Poemas : 

O Menino da Sua Mãe

 
No plaino abandonado
Que a morta brisa aquece,
De balas traspassado
- Duas, de lado a lado -,
Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
"O menino da sua mãe".

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
"Que volte cedo, e bem!"
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.


Fernando António Nogueira Pessoa
( 03/06/1888 — 30/11/1935)
Autores Clássicos no Luso-Poemas

 
Autor
Fernando Pessoa
 
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Enviado por Tópico
Julio Saraiva
Publicado: 11/08/2009 06:11  Atualizado: 11/08/2009 06:11
Colaborador
Usuário desde: 13/10/2007
Localidade: São Paulo- Brasil
Mensagens: 4206
 Re: O Menino da Sua Mãe
nossa! em qual centro espírita ele baixou??? rs rs rs

js

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 11/08/2009 06:33  Atualizado: 11/08/2009 06:33
 Re: O Menino da Sua Mãe
A Pessoa nada digo. Quedo-me, maravilhado a ler e a reler,em silêncio.
Ao lusopoeta que posta estas coisas, por mais divulgadas que sejam, o meu eterno agradecimento.