PRIMAVERA DE ILUSÕES
Desce o sol sobre o solstício da mãe primavera
Um anjo palhaço voa, à anunciar novos sonhos
Ilusões para empurrar, no mar o barco à vela.
Utopias e devaneios de poetas tristonhos...
Terras do sem fim, ai de mim que as conheço!
Ai do meu poema que viu, e ouviu as verdades...
A dor que ignoraram, as senti e sinto__ Padeço!
Quando a ventania usurpou-me, má, as vontades
E de todas as incertezas desta vida. Sã loucura...
Das solidões que invadem as almas nas madrugadas
A minha é aquela que para a qual não houve cura.
Mas danço ainda o bolero dos que fingem alegria
E fingindo permito que a noite abra suas asas...
E a noite não tem luar. Eu, nem amor ou poesia.
Elisa Salles
(Direitos autorais reservados)
Fonte: Formatação da designer Marilda Amaral
MUITO MENOS TUA
Muito menos tua...
Hoje estou assim
Despertei assim
Muito eu
Menos tua
Cansada demais para ser tua o tempo todo!
Dá-me espaços
Permita meus relapsos
Minhas inexatidões
Meus fragmentos
Meus desvarios
Minhas loucuras
Minhas...!!
Hoje não me importo com a tua opinião
Hoje não!
... Estou muito eu.
E muito menos tua!
Elisa Salles
Fonte da imagem: Pinterest
SOMOS
Talvez o dia de hoje seja mais...
...Ou menos.
Talvez seja um tempo alheio ao tempo
Um momento recluso dentro da vida
Uma ilusão, talvez,
e nada mais.
Quem poderá dizer
se há algo mais elevado
que o bater das asas de uma borboleta?
...Talvez nem existam borboletas, talvez
Seja uma pintura abstrata,
pintada por alguém que ainda não é...
Uma tela à ser desvendada
num mundo além do nosso
Na parede de um museu
por alguém.
Quem?
Alguém além do bem e do mal?
...E o que é o bem?
E o que é o mal?
O que vem a ser o amor,
e a saudade que hora penso sentir,
com tamanha intensidade?
Será que a sinto de verdade?
Ou será um sonho, submerso
na minha realidade.
...Provavelmente só minha!
E se...
Todos nós somos ainda um projeto de Deus numa maquete?
E se não existimos,
se somos uma visão onírica,
uma sinopse entre os neurônios divinos;
então o que é o texto desconexo que hora escrevo?
Poesia?
Se somos sonhos,
sonhamos nos versos;
... Versejamos o poema dos loucos
no manicômio do criador
que ainda não nos criou.
Sim... Somos um poema louco!
Elisa Salles
(Direitos autorais reservados)
Fonte da imagem: Pinterest
SONETO DO AMOR MAIS TRISTE
Amor superno e mais triste jamais existe
Do que o que professo em minh'alma
Um apreço sem razão, vazio e triste
Que sangra o peito, mas não se acalma.
Amor que quer bem imenso ao ser amado
Mesmo sabendo ser por ele abandonada
Mas que não diminui o sentir sagrado
Como quem pelo amor amaldiçoada...
Que maior sentir poderá haver então
Do que o de quem se entrega sem promessa
De ternuras, gentilezas, beijos ou afeição?
Sim, amor imenso nem mais amargurado há
Do que o que meus versos e boca professam
Querer sem ser querida. Somente por amar!
Elisa Salles
( Direitos autorais reservados)
Fonte da imagem: Pinterest
COISAS DE POESIA
Os versos fugiram de mim!
...Sinto-me violada
Aviltada
Mutilada
Magoada...
O que houve com as palavras?
Onde estão?!
Impulsiva poesia!
Mas amanhã é outro dia.
Haverão beijos
Mãos entrelaçadas
Gentilezas...
Renascer de sonhos e quimeras.
E talvez ela desponte
Mais bela do que jamais fora antes...
Mais perfeita do que poeta
algum,
à versejou um dia.
Poesia tem dessas coisas...
É renda tecida à mão
É afago no cabelo
Olhar de ternura.
Moça tímida...
... Se lhe forçam o poema,
ela foge arredia.
Poesia não carece
de vocábulos em laços,
embaraços ou nós...
Carece de alma
De compreensão
De ser ouvida
Do calor do coração...
Agora, bem sei...
Ela fugiu de mim
porque eu quis ser universo,
quando me bastava a margarida
plantada no chão...
Poetisa boba!
Canta os versos com tu'alma.
... Basta-lhe a doçura
da simplicidade!
Elisa Salles
(Direitos autorais reservados)
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O AMARGOR DA INDIFERENÇA
Percebes?__ Ninguém sente dela saudades
Por ela as mãos silenciaram todos as carícias
Os olhares que lhe dirigem são de impiedade
Da vinhas infrutíferas fez-se para ela primícias.
Ela se fez o opróbrio nu dos homens da terra
Cospem-lhe no rosto sulcado de tristeza
Cruel indiferença à todas as flores desterra
No conhecimento de ser vista com frieza...
Deixem-na quieta em seu mundo de fel...!
Pisoteia as brasas mais ardentes do inferno
Na fé de expiar os pecados que nem cometeu.
Percebem?__ Ninguém sente com ela o amargor
Sua pele sangra marcada à fogo e ferro
E sua alma padece o desfortúnio do desamor.
Anna Corvo
(Heterônimo de Elisa Salles)
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UM POEMA AO RELENTO
Sinto a dor mortal dos que morrem
Moribundos sobre um leito de dor
O venenos que meu íntimo moem
É sua indiferença, frieza, desamor...
Um gosto de derrota na boca. Padeço
Do adeus sem um afago derradeiro
Como se nunca houvera nenhum apreço
Anos afeitos num segundo costumeiro.
Por tal dói. Dói como fogo sobre a ferida
E as lágrimas são tão vãs quanto os versos
De que valem poemas, se não movem a vida?
Mesmo não movendo as rodas do tempo
Canto-os na dor que é todo o universo
Deixa-os aí, como folhas ao relento!
Elisa Salles
Direitos autorais reservados
Fonte da imagem: Pinterest
FASCINAÇÃO
Fascina-me este teu jeito sem querer de ser meu
Fascina-me como me entregas,incauto a alma tua
Amando-me como quem de amar se esqueceu
E esquecendo-te de amar-me, ama-me crua e nua.
Fascina-me como dizes " Eu te amo" com as mãos
Quando tocas minha pele despreocupadamente
Fascina-me como sem saber, arrebata-me o coração
Dizes ser trivial nosso enlace. Teu olhar desmente!
Porque me olhas como quem olha a própria vida
Inquirindo mistérios ainda antes para ti ocultos
Nunca o disseste, mas sei que sou por ti querida!
Então acato teu silêncio enquanto me possui a alma
Juro-te amor eterno enquanto te entrego o corpo
Portanto querido, me fascinas no teu ímpeto e tua calma.
Elisa Salles
(11/12/2017)
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NÃO INQUIRAS AO POETA
Ora, direis, sobre o que tanto escreve o poeta?
Porque vê tamanha poesia em tudo?
O poeta escreve sobre o mundo
e tudo que no mundo há.
... E há tanta poesia no mundo!
O poeta sofre a dor do mundo
O poeta sente a alegria do mundo
O poeta colhe as flores e os espinhos do mundo
O poeta sangra a vida do mundo
O poeta vê os caminhos do mundo
Talvez o veja ( O mundo) como ninguém mais vê.
Forte, imenso, abismal, incrível, terrível, profundo...
O poeta canta o amor mesmo que não seja amado
e que todos os amores há muito o tenham deixado,
mas ele finge a carícia que não recebe,
ele saboreia o beijo que não lhe é oferecido,
ele goza o gozo inexistente.
O poeta não mente,
apenas borda sonhos nos versos e acredita neles.
Então não inquiras mais o porquê dos verbos do poeta!
Porque não há razão alguma fora a própria poesia
E a poesia come a alma do poeta até que o poema se revele,
pleno à luz da manhã.
Elisa Salles
(15/12/2017)
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PALAVRAS...
Desdenhei das palavras por um tempo. Desdenhei...
Apenas alguns dias sem ouvir nem mesmo um verbo
Nem mesmo um substantivo ridículo e medroso
Nem até um adjetivo ousado ou raivoso
Deixei os vocábulos esquecidos por lá
Encostados num canto da parede úmida
Amotinados e tristes por minha indiferença
Sim,
por um tempo cansei-me não da poesia,
mas de mim...
Eu e meus poemas cheios desta melancolia
Esta nostalgia mórbida que acalenta as letras
Canções de gente amargurada, que embala
sonhos tão mortos que nem valem o sono forçado.
Poemas com pontos finais mas incompletos
Defuntos de mistérios ou singularidades
Mecanicamente escritos num jeito só...
Poetisa tediosa!
Mas o que fazer se as sentenças gritam desesperadamente?
E o que fazer se o que me resta ainda são tais locuções?
Apanho as palavras no canto, embalo-as junto ao peito, beijo-lhes o rosto,e escrevo porque nada sei ser, senão esta criatura que escreve versos,ainda que monótonos e desconexos.
Elisa Salles
(11/12/2017)
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