Fernando Pessoa : Intervalo
em 28/09/2011 21:40:12 (2728 leituras)
Fernando Pessoa



Quem te disse ao ouvido esse segredo
Que raras deusas têm escutado -
Aquele amor cheio de crença e medo
Que é verdadeiro só se é segredado?...
Quem te disse tão cedo?

Não fui eu, que te não ousei dizê-lo.
Não foi um outro, porque não sabia.
Mas quem roçou da testa teu cabelo
E te disse ao ouvido o que sentia?
Seria alguém, seria?

Ou foi só que o sonhaste e eu te o sonhei?
Foi só qualquer ciúme meu de ti
Que o supôs dito, porque o não direi,
Que o supôs feito, porque o só fingi
Em sonhos que nem sei?

Seja o que for, quem foi que levemente,
A teu ouvido vagamente atento,
Te falou desse amor em mim presente
Mas que não passa do meu pensamento
Que anseia e que não sente?

Foi um desejo que, sem corpo ou boca,
A teus ouvidos de eu sonhar-te disse
A frase eterna, imerecida e louca -
A que as deusas esperam da ledice
Com que o Olimpo se apouca.


Imprimir este poema Enviar este poema a um amigo Salvar este poema como PDF
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
JBMendes
Publicado: 28/09/2011 22:03  Atualizado: 28/09/2011 22:03
Autores Clássicos
Usuário desde: 13/02/2010
Localidade:
Mensagens: 5222
 Re: Intervalo

Enviado por Tópico
Doriana
Publicado: 08/10/2011 03:23  Atualizado: 08/10/2011 03:23
Da casa!
Usuário desde: 05/01/2008
Localidade: Rio de Janeiro
Mensagens: 350
 Re: Intervalo
Quando nos falta coragem, recorremos à fictícia realidade dos sonhos

Links patrocinados

Visite também...