Poemas, frases e mensagens de sebastiaoalves

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de sebastiaoalves

Hemiplégicos

 
Hemiplégicos

Se eu lembrasse dos caminhos que passei...
Não vou dizer o que quero ou o que não quero,
o fluxo da vida não permite qualquer negociação.
As pessoas vão e vem, e nunca estão na direção,
é a vida quem determina o que se tornarão,
se algo bom ou ruim, se continuarão, ou não...
Somente quando procurar o inexistente
Caminho que as trouxeram, é que verão,
que não sabem o que foram, nem o que são...

E assim a vida vai indo em sua compulsão
não se importando com os pífios mistérios
que sobre ela inventaram e ainda inventarão...
E são tantos seus produtos de interior
hemiplégico... que são aleijados, eles são...
E uns se acham muito estranhos, desconexos...
Todavia, esses é que mais da vida obterão,
não o entendimento das coisas, isso não,
Mas aquilo que embaça, a Grande Solidão...
 
Hemiplégicos

Quem sou...

 
Quem sou...

Quem sou...
Não sei...
Mas, seja o que for,
acho que não sou boa coisa...
O que sei ao certo
é que as vezes sou deserto...

Não sei porque sou assim,
não sei nem mesmo,
nem me importa,
o que pensam de mim...

Talvez seja isso,
isso que dizem que sou,
ou o que pensaram algum dia
pessoas com quem eu convivia...
Ou que quiseram que eu fosse,
me tornasse,
fosse coisa boa, ou não,
não sei...
Só sei que as vezes sou solidão.

Talvez eu seja essas lembranças,
sei lá,
essas coisas que ando pensando,
que imagino quando estou fumando...
É,
talvez eu seja o que ando sonhando...
Ou talvez aquilo que deixo de sonhar,
que é maior que o que a mente
consegue abarcar...

Acho que sou esse imenso mar
de coisas desconhecidas,
não imaginadas, inimagináveis,
mas que coexistem em ininteligível relevo
nas horas da madrugada,
que vão se revelando na poeira do tempo
das coisas inacabas,
das coisas jamais começadas...

Talvez eu seja essas dúvidas,
uma alma desesperada,
que procura,
mas que não quer achar nada...

Talvez eu nem esteja mais aqui,
e na ânsia de ser,
de procurar saber o que sou,
eu já não seja o que tenta entender,
aquilo igual a você,
humano, mas sem saber por quê...

Sou como uma ave engaiolada,
sou essas coisas todas, e mais,
mas o melhor é que não fosse nada
 
Quem sou...

Fecho os olhos

 
Fecho os olhos

Fecho os olhos pra poder voltar o tempo
Só assim posso te ver
E mais distante vão aqueles momentos
Em que deixaste eu te querer

São tesouros esses meus pensamentos
Que me impulsionam a viver
Andando por essas estradas estranhas
Em que caminho sem por quê

E os meus sonhos são todos sem sentido
Porque neles não está você
E a sua imagem vai também se desfazendo
Aumentando mais esse sofrer

Começa o dia e já chega a noite
E não sei mesmo o que fazer
Vou levando e sendo também levado
Pela onda que obriga a viver

Pensar que algo mágico pode acontecer
Se continuo no caminho, isso me faz seguir
Pois em meio a essas impossibilidades
Sei que é possível encontrar você...

Fecho os olhos pra andiantar o tempo
Assim parece que não há viver
E aqui vou entre esses pensamentos
Vivendo de inventar você

Eu relembro todos aqueles momentos
Que você não quis querer
E vivo também o falso encontro
Num futuro que não posso saber

Mas algo me impulsiona deste ponto
Em que penso em você
Eu vou flutuando nessas esperanças
Sem querer te esquecer...

Fecho os olhos pra poder voltar o tempo
Só assim posso te ver
Me são raros esses meus pensamentos
Sem você não há viver...
 
Fecho os olhos

O Medo

 
O Medo

I
Naquele tempo eu era menino
Mas aquelas coisas não esqueço
Elas me dilaceraram e povoam
Agora a solidão de meu ser

Eu tinha muitas tarefas
Coisas que eu não devia fazer,
Mas caí em miseráveis mãos
Que levaram a vontade de viver

Mas isso fica pra outra hora
Isso não é digno de lembrança
Mesmo que nos venha sempre
A nos subtrair a confiança

Num de meus muitos afazeres
Eu era obrigado a trilhar
Por estradas abandonadas
Cheias de almas arruinadas

E um dia eu fui apertado
Entre tempo e a distância
E fui por um caminho que
Gerava muita desconfiança

Mas antes hesitando pensei,
Não devo ir por ali, não devo...
Está ermo, é muito escuro...
E segue o muro do cemitério...

Não devo ir por ali, não devo...
E eu decidir não ir, não ia...
Mas assim ia demorar demais
Pra voltar e fazer outra viagem

Porque aquelas pessoas malignas
Que disseram outro dia me amar
Faziam com que trabalhasse e
Como salário vinham me xingar

Mas nessa época não percebia
E estava lá ante a árdua decisão,
Ir pelo caminho dos mortos
Ou ser vítima de uma xingação

Temia os que diziam de mim cuidar
E tentava fazer o melhor que podia
Temia a carranca de seu Raimundo
Via a raiva dele até quando dormia

E a mulher dele, uma fera,
Que sumiu da minha mente,
Achava-me tantos defeitos que
Até hoje meu coração sente

Mas eu não me decidia
Estava olhando o caminho
Cuja entrada pedregosa
Parecia querer me tragar

Eu olhava demorado para ele
Olhava também lá para o alto
E a escuridão não deixava
Se mostrarem os entes que
Pareciam querer me encontrar

E eu olhava, mas não via...
Certificava-me que nada havia
E assim eu me convencia
Até que procurei o caminho
Naquela miserável madrugada

E pisando muito desconfiado
Eu fui seguindo pelo atalho
Subindo rente ao longo muro
Que guardava os entes funerais

E o caminho era denso e úmido
Como uma caverna de morcegos
A pregar os olhos no entrante
Que desconfiado vem seguindo

E, sugado pela escuridão,
Subia aquela montanha
Que parecia infinita
Ante a minha escassa visão

Já era alta madrugada
E lá ia meio perdido
Quando sentir passar por trás
Um corpo diluído...

E eu neutralizado pensei,
Não vou olhar para trás
Seu olhar está cravado em mim...
Seu olhar está cravado em mim...

O ar ficou mais carregado
Senti as trevas mais úmidas
E um leve pisar após cada
Passo que eu ainda dava...

E foram me roubando o ar
E eu já não sabia o que pensar
E eu rezava muito baixinho
E queria também gritar,
Mas aqueles olhos me seguiam
Cruelmente a vigiar
Dos meus traços o congelar

Eu nem lembrava de mais nada
Tinha sumido o resto do mundo
E ali naquele longo momento
Remoía-me um sofrer profundo

E eu fui seguindo...
Olhava às vezes rapidamente
Alto, da montanha o final
E sentia que ainda ia demorar
Minha estadia com aquele
Ser de presença infernal

Uma hora eu senti
Que ele tocou no meu pescoço
E eu me paralisei
E senti que já estava morto.

II
E então eu pude ver
Toda aquela multidão
Que me olhava esquisito
Imersos na escuridão

Eu fiquei petrificado
E meus órgãos se espremiam
E retesados não respondiam
Ao desespero que eu sentia

E foi nesta hora que pensei,
Que desgraça, horror sem fim,
Ouço esses vis elementos
Que mostram as chagas a mim

E eu continuava sentindo
Aquela pesada presença
Que as minhas costas estava
A se aprazer dos meus chistes
No momento em que desesperava

E eu procurei o caminho
E minha vista não viu a montanha
E eu não estava mais em vida
Presenciando aquela visão tamanha

E eu tentei falar, mas
Só saíram urros trementes
Que iam se perder no vazio
Da vastidão de vida ausente

E então ouvir assim dizerem,

Não mecham com ele,
Ele não é alma penitente
Ainda não está conosco
Deve passar livremente

Ele tem poucos anos
E vai vir para gente
Tenho seguido sua vida,
Não é das mais rentes

Vamos apenas avisá-lo
Que estamos cuidando
De cada passo que ele dar
Ao longo dessa se findando

Ele está inerte, não pode andar,
Mas ouvir ele pode,
E assim ele vai nos cantar
Em tempos vindouros,
Para outros nos apresentar

III
Foi ai que então
Aquelas bocas desgraçadas
Começaram a gritar
Com voz não comparada a nada

E falavam rápidos, raivosos,
Com os dentes podres à frente
A querer que eu bem entendesse,
E com isso carpisse fortemente

E eram como cobras que
Enroscavam-se em mim
E na altura da cara, chiando,
Um a um me dizia assim,

Eu sei o que fez!
Eu vou te pegar
E estou esperando
Esse corpo deixar!

Eu te conheço
Sei teu mistério
E te espero
No cemitério!

Bem feito bem feito
Que preguiça essa tua!
Agora agüenta
E olha à visão nua!

Tu vai cantar!
Vai ter que cantar
Pra outros de lá
Os astutos pegar!

Eu vi teu fazer
E me regozijei
Quando te vi lento
Por ali entrar...

E um como a morder
Assim me falou,

Eu já tive carne
E fui teu parente
E hoje de odeio
Mais que antigamente

E foram falando
E eu os ouvia
Suando, tremendo,
Em total agonia

IV
Outra coisa me chamou
A atenção, me virei
E vi lá por trás
As almas perdidas,
As filhas de Satanás

E elas sofriam
Choravam de dor
Mas tinham altivez de
Quem não se renegou

E elas me olhavam
Cheias de inveja encabada
Seus olhos me corroíam
Os destroços de vida

E eu sentia dor só em ver,
Os olhos queria fechar
E aí senti nas pálpebras
Alguém as unhas cravar

Assim não pude me esquivar
Daquela horrenda visão
E lancei um triste olhar
Para decomposição dos irmãos

E eu estava vendo,
Eles mostravam as tripas
A se lastimarem de dor,
Mas eram vazios de amor

Seus olhos não via
Só tinha um vazio escuro
A derramar certo liquido
Como de um podre monturo

E diziam como tinham morrido
A mostrarem suas partes
E se mordiam sem parar
De forma alheia a toda arte

Eles pareciam se preparar
Para uma conversa sem fim
Quando vi que se apresentava
O ser que estava atrás de mim

V
Num certo momento
Eu ouvir um clamar
Uma ordem imposta
Pro barulho calar

E então o ser que estava
Sempre por trás
Falou mais claramente
Aqueles que já foram gente,

Já chega, já chega!
Ele tem pouca idade
Não vai entender
Essas coisas de mortandade

Deixemo-lo que se vá
Abram, saiam do caminho!
Ele é um dos nossos,
Não o deixemos sozinho

Ele vai caminhar
Por esse mundo deles
E vai um dia cansar
Um dia ele vai voltar

Deixem-no, vamos, saiam!
Tiremo-los as imagens mais cruéis
Dessa noite que lhe é terrífica
Pra ele achar que tem esperança
Em sua perdida andança

VI
E então
Eu fui me encontrando
Enquanto no alto chegava
E tive a sensação
De que me fui atraído
Ao mundo das almas danadas.

E então lá do alto
Ainda olhei para trás
E vi o Campo da Paz
Com uma sensação contumaz

Depois eu fui andando
Como se dos ossos minha
Carne pendesse, e eu sentia
Como se tudo tremesse

............................................................

Voltei do meu destino
Quando o dia estava raiando
E não vi mais nada daquilo
E então eu pensei,
Foi o sono, foi o sono...
Acho que ando sonhando...

Mas até hoje eu penso
Que tem alguém me observando.
 
O Medo

Por trás da porta

 
Por trás da porta

Por trás da porta as marcas das unhas...
Das vezes que batemos a cabeça,
A madeira úmida de nossas lagrimas,
Velhos pedaços de sonhos que não lembramos mais...
Por trás da porta...

Por trás da porta outros seres,
Nossas caras que ficaram paradas,
Nossos gestos de fúria que foram pensados,
Desistidos, a nossa mágoa...

Por trás da porta nossos amores,
Os muitos que tivemos,
As faces que jamais esquecemos,
Lágrimas que não conseguimos evitar...

Por trás da porta alguns defuntos,
Amigos que não nos podem abraçar,
Outros que preferimos ignorar,
Um pedaço do nosso coração...

Por trás da porta, nosso oráculo,
Silêncios eternos que não se deixam decifrar,
Vontades incessantes que nunca aprendemos a realizar...
Por trás da porta um abismo,

Esse que aparece sem ninguém procurar,
Esse que mais e mais aprendemos a admirar...
 
Por trás da porta

Não há facilidades...

 
No mesmo rosto que resplandece o sorriso corre, por vezes, as trevas das lágrimas,
A flor que anima a paisagem desolada muitas vezes tem as raízes no charco,
As palavras de conforto, ou de ânimo, tão significativas, não raro, provêm de coração que luta contra o Desespero e a Angústia,
A água que mata a sede, para isso, para chegar até nossos lábios, rebentou a rocha.
Em tudo existe dificuldade, e, quanto mais elas sejam persistentes, mais a luta é renhida, com quedas e levantes, que caracterizam todos aqueles que resolveram lutar por carregar em si mesmos as fontes enciclopédicas da Elevação e da Superação significativas...
Quem são "aqueles"? Somos Nós.
 
Não há facilidades...

Caminhante

 
Caminhante

(À memória de Herman Hesse)

Oh, meu velho, como disseste,
Demorei a entender tudo.
Foram necessários muitos passos,
Muito sol
E muitas lágrimas até chegar neste
Lugar onde calmamente me falavas.

Não sabes,
Meu velho, como envelheci também.
Tu, se pudesses me ver agora,
Se pudesses me ouvir agora,
Talvez chorasse.
Mas não sou triste, guru.

Tudo, tudo como pregaste!
Depois dessa longa caminhada,
Não sei aonde cheguei e, como vês,
Entendo dessa vida.
Porém, guia-me de onde estás e não me
Deixa fechar os olhos à utilidade
Dessa compreensão.

O que fazer com essa luz, luz sem
Brilho, refratada?
Nenhum homem pode compreender
Sem, no mínimo, três mortes.
Tu te lembras?
E o que viemos a ser depois dessas
Perdas?

Eu me lembro, jovem, perguntando,
Mas tu sempre me dizias que esperasse,
Pela água vêm as respostas,
Que quando soubesse estaria pronto.
Ah, se tu mo tivesses dito!
Meus pés não estariam tão sofridos,
Nem meus olhos tão caiados.

Hoje, depois de tanto tempo que
Deixaste-me, lembro de ti,
Da tua simplicidade,
Da tua tranqüilidade
E percebo,
Meu velho, que ainda não estou pronto.

Tenho medo do que estar por vim,
Tenho medo daquela sombra que,
Silenciosamente, se aproxima,
Da falta de continuidade.
Tudo me assusta.

Por que o desgarramento do todo?
Todo homem torna-se uma ilha
Depois de um certo passo involuntário.

Quem pode penetrar nesta
Penumbra em que me tornei
E, de lá, tirar as
Palavras que não sei?

Não posso fazer-me inteligível,
Triste ironia, eu que sempre sorria
Da tua falta de jeito com elas, as palavras,
Falando de coisas que eu outrora
Não podia entender, agora, veja só,
Não sei me fazer compreensível!

Sei, meu velho, que não podes entender-me,
Seria gentileza dizer o contrário.
Tenho consciência de que caminhamos
Rumo ao completo desentendimento,
Para a tristeza e solidão profundas,
Em fim, para o silêncio absoluto,
Para a ilha da qual não escapou o poeta.

Adeus meu velho, a mim não me resta
Outra coisa além de te seguir nesta
Estrada,
Nesta longa estrada em que um dia
Te perdeste...
 
Caminhante

O que vai no meu poema...

 
O que vai no meu poema...

O que vai no meu poema...
Vai o meu pensamento
O meu sonho
Os sonhos que não tenho mais...

Vai minha vontade
As vontades que tive
Os desejos que se desfizeram
Na iminência de existir
Que ficaram por aí
A esperar que os lembrasse novamente

Vai minha anulação
As impossibilidades
Certas agonias brutais
Da qual não se pode escapar
Mas que se resiste...
Vai a dureza deglutida
Por não se poder evitar.
Vai ai minha lágrima
Aquela que pensei derramar...

Vai a viagem que não fiz
Vai a morte que desejei
Vai a estrada onde fiquei
Vai o sonho de ser feliz
Vai a ilusão que tive um dia
De que tudo pudesse se ajeitar...
Meu sonho é um mar,
Vai tudo que eu queria
E mais quis o que não pude alcançar...

Vai o amor
As coisas mais simples
As coisas que me davam alguma alegria
Coisas tão básicas
Tão estranhas de se amar

Vai tudo no meu poema
Ele é carregado, avesso à tradução,
Tem sempre algo por trás
Sempre há um sentido a mais...

Vai o gesto que não fiz
As coisas que não pude ser
As decepções que causei
Sem nem mesmo saber
As dores que provoquei
Em quem nunca vou conhecer...

Vai meu perdão distorcido
A minha raiva que nunca cessou
Diante das coisas horríveis
Que arquitetaram para mim
Que me atingiram o rosto...
Cada golpe que não cicatrizou
Vai no meu poema,
Vai no meu poema
A reação que nunca começou...

Vai no meu poema
A mão que nunca se lançou
A me afagar num momento doído
Uma palavra que ninguém me falou
Vai o silêncio sempre ouvido
Nas noites que ninguém imaginou
Mas que sempre existiram,
Sempre meu ser se desencontrou,
Por razões que não entendo
Por razões que nunca ninguém explicou.

Vai no meu poema amigos,
Poucos que amealhei
Com meu jeito meio tosco,
Vivendo a vida que encontrei,
Que inventei com esses
Frangalhos de tudo que resultei

Vai minha gratidão
A todos àqueles que encontrei
E que me deram umas palavras
Uns ouvidos aos quais falei
Com um dilatado coração
Sob uma dor que não dissipei
Em momentos de extrema solidão
Vai minha gratidão
À todos os que me deram um empurrão

Vai no meu poema o que não sei...

Vai minha dúvida
A minha desconfiança,
Esse jeito de olhar...
Vai no meu poema sentidos escusos
Vontades de chorar
Vontades de sorrir
Vontades de gritar...
Vai tudo no meu poema,
E o que fica ainda é muito,
Eu não consigo abarcar...
 
O que vai no meu poema...

Pateticamente Patético

 
Pateticamente Patético

Pelas ruas da cidade ando
Madrugadamente pensando
Sensivelmente sentindo
Desesperadamente querendo,
Uma coisa ainda não dita,
Não ouvida

Na madrugada estou
Comovidamente estático
Rarefeitamente esperando
Obscuramente interrogando
Por uma carta que enviei
Para um destino que não sei
Contendo uma palavra que esqueci
Que revela uma sentimento que senti
Uns gestos que inventei
A parte de mim que decifrei
A busca que alcancei
Num labirinto que não sei...

Pelas ruas da cidade ando
Madrugadamente pensando
Comovidamente estático...
Numa hora neutra fico
Pateticamente olhando...
Pateticamente esperando...
Pateticamente patético...
 
Pateticamente Patético

Ninguém é tão feliz

 
Ninguém é tão feliz

Ninguém é tão feliz a ponto de não sentir nenhuma tristeza,
Nem tão triste a ponto de espantar toda a alegria...
 
Ninguém é tão feliz

Alma abatida

 
Tenho tentado não cair em ti, minha querida,
E dormir nos teus braços minha maquina quebrantada,
Eu andei no meio da luz,
E imitei alguns sorrisos,
Falei com pessoas e até brinquei,
Mas, minha sereia de transcendente extensão,
Tenho me perdido,
Tenho me desfeito a cada ato,
E hoje sinto-me conspurcado por mim mesmo...
Por isso estou aqui a te admirar,
Suspirando em silêncio a tensão desse momento,
Como se de ante mão já soubesse de tua reprovação ante a minha súplica,
Ante esta mendicância tão reprovada por Tagore,
Mas, eis-me aqui Noite infinita a te pedir que me envolva nos teus segredos,
Que de teu amor denso e profundo
Dê a mim as gotas que criam estrelas,
Como as que vejo no céu longínquo,
Porem queimando aqui no meu peito,
Dando sentido aos passos de minha alma abatida...
 
Alma abatida

Assim, de repente...

 
Assim, de repente...

As vezes eu fico sozinho
Aí vem umas pessoas voando e ficam do meu lado
Não podem falar
Apenas seus olhos em silêncio me dizem alguma coisa
Assim, de repente...

As vezes eu quero ficar sozinho
E saio calado diante de todos
Que me olham em desaprovação
E dizem que sou estranho
Porque não me despeço
Porque vou de repente
Porque, de repente,
O riso perde o sentido...

As vezes eu quero ficar sozinho
E eu não decido isso
A vontade vem
Vem uma força que esvazia
Que apaga a estrada por onde vim
E apaga também o sentido por onde ia
E não vejo mais
E tenho que me retirar
Assim, de repente...

No meio dessas pessoas
Tão amáveis
De sorriso tão fácil
Eu sinto falta
Eu sinto muita falta
E essa falta
Assim, de repente, me invade
E enche meu coração
E ai não posso mais participar
Entender a piada
E ver uma graça em qualquer coisa...

Alguma coisa
No meio dessas pessoas tão sadias
Me faz lembrar
De algo que não apalpo
Mas, como uma pontada no meu nada,
Ela me acorda
E me diz que tenho que saí
Que acabou a brincadeira
Deu meia noite
E não há fadas
Não há nada...

Apenas a Noite que me abre os seus braços
A me oferecer seu beijo
Durante a madrugada
Em que penso e penso...
Mas nada,
A mim não se revela nada,
Mas a vontade de ir vem,
Mesmo sem saber por que,
Nem para onde, vem,
A vontade vem
Assim, de repente...
 
Assim, de repente...

Eu queria não perceber nada disso...

 
Eu queria não perceber nada disso...

Atualmente sou alguém que não sente
Alegria alguma,
A mão que era para me afagar
Apenas me descobre
E aponta minhas cicatrizes antigas
E não entende
Que apesar das dores que já senti
Não me acostumei a sofrer...

Eu queria não perceber nada disso...
Eu queria muito não saber o que se passa
Achar que tudo terminaria bem
E poder continuar na vida que levo
Não destruir o que não existe
Não ter que baixar os olhos envergonhados...

Eu vou para o quintal depois que a casa dorme
E fico pensando em como cheguei onde estou,
Nas tantas voltas que já dei
E, por fim, penso que deve haver
Alguma finalidade para isso...
Porque não existe sofrer gratuito,
Apesar de, às vezes, tudo parecer parado,
Não há dor que perdure eternamente...
Entro e deito, e fico pensando
Ás entradas dos sonhos...

Essa situação me faz querer pensar
Em épocas raras em que vivi
Fracas nuances da alegria,
Épocas que vão ficando dispersas,
Acinzentadas,
De cujos detalhes vão se perdendo,
Restando apenas algo como
Uma música inaudível,
Ou a remota sensação de lembrança
De se ter tido um sonho bom...

Meu maior esforço é tentar lembrar
Que um dia alguém me amou,
Me amou do jeito que sou,
Sem me negar um pouco de carinho,
Uma brincadeira, essas coisas
Cuja falta nos deixa tão frágeis...
Eu lembro,
Às vezes, da mais recente,
Que já vai longe,
E percebo que ainda não está
Tudo perdido,
Que os ventos um dia vão
Vir para esse rumo...

A vontade que eu tenho,
É tão difícil de saber...
Eu fico lembrando
De um sonho que tive,
De um sonho que se foi,
Mas que me confiou suas lembranças
E eu, em tempos tão secos,
Me refrescos com aqueles tempos,
Tempos que não vivi,
Que imaginei,
Que assim se incrustaram na minha alma...
 
Eu queria não perceber nada disso...

Quer o seu meu coração

 
Quer o seu meu coração

I
Eu que já não podia crer de esperar
Que estava sufocado de desilusão
Que já não queria mais acreditar
Que pudesse ter fim essa solidão...

Eu que no vulto ao longe não confiei,
Estragado por tantas, tantas ilusões,
Que você fosse real, eu desconfiei,
E ia continuar na via de escuridões...

Mas acho que essa hora é de sonhar
Que o meu silêncio vai ter um fim...
Eu gostaria mesmo era de acreditar
Que você veio de verdade para mim...

II
Agora que já vi aqui você chegar
E estender para mim as suas mãos
Sinto que essas coisas vão mudar,
Você pode me indicar a solução...

Depois de tanto tempo sem saber
O que significa um ato de carinho
Ouço a sua voz suave a me dizer
Que não vai me deixar tão sozinho...

Eu, estou meio sem jeito de falar,
Desejo que me entenda, por favor,
Que talvez já não saiba mais amar,
Mesmo assim te darei o meu amor

Porque ninguém gosta da solidão
E porque quer o seu meu coração...
 
Quer o seu meu coração

A face mais usada

 
A face mais usada

Muitas faces existem
Sob a face mais usada
E elas se observam
Mas nunca dizem nada...
Não se dizem nada
As faces que existem
Sob a face mais usada

Nenhuma delas predomina,
Nenhuma quer ser dominada,
Nem mesmo a que aparece,
Sob a forma de fachada,
É mais do que as outras...
Não se permite liderança
Entre as faces abandonadas...

De grandes combinações
Como o avesso do reverso
De infinitos sabores,
Misturam-se essas faces
E se refletem desbotadas,
Sem vontade definida,
Sob a face mais usada...

E a face que é mais vista,
Que é todas e nenhuma,
Pode até sorrir, brilhar...
Mas entre as faces aleijadas
É sempre densa madrugada...
Há grandes gritos indefinidos
Sob a face mais usada...
 
A face mais usada

Amor

 
Amor

Somos da Multidão,
a multidão está em nós,
separar-se dela é perigoso, muito perigoso...

Os riscos aumentam,
as fragilidades aumentam,
as distancias aumentam,
tudo aumenta...
Mas a humanidade que temos,
essa coisa que nos define,
ela diminui...

Sim, precisamos estar juntos...
Não importa se nos machucamos,
não importa o tamanho do mal que nos fazemos...

Somos a Multidão,
a multidão de medos, de maldades, de segredos, de Solidão...
Mas a gente encontra,
encontra no outro o que não está em nós,
e as vezes repudiamos, e as vezes amamos, e as vezes nos afastamos...

Mas não tem jeito,
por mais longe que nos encontremos, sempre voltamos...
A Solidão dissolvida na escuridão faz a gente lembrar,
e lembramos que não somos assim, sozinhos, assim não somos,
e lembramos que a Multidão está sempre a nos esperando...
 
Amor

Infinito Poema

 
Infinito Poema

Claro, por mais genial que seja o poema,
Por mais longo que seja o poema,
Por mais fiel que seja o poema,
Por mais vasto que seja o poema,
De nós ele não leva nenhuma porcentagem...

O poema escrito se transforma a cada leitura
E se adapta imediatamente a história de vida de quem ta lendo.
O poema é apenas um jogo de palavras,
A poesia segue com cada ser humano em suas idas e vindas.

A poesia não é o mar, não é o rio, não é a lua...
A poesia é o olho de quem olhar
Para o mar, para o rio, para a lua...
Na verdade, a poesia é o próprio ser humano,
Sim, cada ser humano é um infinito poema...
 
Infinito Poema

A Nova Realidade

 
A Nova Realidade

Eu não sei como se fará,
mas sei que não devemos desistir.
A nova realidade é possível,
viveremos lá os nossos sonhos

Essas angústias que se apossam
de nosso labutado coração,
todas elas vão se dissipar
e começaremos de novo,
seremos leves com as plumas
e não deixaremos mais de acreditar.

Sim, tudo será diferente,
nada do que nos corrói existirá
e veremos nossos sorrisos brancos,
porque não teremos vergonha de sorrir,
e nossos abraços serão mais freqüentes.

Vejo ali uma nova aurora
e ela vem planificando tudo,
e ela vem revelando tudo,
mostrando como as coisas são simples,
e sua luz amiga mostra-nos o caminho...

Veja as crianças que somos,
temos medo,
não podemos ficar sozinhas...
Os escuros estão habitados,
os fantasmas estão nos observando...

Mas agora nos encontramos
e não importa mais de onde viemos
não importa mais nossos brasões
porque agora todos sabemos
que a força está em andar junto,
que tudo aquilo eram ilusões.

Sim, nós agora nos conhecemos,
não temos mais medo de dizer,
“ Venha, amigo, o caminho é longo
mas tu poderás seguir conosco”.

Agora apreendemos a essência
disso tudo,
o que vale mesmo é estar perto,
o que vale mesmo é ver o irmão
e sentir-se feliz por saber
que ele também vai andando,
e é porque vai que também vamos...

E seguimos sob essa nova realidade
que nossos sonhos vão formando.
 
A Nova Realidade

Busca

 
Busca

1998

Num momento
Uma palavra se tornou necessária,
Ele se dedica com fulgor à tarefa melindrosa de construi-la.

Aprende com os ferreiros as artes da moldação,
Aprende com os matemáticos o segredo do calcular,
A beleza da geometria,
A perfeita ordem numérica.
Aprende com os pássaros o cantar involuntário.
Aprende com os apaixonados as loucuras temporárias,
E as baixezas necessárias...

E aprende e aprende e aprende...

Viveu estudando e, muito tempo depois,
Finalmente compreendeu que a arte
Capaz de moldar a palavra extremamente necessária
Não existe.
É a solução vazia da matemática...

E ele continuou a sentir aquela angústia,
Sem ter com quem dividir a indefinível Emoção
Não podia transmiti-la, nao podia...

Velho, hoje ele escreve poemas,
E sua palavra ganhou formas que
Embalam seus pensamentos.
Num universo onde a maioria é escrava de uma busca,
Ele se libertou.

A palavra Densa não está em seus poemas,
Está em si,
Ele percebeu que senti-la
Era a essência de sua vida,
Que o erro estava em querer decifrá-la.
 
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