Ferreira Gullar : Poema Sujo (Trecho)
em 17/03/2023 12:14:53 (285 leituras)
Ferreira Gullar

Poema sujo (trecho)

turvo turvo
a turva
mão do sopro
contra o muro
escuro
menos menos
menos que escuro
menos que mole e duro
menos que fosso e muro:
menos que furo
escuro
mais que escuro:
claro
como água? como pluma?
claro mais que claro claro:
coisa alguma
e tudo
(ou quase)
um bicho
que o universo fabrica
e vem sonhando
desde as entranhas
azul
era o gato
azul
era o galo
azul
o cavalo
azul
teu cu
tua gengiva
igual a tua bocetinha
que parecia sorrir entre
as folhas de banana
entre os cheiros de flor
e bosta de porco aberta como
uma boca do corpo
(não como a tua boca de palavras)
como uma
entrada para
eu não sabia tu
não sabias
fazer girar a vida
com seu montão
de estrelas e oceano
entrando-nos em ti
bela bela
mais que bela
mas como era o nome dela?
Não era Helena nem Vera
nem Nara nem Gabriela
nem Tereza nem Maria
Seu nome seu nome era…
Perdeu-se na carne fria
perdeu na confusão
de tanta noite e tanto dia


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