Prosas Poéticas : 

A Casa Vestia-se De Roupas

 
a casa vestia-se de roupas com cores estridentes. nas pernas usava umas calças repletas de fotografias carregadas de paisagens e pessoas de passagem. sobre o tronco, panos indefinidos pregados na parede assombrados por cada sonho e na cabeça, um telhado já velho, um chapéu calejado pelo trabalho do tempo.
enquanto ainda não é noite, vou aproveitar cada película do dia para não ser eu, descansar e ganhar forças: para não ser eu. vivo noites mais longas que os dias, morro mais na claridade e no movimento. a solidão e todo um cenário escuro são os ingredientes certos para me cozinhar, para ferver e explodir fechado na casa como uma panela.
o futuro desenha incapacidade na pele, aprisiona e tortura-me a alma com o medo. o medo sempre presente como um deus. o medo. o silêncio do eu para mim.

aquilo que vos falo
é o disfarce do silêncio,
a defesa para que nunca acabe,
a mentira do «está tudo bem».
o silêncio interior
a defender-se com uma capa
colorida de socialização.

Hugo Sousa

 
Autor
HugoSousa
Autor
 
Texto
Data
Leituras
714
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
1 pontos
1
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
JSL
Publicado: 10/06/2007 04:19  Atualizado: 10/06/2007 04:19
Membro de honra
Usuário desde: 10/05/2007
Localidade: Minho
Mensagens: 681
 Re: A Casa Vestia-se De Roupas
Numa ode à contradição
O poeta lá diz que sim
O filósofo lá diz que não
E eu digo que é assim.