o orvalho da manhã e se sujam na mistura da neblina poluída do dia.

 
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Deepmoon
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