Sem saber
Abalei a vontade e tragicamente
Sem lealdade construí, a diferença
Agarrei saudade, assim coerente
Sem liberdade vivi a minha crença.
Afugentei a maldade transigente
Sem bondade, instruí, indiferença
Matei a fragilidade, tão inocente
Sem habilidade eu ditei a sentença.
Abanei a mente, de mente, aberta
Sem saber, apenas derrubei ciente
Do amor, da paixão, por ora finada.
Atraiçoei a vida, a da morte certa
Sem querer, ou talvez por acidente
Eu mostrei, que sei, sem saber nada.
Argumento para amar
Espremo, inquietação, argumento
Lascivo a madrugada, penitente
Sóbria, tenho vida, amor crescente
E eu, subjugada fujo, ao tormento.
Baldada, insónia do pensamento
Flameja a coragem da minha mente
Antevendo o veio hasteado, dolente
Mísera esmola, que dá o talento.
Expulso, armado de aflição o peito
Alivio, a frustração da alma, ciente
Criada à figura desta mocidade.
Eu derrubo o medo, fico sem jeito
Mato a saudade, do feito coerente
E enlaço o amor, à tua amizade.
Amo e não sou amada
Entrego-me quando me mente
O teu frio, ou falso sentimento
E eu só vivo apenas o momento
Quando não sou eu devidamente.
E o prazer, que o corpo já sente
Pelo carinho, que ainda sustento
Em cada dia, que passa aumento
Por amar-te assim, perdidamente.
Entreguei, ao amor a minha vida
Já de preconceitos toda despida
Deixando no teu leito o meu calor.
Assim, eu já não sei se isto è amor
E ainda entrego o corpo, ardente
À cama fria, pelo teu amor ausente.
19 de Janeiro de 1985 - Cruz
Paixão ao luar
Ao luar, adormeci a inquietação
Sonhei com ela, em tempo hábil
Acordei, o meu avesso e em Abril
Eu lapidei arestas ao coração.
E com ele me ausentei da vida
Adormecida fiquei ao luar, feliz
Sonhei de novo, o raiar como quis
Levitei, sussurrei, mais querida.
E no silêncio fiquei eu, tão a gosto
Enxuguei as lágrimas do rosto
Como sem dó, dei o nó da tradição.
E retoquei o amor da alma, amada
Tropecei neste luar e sem nada
Levantei-me embriagada de paixão.
Amor
Eu vou à beira mar, impaciente
Fogem de mim ondas enfurecidas
Onde levo eu as mãos erguidas
A pedir saúde, paz, amor suficiente.
Tu vais à beira mar, já coerente
Levas as tuas mãos bem estendidas
A pedir a união e às escondidas
Rezas num sentido árduo e penitente.
Eu vou, tu vais no verbo ir presente
E do passado ao futuro das nossas vidas
Nós vamos os dois e como quem sente.
Estar unidos pelo amor e de repente
De mãos dadas já com elas mais unidas
Nós vamos à beira mar, humanamente.
O que vamos lá fazer!...
Não te amo
Baixinho, vais voando, ao meu redor
Como na gaiola, um passarito voa
No ar andas a viver por mim à toa
Pousa e vê, que eu não te tenho amor.
Nem voando assim, alcanças o valor
Palavra amor ao ouvido não te soa
Olha, e vê, que a vida já não é boa
E não esperes que venha a ser melhor.
Bate asas, passarito e não me esperes
Eu não posso dar-te o que tu queres
E não vivas preso, às minhas asas.
Tu vê então, que assim nunca te casas
E põe teus pés bem assentes no chão
E não vivas toda a tua vida em vão.
A um amigo especial.
21 de Fevereiro de 1976
O meu Mundo
Eu alcancei sabedoria em relação
A vozes, que mentem normalmente
Como conseguem ganhar bem o pão
Enquanto falta tanto a tanta gente.
Ensinamentos guardo e se me dão
Trabalhos, que eu tão dificilmente
Ainda faço, como fiz com gratidão
Cumprindo ordens da voz que mente.
Se vivo de compreensão, tolerância
E sou feliz, talvez por ignorância
Tenho sonhos belos, hilariantes.
Nada me valeu, saber, que é pouco
E senti a bravura do mundo louco
Pelas razões duras e constantes.
Vida adulta
Tenebrosa ala, do tempo bera
Frequente a vida é filha da luta
Quando aos poucos discorda, labuta
Descontente do sentido e da Era.
Descalça a nudez, da Primavera
Contente em busca do que disputa
Porque aos poucos sente, o que escuta
Na descoberta útil, da quimera.
E estremece fria e lúcida, só talvez
Nas contas do destino está escrito
Na orla da vida o silêncio, dança.
A viagem feita aos poros, da nudez
E que abraça a mingua do infinito
E deixa duma vez, de ser criança.
A amizade dos poetas
De mão dada com a Luso graciosa
Lá vai a Maria bem mais contente
Bem mais feliz e mais grandiosa
Com esta linda amizade recente.
É tenra ainda, mas já bem valiosa
E acordada no peito de boa gente
Que louva nesta escrita honrosa
Que é de todas a mais diferente.
Porque saúda os poetas em geral
Este soneto bem simples e sincero
Ao dar as mãos de amigo, afinal.
E agora que vou terminar, assim
Somente desejo e também espero
Que esta amizade não tenha fim.
homenagem aos poetas da Luso Poemas
em especial aos amigos
Rodopia (em) graça
Roda e gira, ou rodopia
Em tudo aquilo que engraça
E passa então com alegria
A folia numa praça
Que de saber se distinguia
Pela força e pela raça
De dar um grito, aleluia
Trespassa a poesia, que traça
Ou disfarça a farsa, que ria.
Gira e roda, ou enlaça
Em laços de nostalgia
E leva consigo o que passa
Nesta terna poesia
Rodopia sempre a taça
E traça as rédeas da fantasia
Antes de vir a desgraça
Que desfaça a graça do dia
Ou rodopia o que ria sem graça.