Reverência ao Destino |
em 29/11/2007 20:50:00 (27467 leituras) |
Falar é completamente fácil, quando se tem palavras em mente que expressem sua opinião. Difícil é expressar por gestos e atitudes o que realmente queremos dizer, o quanto queremos dizer, antes que a pessoa se vá.
Fácil é julgar pessoas que estão sendo expostas pelas circunstâncias. Difícil é encontrar e refletir sobre os seus erros, ou tentar fazer diferente algo que já fez muito errado.
Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém, dizer o que ele deseja ouvir. Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso. E com confiança no que diz.
Fácil é analisar a situação alheia e poder aconselhar sobre esta situação. Difícil é vivenciar esta situação e saber o que fazer ou ter coragem pra fazer.
Fácil é demonstrar raiva e impaciência quando algo o deixa irritado. Difícil é expressar o seu amor a alguém que realmente te conhece, te respeita e te entende. E é assim que perdemos pessoas especiais.
Fácil é mentir aos quatro ventos o que tentamos camuflar. Difícil é mentir para o nosso coração.
Fácil é ver o que queremos enxergar. Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos ter visto. Admitir que nos deixamos levar, mais uma vez, isso é difícil.
Fácil é dizer "oi" ou "como vai?" Difícil é dizer "adeus", principalmente quando somos culpados pela partida de alguém de nossas vidas...
Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados. Difícil é sentir a energia que é transmitida. Aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa.
Fácil é querer ser amado. Difícil é amar completamente só. Amar de verdade, sem ter medo de viver, sem ter medo do depois. Amar e se entregar, e aprender a dar valor somente a quem te ama.
Fácil é ouvir a música que toca. Difícil é ouvir a sua consciência, acenando o tempo todo, mostrando nossas escolhas erradas.
Fácil é ditar regras. Difícil é seguí-las. Ter a noção exata de nossas próprias vidas, ao invés de ter noção das vidas dos outros.
Fácil é perguntar o que deseja saber. Difícil é estar preparado para escutar esta resposta ou querer entender a resposta.
Fácil é chorar ou sorrir quando der vontade. Difícil é sorrir com vontade de chorar ou chorar de rir, de alegria.
Fácil é dar um beijo. Difícil é entregar a alma, sinceramente, por inteiro.
Fácil é sair com várias pessoas ao longo da vida. Difícil é entender que pouquíssimas delas vão te aceitar como você é e te fazer feliz por inteiro.
Fácil é ocupar um lugar na caderneta telefônica. Difícil é ocupar o coração de alguém, saber que se é realmente amado.
Fácil é sonhar todas as noites. Difícil é lutar por um sonho.
Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata.
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Gaivota |
em 22/11/2007 19:30:00 (23227 leituras) |
Se uma gaivota viesse trazer-me o céu de Lisboa no desenho que fizesse, nesse céu onde o olhar é uma asa que não voa, esmorece e cai no mar.
Que perfeito coração no meu peito bateria, meu amor na tua mão, nessa mão onde cabia perfeito o meu coração.
Se um português marinheiro, dos sete mares andarilho, fosse quem sabe o primeiro a contar-me o que inventasse, se um olhar de novo brilho no meu olhar se enlaçasse.
Que perfeito coração no meu peito bateria, meu amor na tua mão, nessa mão onde cabia perfeito o meu coração.
Se ao dizer adeus à vida as aves todas do céu, me dessem na despedida o teu olhar derradeiro, esse olhar que era só teu, amor que foste o primeiro.
Que perfeito coração morreria no meu peito morreria, meu amor na tua mão, nessa mão onde perfeito bateu o meu coração.
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Canção amiga |
em 19/11/2007 17:40:00 (6541 leituras) |
Eu preparo uma canção em que minha mãe se reconheça, todas as mães se reconheçam, e que fale como dois olhos.
Caminho por uma rua que passa em muitos países. Se não se vêem, eu vejo e saúdo velhos amigos.
Eu distribuo um segredo como quem anda ou sorri. No jeito mais natural dois carinhos se procuram.
Minha vida, nossas vidas formam um só diamante. Aprendi novas palavras e tornei outras mais belas.
Eu preparo uma canção que faça acordar os homens e adormecer as crianças.
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Do desejo |
em 17/11/2007 19:20:00 (4758 leituras) |
I
Porque há desejo em mim, é tudo cintilância. Antes, o cotidiano era um pensar alturas Buscando Aquele Outro decantado Surdo à minha humana ladradura. Visgo e suor, pois nunca se faziam. Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo Tomas-me o corpo. E que descanso me dás Depois das lidas. Sonhei penhascos Quando havia o jardim aqui ao lado. Pensei subidas onde não havia rastros. Extasiada, fodo contigo Ao invés de ganir diante do Nada.
IV
Se eu disser que vi um pássaro Sobre o teu sexo, deverias crer? E se não for verdade, em nada mudará o Universo. Se eu disser que o desejo é Eternidade Porque o instante arde interminável Deverias crer? E se não for verdade Tantos o disseram que talvez possa ser. No desejo nos vêm sofomanias, adornos Impudência, pejo. E agora digo que há um pássaro Voando sobre o Tejo. Por que não posso Pontilhar de inocência e poesia Ossos, sangue, carne, o agora E tudo isso em nós que se fará disforme?
V
Existe a noite, e existe o breu. Noite é o velado coração de Deus Esse que por pudor não mais procuro. Breu é quando tu te afastas ou dizes Que viajas, e um sol de gelo Petrifica-me a cara e desobriga-me De fidelidade e de conjura. O desejo Este da carne, a mim não me faz medo. Assim como me veio, também não me avassala. Sabes por quê? Lutei com Aquele. E dele também não fui lacaia.
Os versos acima foram publicados no livro "Do desejo", Editora Pontes - Campinas (SP), 1992, e foram extraídos do livro "Os cem melhores poemas brasileiros do século", editora Objetiva — Rio de Janeiro, 2001, pág. 289, uma seleção de Ítalo Moriconi.
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Encarecendo.... |
em 08/11/2007 22:20:00 (3146 leituras) |
...a dificuldade de conciliar em Goa a amizade de seus naturais
Quer ver uma perdiz chocar um rato, Quer ensinar a um burro anatomia, Exterminar de Goa a senhoria, Ouvir miar um cão, ladrar um gato:
Quer ir pescar um tubarão no mato Namorar nos serralhos da Turquia, Escaldar uma perna em água fria Ver uma cobra castiçar com um pato:
Quer ir num dia de Surrate a Roma, Lograr saúde sem comer dois anos, Salvar-se por milagre de Mafoma:
Quer despir a bazófia aos castelhanos, Das penas infernais fazer a soma, Quem procura amizade em vis gafanos.
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Simplicidade, Felicidade |
em 28/10/2007 11:59:57 (18298 leituras) |
Simplicidade...Felicidade... Ser como as rosas, o céu sem fim, a árvore, o rio...Por que não há de ser toda gente também assim?
Ser como as rosas: bocas vermelhas que não disseram nunca a ninguém que têm perfumes...Mas as abelhas E os homens sabem o que elas têm!
Ser como o espaço que é azul de longe, de perto é nada...Mas quem vê - árvores, aves, olhos de monge... – busca-o sem mesmo saber por quê.
Ser como o rio cheio de graça, que move o moinho, dá vida ao lar, fecunda as terras...E, rindo, passa, despretensioso, sempre a cantar,
Ou ser como a árvore: aos lavradores Dá lenha e fruto, dá sombra e paz; Dá ninho às aves; ao inseto flores... Mas nada sabe do bem que faz.
Felicidade – sonho sombrio! Feliz é o simples que sabe ser Como o ar, as rosas, a árvore, o rio: Simples, mas simples sem o saber!
(Guilherme de Almeida) |
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Andorinha |
em 19/10/2007 18:00:00 (31304 leituras) |
Andorinha
Andorinha lá fora está dizendo: — "Passei o dia à toa, à toa!"
Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste! Passei a vida à toa, à toa . . . Manuel Badeira
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Saudade |
em 12/10/2007 18:20:00 (29921 leituras) |
Saudade é solidão acompanhada, é quando o amor ainda não foi embora, mas a amada já... Saudade é amar um passado que ainda não passou, é recusar um presente que nos machuca, é não ver o futuro que nos convida... Saudade é sentir que existe o que não existe mais... Saudade é o inferno dos que perderam, é a dor dos que ficaram para trás, é o gosto de morte na boca dos que continuam... Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade: aquela que nunca amou. E esse é o maior dos sofrimentos: não ter por quem sentir saudade, passar pela vida e não viver. O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.
(Pablo Neruda)
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Canção Para Uma Valsa Lenta |
em 12/10/2007 18:10:00 (15877 leituras) |
Minha vida não foi um romance... Nunca tive até hoje um segredo. Se me amas, não digas, que morro De surpresa... de encanto... de medo...
Minha vida não foi um romance Minha vida passou por passar Se não amas, não finjas, que vivo Esperando um amor para amar.
Minha vida não foi um romance... Pobre vida... passou sem enredo... Glória a ti que me enches a vida De surpresa, de encanto, de medo!
Minha vida não foi um romance... Ai de mim... Já se ia acabar! Pobre vida que toda depende De um sorriso... de um gesto... um olhar...
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A Borboleta |
em 06/10/2007 20:40:00 (9520 leituras) |
Trazendo uma borboleta, Volta Alfredo para casa. Como é linda! é toda preta, Com listas douradas na asa.
Tonta, nas mãos da criança, Batendo as asas, num susto, Quer fuguir, porfia, cansa, E treme, e respira a custo.
Contente, o menino grita: "É a primeira que apanho, "Mamãe! vê como é bonita! "Que cores e que tamanho!
"Como voava no mato! "Vou sem demora pregá-la "Por baixo do meu retrato, "Numa parede da sala".
Mas a mamãe, com carinho, Lhe diz: "Que mal te fazia, "Meu filho, esse animalzinho, "Que livre e alegre vivia?
"Solta essa pobre coitada! "Larga-lhe as asas, Alfredo! "Vê com treme assustada . . . "Vê como treme de medo . . .
"Para sem pena espetá-la "Numa parede, menino, "É necessário matá-la: "Queres ser um assassino?"
Pensa Alfredo . . . E, de repente, Solta a borboleta . . . E ela Abre as asas livremente, E foge pela janela.
"Assim, meu filho! perdeste "A borboleta dourada, "Porém na estima cresceste "De tua mãe adorada . . .
"Que cada um cumpra sua sorte "Das mãos de Deus recebida: "Pois só pode dar a Morte "Aquele que dá a Vida!"
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O Universo (Paráfrase) |
em 06/10/2007 20:40:00 (14829 leituras) |
A Lua:
Sou um pequeno mundo; Movo-me, rolo e danço Por este céu profundo; Por sorte Deus me deu Mover-me sem descanso, Em torno de outro mundo, Que inda é maior do que eu.
A Terra:
Eu sou esse outro mundo; A lua me acompanha, Por este céu profundo . . . Mas é destino meu Rolar, assim tamanha, Em torno de outro mundo, Que inda é maior do que eu.
O Sol:
Eu sou esse outro mundo, Eu sou o sol ardente! Dou luz ao céu profundo . . . Porém, sou um pigmeu, Quer rolo eternamente Em torno de outro mundo, Que inda é maior do que eu.
O Homem:
Por que, no céu profundo, Não há-de parar mais O vosso movimento? Astros! qual é o mundo, Em torno ao qual rodais Por esse firmamento?
Todos os Astros:
Não chega o teu estudo Ao centro disso tudo, Que escapa aos olhos teus! O centro disso tudo, Homem vaidoso, é Deus!
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A um poeta |
em 06/10/2007 20:40:00 (32474 leituras) |
Longe do estéril turbilhão da rua, Beneditino escreve! No aconchego Do claustro, na paciência e no sossego, Trabalha e teima, e lima , e sofre, e sua!
Mas que na forma se disfarce o emprego Do esforço: e trama viva se construa De tal modo, que a imagem fique nua Rica mas sóbria, como um templo grego
Não se mostre na fábrica o suplicio Do mestre. E natural, o efeito agrade Sem lembrar os andaimes do edifício:
Porque a Beleza, gêmea da Verdade Arte pura, inimiga do artifício, É a força e a graça na simplicidade.
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Versos Íntimos |
em 06/10/2007 20:40:00 (11907 leituras) |
Vês?! Ninguém assistiu ao formidável Enterro de tua última quimera. Somente a Ingratidão — esta pantera — Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera! O Homem, que, nesta terra miserável, Mora, entre feras, sente inevitável Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro, A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga, Apedreja essa mão vil que te afaga, Escarra nessa boca que te beija!
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Ceticismo |
em 06/10/2007 20:40:00 (7656 leituras) |
Desci um dia ao tenebroso abismo, Onde a dúvida ergueu altar profano; Cansado de lutar no mundo insano, Fraco que sou, volvi ao ceticismo.
Da Igreja - a Grande Mãe - o exorcismo Terrível me feriu, e então sereno, De joelhos aos pés do Nazareno Baixo rezei, em fundo misticismo:
- Oh! Deus, eu creio em ti, mas me perdoa! Se esta dúvida cruel qual me magoa Me torna ínfimo, desgraçado réu. Ah, entre o medo que o meu Ser aterra, Não sei se viva p’ra morrer na terra, Não sei se morra p’ra viver no Céu!
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O deus-verme |
em 06/10/2007 20:40:00 (22611 leituras) |
Factor universal do transformismo. Filho da teleológica matéria, Na superabundância ou na miséria, Verme — é o seu nome obscuro de batismo.
Jamais emprega o acérrimo exorcismo Em sua diária ocupação funérea, E vive em contubérnio com a bactéria, Livre das roupas do antropomorfismo.
Almoça a podridão das drupas agras, Janta hidrópicos, rói vísceras magras E dos defuntos novos incha a mão...
Ah! Para ele é que a carne podre fica, E no inventário da matéria rica Cabe aos seus filhos a maior porção!
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Meus oito anos |
em 06/10/2007 20:40:00 (57290 leituras) |
Oh! que saudades que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais! Que amor, que sonhos, que flores, Naquelas tardes fagueiras À sombra das bananeiras, Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias Do despontar da existência! — Respira a alma inocência Como perfumes a flor; O mar é — lago sereno, O céu — um manto azulado, O mundo — um sonho dourado, A vida — um hino d'amor!
Que aurora, que sol, que vida, Que noites de melodia Naquela doce alegria, Naquele ingênuo folgar! O céu bordado d'estrelas, A terra de aromas cheia As ondas beijando a areia E a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância! Oh! meu céu de primavera! Que doce a vida não era Nessa risonha manhã! Em vez das mágoas de agora, Eu tinha nessas delícias De minha mãe as carícias E beijos de minhã irmã!
Livre filho das montanhas, Eu ia bem satisfeito, Da camisa aberta o peito, — Pés descalços, braços nus — Correndo pelas campinas A roda das cachoeiras, Atrás das asas ligeiras Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos Ia colher as pitangas, Trepava a tirar as mangas, Brincava à beira do mar; Rezava às Ave-Marias, Achava o céu sempre lindo. Adormecia sorrindo E despertava a cantar!
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Oh! que saudades que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais! — Que amor, que sonhos, que flores, Naquelas tardes fagueiras A sombra das bananeiras Debaixo dos laranjais!
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A valsa |
em 06/10/2007 20:40:00 (50691 leituras) |
Tu, ontem, Na dança Que cansa, Voavas Co'as faces Em rosas Formosas De vivo, Lascivo Carmim; Na valsa Tão falsa, Corrias, Fugias, Ardente, Contente, Tranqüila, Serena, Sem pena De mim!
Quem dera Que sintas As dores De amores Que louco Senti! Quem dera Que sintas!... — Não negues, Não mintas... — Eu vi!...
Valsavas: — Teus belos Cabelos, Já soltos, Revoltos, Saltavam, Voavam, Brincavam No colo Que é meu; E os olhos Escuros Tão puros, Os olhos Perjuros Volvias, Tremias, Sorrias, P'ra outro Não eu!
Quem dera Que sintas As dores De amores Que louco Senti! Quem dera Que sintas!... — Não negues, Não mintas... — Eu vi!...
Meu Deus! Eras bela Donzela, Valsando, Sorrindo, Fugindo, Qual silfo Risonho Que em sonho Nos vem! Mas esse Sorriso Tão liso Que tinhas Nos lábios De rosa, Formosa, Tu davas, Mandavas A quem ?!
Quem dera Que sintas As dores De arnores Que louco Senti! Quem dera Que sintas!... — Não negues, Não mintas,.. — Eu vi!...
Calado, Sózinho, Mesquinho, Em zelos Ardendo, Eu vi-te Correndo Tão falsa Na valsa Veloz! Eu triste Vi tudo!
Mas mudo Não tive Nas galas Das salas, Nem falas, Nem cantos, Nem prantos, Nem voz!
Quem dera Que sintas As dores De amores Que louco Senti!
Quem dera Que sintas!... — Não negues Não mintas... — Eu vi!
Na valsa Cansaste; Ficaste Prostrada, Turbada! Pensavas, Cismavas, E estavas Tão pálida Então; Qual pálida Rosa Mimosa No vale Do vento Cruento Batida, Caída Sem vida. No chão!
Quem dera Que sintas As dores De amores Que louco Senti! Quem dera Que sintas!... — Não negues, Não mintas... Eu vi!
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Infância |
em 06/10/2007 20:31:13 (9905 leituras) |
Um gosto de amora comida com sol. A vida chamava-se "Agora". |
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Nós |
em 06/10/2007 20:29:37 (18831 leituras) |
Fico - deixas-me velho. Moça e bela, partes. Estes gerânios encarnados, que na janela vivem debruçados, vão morrer debruçados na janela.
E o piano, o teu canário tagarela, a lâmpada, o divã, os cortinados: - "Que é feito dela?" - indagarão - coitados! E os amigos dirão: - "Que é feito dela?"
Parte! E se, olhando atrás, da extrema curva da estrada, vires, esbatida e turva, tremer a alvura dos cabelos meus;
irás pensando, pelo teu caminho, que essa pobre cabeça de velhinho é um lenço branco que te diz adeus! |
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Hora de ter saudade |
em 06/10/2007 20:25:21 (7185 leituras) |
Houve aquele tempo... (E agora, que a chuva chora, ouve aquele tempo!)
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O haicai |
em 06/10/2007 20:24:27 (3898 leituras) |
Lava, escorre, agita a areia. E enfim, na bateia, fica uma pepita.
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Fonógrafo |
em 06/10/2007 15:20:00 (5439 leituras) |
Vai declamando um cómico defunto. Uma plateia ri,perdidamente, Do bom jarreta...E há um odor no ambiente A cripta e o pó,- do anacrónico assunto.
Muda o registo,eis uma barcarola: Lírios,lírios,águas do rio,a lua. Ante o Seu corpo o sonho meu flutua Sobre um paul,- extática corola.
Muda outra vez os gorgeios,estribilhos Dum clarim de oiro - o cheiro dos junquilhos, Vívido e agro!- tocando a alvorada...
Cessou.E,amorosa,a alma das cornetas Quebra-se agora orvalhada e velada, Primavera. Manhã. Que eflúvio de violetas!
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Trova |
em 05/10/2007 17:30:00 (4371 leituras) |
Coração que bate-bate... Antes deixes de bater! Só num relógio é que as horas Vão passando sem sofrer.
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Fio |
em 05/10/2007 17:20:00 (7325 leituras) |
No fio da respiração, rola a minha vida monótona, rola o peso do meu coração.
Tu não vês o jogo perdendo-se como as palavras de uma canção.
Passas longe, entre nuvens rápidas, com tantas estrelas na mão...
— Para que serve o fio trêmulo em que rola o meu coração?
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Discurso |
em 05/10/2007 17:20:00 (7747 leituras) |
E aqui estou, cantando.
Um poeta é sempre irmão do vento e da água: deixa seu ritmo por onde passa.
Venho de longe e vou para longe: mas procurei pelo chão os sinais do meu caminho e não vi nada, porque as ervas cresceram e as serpentes andaram.
Também procurei no céu a indicação de uma trajetória, mas houve sempre muitas nuvens. E suicidaram-se os operários de Babel.
Pois aqui estou, cantando.
Se eu nem sei onde estou, como posso esperar que algum ouvido me escute?
Ah! Se eu nem sei quem sou, como posso esperar que venha alguém gostar de mim?
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Onde Estás? |
em 05/10/2007 16:20:58 (16581 leituras) |
É meia-noite... e rugindo Passa triste a ventania, Como um verbo de desgraça, Como um grito de agonia. E eu digo ao vento, que passa Por meus cabelos fugaz: "Vento frio do deserto, Onde ela está? Longe ou perto?" Mas, como um hálito incerto, Responde-me o eco ao longe: "Oh! minh'amante, onde estás?. . .
Vem! É tarde! Por que tardas? São horas de brando sono, Vem reclinar-te em meu peito Com teu lânguido abandono! ... 'Stá vazio nosso leito... 'Stá vazio o mundo inteiro; E tu não queres qu'eu fique Solitário nesta vida... Mas por que tardas, querida?... Já tenho esperado assaz... Vem depressa, que eu deliro Oh! minh'amante, onde estás? ...
Estrela — na tempestade, Rosa — nos ermos da vida; lris — do náufrago errante, Ilusão — d'alma descrida! Tu foste, mulher formosa! Tu foste, ó filha do céu! ... ... E hoje que o meu passado Para sempre morto jaz... Vendo finda a minha sorte, Pergunto aos ventos do Norte... "Oh! minh'amante, onde estás?..." |
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O Coração |
em 05/10/2007 12:56:36 (17892 leituras) |
O coração é o colibri dourado Das veigas puras do jardim do céu. Um — tem o mel da granadilha agreste, Bebe os perfumes, que a bonina deu.
O outro — voa em mais virentes balças, Pousa de um riso na rubente flor. Vive do mel — a que se chama — crenças —, Vive do aroma — que se diz — amor. — |
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Soneto de separação |
em 05/10/2007 12:40:00 (7441 leituras) |
De repente do riso fez-se o pranto Silencioso e branco como a bruma E das bocas unidas fez-se a espuma E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento Que dos olhos desfez a última chama E da paixão fez-se o pressentimento E do momento imóvel fez o drama.
De repente, não mais que de repente Fez-se de triste o que se fez amante E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo o distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, não mais que de repente.
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Bilhete |
em 05/10/2007 12:40:00 (7861 leituras) |
Se tu me amas, ama-me baixinho Não o grites de cima dos telhados Deixa em paz os passarinhos Deixa em paz a mim! Se me queres, enfim, tem de ser bem devagarinho, Amada, que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...
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O Laço de Fita |
em 05/10/2007 00:35:08 (51820 leituras) |
Não sabes, criança? 'Stou louco de amores... Prendi meus afetos, formosa Pepita. Mas onde? No templo, no espaço, nas névoas?! Não rias, prendi-me Num laço de fita.
Na selva sombria de tuas madeixas, Nos negros cabelos da moça bonita, Fingindo a serpente qu'enlaça a folhagem, Formoso enroscava-se O laço de fita.
Meu ser, que voava nas luzes da festa, Qual pássaro bravo, que os ares agita, Eu vi de repente cativo, submisso Rolar prisioneiro Num laço de fita.
E agora enleada na tênue cadeia Debalde minh'alma se embate, se irrita... O braço, que rompe cadeias de ferro, Não quebra teus elos, Ó laço de fita!
Meu Deusl As falenas têm asas de opala, Os astros se libram na plaga infinita. Os anjos repousam nas penas brilhantes... Mas tu... tens por asas Um laço de fita.
Há pouco voavas na célere valsa, Na valsa que anseia, que estua e palpita. Por que é que tremeste? Não eram meus lábios... Beijava-te apenas... Teu laço de fita.
Mas ai! findo o baile, despindo os adornos N'alcova onde a vela ciosa... crepita, Talvez da cadeia libertes as tranças Mas eu... fico preso No laço de fita.
Pois bem! Quando um dia na sombra do vale Abrirem-me a cova... formosa Pepital Ao menos arranca meus louros da fronte, E dá-me por c'roa... Teu laço de fita. |
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Conselho de um velho apaixonado |
em 29/11/2007 20:40:00 (79734 leituras) |
Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida.
Se os olhares se cruzarem e, neste momento, houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu.
Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem d'água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.
Se o 1º e o último pensamento do seu dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Algo do céu te mandou um presente divino : O AMOR.
Se um dia tiverem que pedir perdão um ao outro por algum motivo e, em troca, receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos e os gestos valerem mais que mil palavras, entregue-se: vocês foram feitos um para o outro.
Se por algum motivo você estiver triste, se a vida te deu uma rasteira e a outra pessoa sofrer o seu sofrimento, chorar as suas lágrimas e enxugá-las com ternura, que coisa maravilhosa: você poderá contar com ela em qualquer momento de sua vida.
Se você conseguir, em pensamento, sentir o cheiro da pessoa como se ela estivesse ali do seu lado...
Se você achar a pessoa maravilhosamente linda, mesmo ela estando de pijamas velhos, chinelos de dedo e cabelos emaranhados...
Se você não consegue trabalhar direito o dia todo, ansioso pelo encontro que está marcado para a noite...
Se você não consegue imaginar, de maneira nenhuma, um futuro sem a pessoa ao seu lado...
Se você tiver a certeza que vai ver a outra envelhecendo e, mesmo assim, tiver a convicção que vai continuar sendo louco por ela...
Se você preferir fechar os olhos, antes de ver a outra partindo: é o amor que chegou na sua vida.
Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes na vida poucas amam ou encontram um amor verdadeiro.
Às vezes encontram e, por não prestarem atenção nesses sinais, deixam o amor passar, sem deixá-lo acontecer verdadeiramente.
É o livre-arbítrio. Por isso, preste atenção nos sinais. Não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: o AMOR !!!
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Sentimento do mundo |
em 19/11/2007 17:40:00 (39954 leituras) |
Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo, mas estou cheio de escravos, minhas lembranças escorrem e o corpo transige na confluência do amor.
Quando me levantar, o céu estará morto e saqueado, eu mesmo estarei morto, morto meu desejo, morto o pântano sem acordes.
Os camaradas não disseram que havia uma guerra e era necessário trazer fogo e alimento. Sinto-me disperso, anterior a fronteiras, humildemente vos peço que me perdoeis.
Quando os corpos passarem, eu ficarei sozinho desfiando a recordação do sineiro, da viúva e do microscopista que habitavam a barraca e não foram encontrados ao amanhecer
esse amanhecer mais noite que a noite.
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Memória |
em 19/11/2007 17:40:00 (9491 leituras) |
Amar o perdido deixa confundido este coração.
Nada pode o olvido contra o sem sentido apelo do Não.
As coisas tangíveis tornam-se insensíveis à palma da mão
Mas as coisas findas muito mais que lindas, essas ficarão.
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Arte de Amar |
em 17/11/2007 19:10:00 (23726 leituras) |
Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma. A alma é que estraga o amor. Só em Deus ela pode encontrar satisfação. Não noutra alma. Só em Deus - ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.
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A um ausente |
em 03/11/2007 13:50:00 (18740 leituras) |
Tenho razão de sentir saudade, tenho razão de te acusar. Houve um pacto implícito que rompeste e sem te despedires foste embora. Detonaste o pacto. Detonaste a vida geral, a comum aquiescência de viver e explorar os rumos de obscuridade sem prazo sem consulta sem provocação até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora. Teu ponteiro enlouqueceu,
enlouquecendo nossas horas. Que poderias ter feito de mais grave do que o ato sem continuação, o ato em si, o ato que não ousamos nem sabemos ousar porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti, de nossa convivência em falas camaradas, simples apertar de mãos, nem isso, voz modulando sílabas conhecidas e banais que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades. Sim, acuso-te porque fizeste o não previsto nas leis da amizade e da natureza nem nos deixaste sequer o direito de indagar porque o fizeste, porque te foste.
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A velhice |
em 28/10/2007 11:00:00 (17219 leituras) |
Olha estas velhas árvores, mais belas Do que as árvores moças, mais amigas, Tanto mais belas quanto mais antigas, Vencedoras da idade e das procelas...
O homem, a fera e o inseto, à sombra delas Vivem, livres da fome e de fadigas: E em seus galhos abrigam-se as cantigas E os amores das aves tagarelas.
Não choremos, amigo, a mocidade! Envelheçamos rindo. Envelheçamos Como as árvores fortes envelhecem,
Na glória de alegria e da bondade, Agasalhando os pássaros nos ramos, Dando sombra e consolo aos que padecem!
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Recordo ainda |
em 13/10/2007 22:10:00 (19190 leituras) |
Recordo ainda...E nada mais me importa... Aqueles dias de uma luz tão mansa Que me deixavam, sempre de lembrança, Algum brinquedo novo à minha porta...
Mas veio um vento de Desesperança Soprando cinzas pela noite morta! E eu pendurei na galharia torta Todos os meus brinquedos de criança...
Estrada afora após segui... Mas ai, Embora idade e senso eu aparente, Não vos iluda o velho que aqui vai:
Eu quero meus brinquedos novamente! Sou um pobre menino... acreditai... Que envelheceu, um dia, de repente!...
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Das utopias |
em 12/10/2007 18:20:00 (8004 leituras) |
Se as coisas são inatingíveis... ora! não é motivo para não quere-las... Que tristes os caminhos, se não fora a magica presença das estrelas!
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No te amo como si fueras rosa de sal |
em 11/10/2007 17:00:00 (10072 leituras) |
-XVII- No te amo como si fueras rosa de sal, topacio o flecha de claveles que propagan el fuego: te amo como se aman ciertas cosas oscuras, secretamente, entre la sombra y el alma.
Te amo como la planta que no florece y lleva dentro de sí, escondida, la luz de aquellas flores, y gracias a tu amor vive oscuro en mi cuerpo el apretado aroma que ascendió de la tierra.
Te amo sin saber cómo, ni cuándo, ni de dónde, te amo directamente sin problemas ni orgullo: así te amo porque no sé amar de otra manera,
sino así de este modo en que no soy ni eres, tan cerca que tu mano sobre mi pecho es mía, tan cerca que se cierran tus ojos con mi sueño.
Pablo Neruda
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Os Pobres |
em 06/10/2007 20:40:00 (23159 leituras) |
Aí vêm pelos caminhos, Descalços, de pés no chão, Os pobres que andam sozinhos, Implorando compaixão.
Vivem sem cama e sem teto, Na fome e na solidão: Pedem um pouco de afeto, Pedem um pouco de pão.
São tímidos? São covardes? Têm pejo? Têm confusão? Parai quando os encontrardes, E dai-lhes a vossa mão!
Guiai-lhe os tristes passos! Dai-lhes, sem hesitação, O apoio do vossos braços, Metade de vosso pão!
Não receieis que, algum dia, Vos assalte a ingratidão: O prêmio está na alegria Que tereis no coração.
Protegei os desgraçados, Órfãos de toda a afeição: E sereis abençoados Por um pedaço de pão . . .
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Ora (direis) ouvir estrelas! |
em 06/10/2007 20:40:00 (52549 leituras) |
XIII
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto ...
E conversamos toda a noite, enquanto A via láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas."
(*) Soneto XIII da obra Via-Láctea
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A árvore da serra |
em 06/10/2007 20:40:00 (13932 leituras) |
— As árvores, meu filho, não têm alma! E esta árvore me serve de empecilho... É preciso cortá-la, pois, meu filho, Para que eu tenha uma velhice calma!
— Meu pai, por que sua ira não se acalma?! Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?! Deus pos almas nos cedros... no junquilho... Esta árvore, meu pai, possui minh'alma! ...
— Disse — e ajoelhou-se, numa rogativa: «Não mate a árvore, pai, para que eu viva!» E quando a árvore, olhando a pátria serra,
Caiu aos golpes do machado bronco, O moço triste se abraçou com o tronco E nunca mais se levantou da terra!
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Vozes da morte |
em 06/10/2007 20:40:00 (9960 leituras) |
Agora, sim! Vamos morrer, reunidos, Tamarindo de minha desventura, Tu, com o envelhecimento da nervura, Eu, com o envelhecimento dos tecidos!
Ah! Esta noite é a noite dos Vencidos! E a podridão, meu velho! E essa futura Ultrafatalidade de ossatura, A que nos acharemos reduzidos!
Não morrerão, porém, tuas sementes! E assim, para o Futuro, em diferentes Florestas, vales, selvas, glebas, trilhos,
Na multiplicidade dos teus ramos, Pelo muito que em vida nos amamos, Depois da morte inda teremos filhos!
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Natureza íntima |
em 06/10/2007 20:40:00 (8086 leituras) |
(Ao filósofo Farias Brito) Cansada de observar-se na corrente Que os acontecimentos refletia, Reconcentrando-se em si mesma, um dia, A Natureza olhou-se interiormente!
Baldada introspecção! Noumenalmente O que Ela, em realidade, ainda sentia Era a mesma imortal monotonia De sua face externa indiferente!
E a Natureza disse com desgosto: "Terei somente, porventura, rosto?! "Serei apenas mera crusta espessa?!
"Pois é possível que Eu, causa do Mundo, "Quanto mais em mim mesma me aprofundo, "Menos interiormente me conheça?!"
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Ouvi, senhora, o cântico sentido |
em 06/10/2007 20:40:00 (4455 leituras) |
Ouvi, senhora, o cântico sentido Do coração que geme e s’estertora N’ânsia letal que o mata e que o devora, E que tornou-o assim, triste e descrido.
Ouvi, senhora, amei; de amor ferido, As minhas crenças que alentei outrora Rolam dispersas, pálidas agora, Desfeitas todas num guaiar dorido.
E como a luz do sol vai-se apagando! E eu triste, triste pela vida afora, Eterno pegureiro caminhando, Revolvo as cinzas de passadas eras, Sombrio e mudo e glacial, senhora, Como um coveiro a sepultar quimeras!
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Que é simpatia |
em 06/10/2007 20:40:00 (20303 leituras) |
Simpatia - é o sentimento Que nasce num só momento, Sincero, no coração; São dois olhares acesos Bem juntos, unidos, presos Numa mágica atração.
Simpatia - são dois galhos Banhados de bons orvalhos Nas mangueiras do jardim; Bem longe às vezes nascidos, Mas que se juntam crescidos E que se abraçam por fim.
São duas almas bem gêmeas Que riem no mesmo riso, Que choram nos mesmos ais; São vozes de dois amantes, Duas liras semelhantes, Ou dois poemas iguais.
Simpatia - meu anjinho, É o canto de passarinho, É o doce aroma da flor; São nuvens dum céu d'agosto É o que m'inspira teu rosto... - Simpatia - é quase amor!
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Minh'alma é triste |
em 06/10/2007 20:40:00 (29154 leituras) |
Minh'alma é triste como a rola aflita Que o bosque acorda desde o alvor da aurora, E em doce arrulo que o soluço imita O morto esposo gemedora chora.
E, como a rôla que perdeu o esposo, Minh'alma chora as ilusões perdidas, E no seu livro de fanado gozo Relê as folhas que já foram lidas.
E como notas de chorosa endeixa Seu pobre canto com a dor desmaia, E seus gemidos são iguais à queixa Que a vaga solta quando beija a praia.
Como a criança que banhada em prantos Procura o brinco que levou-lhe o rio, Minha'alma quer ressuscitar nos cantos Um só dos lírios que murchou o estio.
Dizem que há, gozos nas mundanas galas, Mas eu não sei em que o prazer consiste. — Ou só no campo, ou no rumor das salas, Não sei porque — mas a minh'alma é triste!
II
Minh'alma é triste como a voz do sino Carpindo o morto sobre a laje fria; E doce e grave qual no templo um hino, Ou como a prece ao desmaiar do dia.
Se passa um bote com as velas soltas, Minh'ahna o segue n'amplidão dos mares; E longas horas acompanha as voltas Das andorinhas recortando os ares.
Às vezes, louca, num cismar perdida, Minh'alma triste vai vagando à toa, Bem como a folha que do sul batida Bóia nas águas de gentil lagoa!
E como a rola que em sentida queixa O bosque acorda desde o albor da aurora, Minha'ahna em notas de chorosa endeixa Lamenta os sonhos que já tive outrora.
Dizem que há gozos no correr dos anos!... Só eu não sei em que o prazer consiste. — Pobre ludíbrio de cruéis enganos, Perdi os risos — a minh'alma é triste!
III
Minh'alma é triste como a flor que morre Pendida à beira do riacho ingrato; Nem beijos dá-lhe a viração que corre, Nem doce canto o sabiá do mato!
E como a flor que solitária pende Sem ter carícias no voar da brisa, Minh'alma murcha, mas ninguém entende Que a pobrezinha só de amor precisa!
Amei outrora com amor bem santo Os negros olhos de gentil donzela, Mas dessa fronte de sublime encanto Outro tirou a virginal capela.
Oh! quantas vezes a prendi nos braços! Que o diga e fale o laranjal florido! Se mão de ferro espedaçou dois laços Ambos choramos mas num só gemido!
Dizem que há gozos no viver d'amores, Só eu não sei em que o prazer consiste! — Eu vejo o mundo na estação das flores Tudo sorri — mas a minh'alma é triste!
IV
Minh'alma é triste como o grito agudo Das arapongas no sertão deserto; E como o nauta sobre o mar sanhudo, Longe da praia que julgou tão perto!
A mocidade no sonhar florida Em mim foi beijo de lasciva virgem: — Pulava o sangue e me fervia a vida, Ardendo a fronte em bacanal vertigem.
De tanto fogo tinha a mente cheia!... No afã da glória me atirei com ânsia... E, perto ou longe, quis beijar a s'reia Que em doce canto me atraiu na infância.
Ai! loucos sonhos de mancebo ardente! Esp'ranças altas... Ei-las já tão rasas!... — Pombo selvagem, quis voar contente... Feriu-me a bala no bater das asas!
Dizem que há gozos no correr da vida... Só eu não sei em que o prazer consiste! — No amor, na glória, na mundana lida, Foram-se as flores — a minh'alma é triste!
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Essa que eu hei de amar… |
em 06/10/2007 20:30:49 (24126 leituras) |
Essa que eu hei de amar perdidamente um dia será tão loura, e clara, e vagarosa, e bela, que eu pensarei que é o sol que vem, pela janela, trazer luz e calor a essa alma escura e fria.
E quando ela passar, tudo o que eu não sentia da vida há de acordar no coração, que vela… E ela irá como o sol, e eu irei atrás dela como sombra feliz… — Tudo isso eu me dizia,
quando alguém me chamou. Olhei: um vulto louro, e claro, e vagaroso, e belo, na luz de ouro do poente, me dizia adeus, como um sol triste…
E falou-me de longe: "Eu passei a teu lado, mas ias tão perdido em teu sonho dourado, meu pobre sonhador, que nem sequer me viste!" |
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O Pensamento |
em 06/10/2007 20:26:00 (5981 leituras) |
O ar. A folha. A fuga. No lago, um círculo vago. No rosto, uma ruga.
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Pescaria |
em 06/10/2007 20:24:49 (4966 leituras) |
Cochilo. Na linha eu ponho a isca de um sonho. Pesco uma estrelinha.
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Vandalismo |
em 06/10/2007 18:20:00 (33596 leituras) |
Meu coração tem catedrais imensas, Templos de priscas e longínquas datas, Onde um nume de amor, em serenatas, Canta a aleluia virginal das crenças.
Na ogiva fúlgida e nas colunatas Vertem lustrais irradiações intensas Cintilações de lâmpadas suspensas E as ametistas e os florões e as pratas.
Como os velhos Templários medievais Entrei um dia nessas catedrais E nesses templos claros e risonhos ... E erguendo os gládios e brandindo as hastas, No desespero dos iconoclastas Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos!
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Pedra filosofal |
em 05/10/2007 18:20:00 (4280 leituras) |
Eles não sabem que o sonho é uma constante da vida tão concreta e definida como outra coisa qualquer, como esta pedra cinzenta em que me sento e descanso, como este ribeiro manso em serenos sobressaltos, como estes pinheiros altos que em verde e oiro se agitam, como estas aves que gritam em bebedeiras de azul.
Eles não sabem que o sonho é vinho, é espuma, é fermento, bichinho álacre e sedento, de focinho pontiagudo, que fossa através de tudo num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho é tela, é cor, é pincel, base, fuste, capitel, arco em ogiva, vitral, pináculo de catedral, contraponto, sinfonia, máscara grega, magia, que é retorta de alquimista, mapa do mundo distante, rosa-dos-ventos, Infante, caravela quinhentista, que é Cabo da Boa Esperança, ouro, canela, marfim, florete de espadachim, bastidor, passo de dança, Colombina e Arlequim, passarola voadora, pára-raios, locomotiva, barco de proa festiva, alto-forno, geradora, cisão do átomo, radar, ultra-som, televisão, desembarque em foguetão na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham, que o sonho comanda a vida. Que sempre que um homem sonha o mundo pula e avança como bola colorida entre as mãos de uma criança.
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De um lado cantava o sol |
em 05/10/2007 17:20:00 (12650 leituras) |
De um lado cantava o sol, do outro, suspirava a lua. No meio, brilhava a tua face de ouro, girassol!
Ó montanha da saudade a que por acaso vim: outrora, foste um jardim, e és, agora, eternidade! De longe, recordo a cor da grande manhã perdida. Morrem nos mares da vida todos os rios do amor? Ai! celebro-te em meu peito, em meu coração de sal, Ó flor sobrenatural, grande girassol perfeito! Acabou-se-me o jardim! Só me resta, do passado, este relógio dourado que ainda esperava por mim . . .
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Gargalhada |
em 05/10/2007 17:20:00 (6256 leituras) |
Homem vulgar! Homem de coração mesquinho! Eu te quero ensinar a arte sublime de rir. Dobra essa orelha grosseira, e escuta o ritmo e o som da minha gargalhada:
Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!
Não vês? É preciso jogar por escadas de mármores baixelas de ouro. Rebentar colares, partir espelhos, quebrar cristais, vergar a lâmina das espadas e despedaçar estátuas, destruir as lâmpadas, abater cúpulas, e atirar para longe os pandeiros e as liras...
O riso magnífico é um trecho dessa música desvairada.
Mas é preciso ter baixelas de ouro, compreendes? — e colares, e espelhos, e espadas e estátuas. E as lâmpadas, Deus do céu! E os pandeiros ágeis e as liras sonoras e trêmulas...
Escuta bem:
Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!
Só de três lugares nasceu até hoje essa música heróica: do céu que venta, do mar que dança, e de mim.
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Murmúrio |
em 05/10/2007 17:20:00 (6795 leituras) |
Traze-me um pouco das sombras serenas que as nuvens transportam por cima do dia! Um pouco de sombra, apenas, - vê que nem te peço alegria.
Traze-me um pouco da alvura dos luares que a noite sustenta no teu coração! A alvura, apenas, dos ares: - vê que nem te peço ilusão.
Traze-me um pouco da tua lembrança, aroma perdido, saudade da flor! - Vê que nem te digo - esperança! - Vê que nem sequer sonho - amor!
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Tragédia no lar |
em 05/10/2007 12:57:26 (52353 leituras) |
Na Senzala, úmida, estreita, Brilha a chama da candeia, No sapé se esgueira o vento. E a luz da fogueira ateia.
Junto ao fogo, uma africana, Sentada, o filho embalando, Vai lentamente cantando Uma tirana indolente, Repassada de aflição. E o menino ri contente... Mas treme e grita gelado, Se nas palhas do telhado Ruge o vento do sertão.
Se o canto pára um momento, Chora a criança imprudente ... Mas continua a cantiga ... E ri sem ver o tormento Daquele amargo cantar. Ai! triste, que enxugas rindo Os prantos que vão caindo Do fundo, materno olhar, E nas mãozinhas brilhantes Agitas como diamantes Os prantos do seu pensar ...
E voz como um soluço lacerante Continua a cantar:
"Eu sou como a garça triste "Que mora à beira do rio, "As orvalhadas da noite "Me fazem tremer de frio.
"Me fazem tremer de frio "Como os juncos da lagoa; "Feliz da araponga errante "Que é livre, que livre voa.
"Que é livre, que livre voa "Para as bandas do seu ninho, "E nas braúnas à tarde "Canta longe do caminho.
"Canta longe do caminho. "Por onde o vaqueiro trilha, "Se quer descansar as asas "Tem a palmeira, a baunilha.
"Tem a palmeira, a baunilha, "Tem o brejo, a lavadeira, "Tem as campinas, as flores, "Tem a relva, a trepadeira,
"Tem a relva, a trepadeira, "Todas têm os seus amores, "Eu não tenho mãe nem filhos, "Nem irmão, nem lar, nem flores".
A cantiga cessou. . . Vinha da estrada A trote largo, linda cavalhada De estranho viajor, Na porta da fazenda eles paravam, Das mulas boleadas apeavam E batiam na porta do senhor.
Figuras pelo sol tisnadas, lúbricas, Sorrisos sensuais, sinistro olhar, Os bigodes retorcidos, O cigarro a fumegar, O rebenque prateado Do pulso dependurado, Largas chilenas luzidas, Que vão tinindo no chão, E as garruchas embebidas No bordado cinturão.
A porta da fazenda foi aberta; Entraram no salão.
Por que tremes mulher? A noite é calma, Um bulício remoto agita a palma Do vasto coqueiral. Tem pérolas o rio, a noite lumes, A mata sombras, o sertão perfumes, Murmúrio o bananal.
Por que tremes, mulher? Que estranho crime, Que remorso cruel assim te oprime E te curva a cerviz? O que nas dobras do vestido ocultas? É um roubo talvez que aí sepultas? É seu filho ... Infeliz! ...
Ser mãe é um crime, ter um filho - roubo! Amá-lo uma loucura! Alma de lodo, Para ti - não há luz. Tens a noite no corpo, a noite na alma, Pedra que a humanidade pisa calma, — Cristo que verga à cruz!
Na hipérbole do ousado cataclisma Um dia Deus morreu... fuzila um prisma Do Calvário ao Tabor! Viu-se então de Palmira os pétreos ossos, De Babel o cadáver de destroços Mais lívidos de horror.
Era o relampejar da liberdade Nas nuvens do chorar da humanidade, Ou sarça do Sinai, — Relâmpagos que ferem de desmaios... Revoluções, vós deles sois os raios, Escravos, esperai! ...
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Leitor, se não tens desprezo De vir descer às senzalas, Trocar tapetes e salas Por um alcouce cruel, Que o teu vestido bordado Vem comigo, mas ... cuidado ... Não fique no chão manchado, No chão do imundo bordel.
Não venhas tu que achas triste Às vezes a própria festa. Tu, grande, que nunca ouviste Senão gemidos da orquestra Por que despertar tu'alma, Em sedas adormecida, Esta excrescência da vida Que ocultas com tanto esmero? E o coração - tredo lodo, Fezes d'ânfora doirada Negra serpe, que enraivada, Morde a cauda, morde o dorso E sangra às vezes piedade, E sangra às vezes remorso?...
Não venham esses que negam A esmola ao leproso, ao pobre. A luva branca do nobre Oh! senhores, não mancheis... Os pés lá pisam em lama, Porém as frontes são puras Mas vós nas faces impuras Tendes lodo, e pus nos pés.
Porém vós, que no lixo do oceano A pérola de luz ides buscar, Mergulhadores deste pego insano Da sociedade, deste tredo mar. Vinde ver como rasgam-se as entranhas De uma raça de novos Prometeus, Ai! vamos ver guilhotinadas almas Da senzala nos vivos mausoléus.
— Escrava, dá-me teu filho! Senhores, ide-lo ver: É forte, de uma raça bem provada, Havemos tudo fazer.
Assim dizia o fazendeiro, rindo, E agitava o chicote... A mãe que ouvia Imóvel, pasma, doida, sem razão! À Virgem Santa pedia Com prantos por oração; E os olhos no ar erguia Que a voz não podia, não.
— Dá-me teu filho! repetiu fremente o senhor, de sobr'olho carregado. — Impossível!... — Que dizes, miserável?! — Perdão, senhor! perdão! meu filho dorme... Inda há pouco o embalei, pobre inocente, Que nem sequer pressente Que ides... — Sim, que o vou vender! — Vender?!. . . Vender meu filho?!
Senhor, por piedade, não Vós sois bom antes do peito Me arranqueis o coração! Por piedade, matai-me! Oh! É impossível Que me roubem da vida o único bem! Apenas sabe rir é tão pequeno! Inda não sabe me chamar? Também Senhor, vós tendes filhos... quem não tem?
Se alguém quisesse os vender Havíeis muito chorar Havíeis muito gemer, Diríeis a rir — Perdão?! Deixai meu filho... arrancai-me Antes a alma e o coração!
— Cala-te miserável! Meus senhores, O escravo podeis ver ...
E a mãe em pranto aos pés dos mercadores Atirou-se a gemer. — Senhores! basta a desgraça De não ter pátria nem lar, - De ter honra e ser vendida De ter alma e nunca amar!
Deixai à noite que chora Que espere ao menos a aurora, Ao ramo seco uma flor; Deixai o pássaro ao ninho, Deixai à mãe o filhinho, Deixai à desgraça o amor.
Meu filho é-me a sombra amiga Neste deserto cruel!... Flor de inocência e candura. Favo de amor e de mel!
Seu riso é minha alvorada, Sua lágrima doirada Minha estrela, minha luz! É da vida o único brilho Meu filho! é mais... é meu filho Deixai-mo em nome da Cruz!...
Porém nada comove homens de pedra, Sepulcros onde é morto o coração. A criança do berço ei-los arrancam Que os bracinhos estende e chora em vão!
Mudou-se a cena. Já vistes Bramir na mata o jaguar, E no furor desmedido Saltar, raivando atrevido. O ramo, o tronco estalar, Morder os cães que o morderam... De vítima feita algoz, Em sangue e horror envolvido Terrível, bravo, feroz?
Assim a escrava da criança ao grito Destemida saltou, E a turba dos senhores aterrada Ante ela recuou.
— Nem mais um passo, cobardes! Nem mais um passo! ladrões! Se os outros roubam as bolsas, Vós roubais os corações! ...
Entram três negros possantes, Brilham punhais traiçoeiros... Rolam por terra os primeiros Da morte nas contorções.
Um momento depois a cavalgada Levava a trote largo pela estrada A criança a chorar. Na fazenda o azorrague então se ouvia E aos golpes - uma doida respondia Com frio gargalhar! ... |
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Pálida à Luz |
em 05/10/2007 12:40:00 (14668 leituras) |
Pálida à luz da lâmpada sombria, Sobre o leito de flores reclinada, Como a lua por noite embalsamada, Entre as nuvens do amor ela dormia! Era a virgem do mar, na escuma fria Pela maré das águas embalada! Era um anjo entre nuvens d'alvorada Que em sonhos se banhava e se esquecia! Era mais bela! o seio palpitando Negros olhos as pálpebras abrindo Formas nuas no leito resvalando Não te rias de mim, meu anjo lindo! Por ti - as noites eu velei chorando, Por ti - nos sonhos morrerei sorrindo!
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Poema enjoadinho |
em 05/10/2007 12:40:00 (6316 leituras) |
Filhos...Filhos? Melhor não tê-los! Mas se não os temos Como sabê-lo? Se não os temos Que de consulta Quanto silêncio Como o queremos! Banho de mar Diz que é um porrete... Cônjuge voa Transpõe o espaço Engole água Fica salgada Se iodifica Depois, que boa Que morenaço Que a esposa fica! Resultado: filho. E então começa A aporrinhação: Cocô está branco Cocô está preto Bebe amoníaco Comeu botão. Filho? Filhos Melhor não tê-los Noites de insônia Cãs prematuras Prantos convulsos Meu Deus, salvai-o! Filhos são o demo Melhor não tê-los... Mas se não os temos Como sabê-los? Como saber Que macieza Nos seus cabelos Que cheiro morno Na sua carne Que gosto doce Na sua boca! Chupam gilete Bebem xampu Ateiam fogo No quarteirão Porém, que coisa Que coisa louca Que coisa linda Que os filhos são!
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Canção do Violeiro |
em 05/10/2007 12:36:55 (10226 leituras) |
Passa, ó vento das campinas, Leva a canção do tropeiro. Meu coração 'stá deserto, 'Stá deserto o mundo inteiro. Quem viu a minha senhora Dona do meu coração?
Chora, chora na viola, Violeiro do sertão.
Ela foi-se ao pôr da tarde Como as gaivotas do rio. Como os orvalhos que descem Da noite num beijo frio, O cauã canta bem triste, Mais triste é meu coração.
Chora, chora na viola, Violeiro do sertão.
E eu disse: a senhora volta Com as flores da sapucaia. Veio o tempo, trouxe as flores, Foi o tempo, a flor desmaia. Colhereira, que além voas, Onde está meu coração?
Chora, chora na viola, Violeiro do sertão.
Não quero mais esta vida, Não quero mais esta terra. Vou procurá-la bem longe, Lá para as bandas da serra. Ai! triste que eu sou escravo! Que vale ter coração?
Chora, chora na viola, Violeiro do sertão. |
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Soneto |
em 03/10/2007 21:00:00 (4786 leituras) |
Ao Luís Vaz, recordando o convívio da nossa mocidade
Não pode Amor por mais que as falas mude exprimir quanto pesa ou quanto mede. Se acaso a comoção falar concede é tão mesquinho o tom que o desilude.
Busca no rosto a cor que mais o ajude, magoado parecer aos olhos pede, pois quando a fala a tudo o mais excede não pode ser Amor com tal virtude.
Também eu das palavras me arreceio, também sofro do mal sem saber onde busque a expressão maior do meu anseio.
E acaso perde, o Amor que a fala esconde, em verdade, em beleza, em doce enleio? Olha bem os meus olhos, e responde.
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