Desvendando-te
Sabes tu, do meu desejo antigo
de arrancar-lhe esta máscara
de baile para te provar que sei
há muito, quão belos são,
e tão incandescentes são,
estes teus olhos de mel.
Excitante pô-los incógnitos
ao meu olhar o teu semblante.
Magia detrás desta pálida
e bela máscara Veneziana,
uma boca recortada e fria,
Quiçá outra ardente e sensual,
lábios carnudos e em batom.
Imagino a tez do teu rosto,
suponho-o em toque de veludo.
Possibilidades iguais, teu corpo,
que no poema, desnudo-o...
Primaveril
“flores em profusão,
sentimentos soltos,
borboletas, evolução.”
místicos momentos
confortáveis me são...
‘coração; um oceano’
fórmulas alquímicas;
pele impregnada dos
finos perfumes, todos,
aspergidos da alma
sob sóis primaveris....
o poeta é sentimental;
não economiza versos
quando extrai da poesia,
a melhor fragrância.
guardada em frascos
de belas lembranças;
entre extratos e dons.
Desnudo
tomo sua poesia em goles curtos
saboreio-a palavra por palavra.
exaurido que estou; alimenta-me,
reconforta-me saber-te amar-me
ah relembrar das tantas desilusões
percorrida de castiçais, corredores...
por que não vos encontrei antes
que fosse luz em imagens murais
repintada nos meus raros sonhos.
infindos são meus pensares em ti
obsta o desejo, no tempo que urge
nesses encontros e desencontros
movimento quais astros diuturnos,
desumanamente impondo, sidéreo.
enquanto isso, meus versos revoam,
e meu coração ainda que túrgido,
lamenta não te ter aqui em mim
em verdade, num estar corpóreo
e não diluída em perfume poesia.
nesse sentir que nada espera.
...e tão somente meu sentir...
o meu amor. desnudo.
ANÔNIMA
Não me chamava tanta atenção aqueles grandes olhos acastanhados, emoldurados entre os longos cílios postiços.
Tampouco sua pequena boca ornada com lábios carnudos a sobressair no rosto largo e moreno de sol.
Os longos cabelos negros caídos sobre os seios maçãs, escondiam parcialmente os delicados mamilos debaixo da blusa de voil; túmidos pela aragem fresca soprada à beira mar.
Via-se nitidamente seu ventre se contrair ao menor toque dos dedos delgados, unhas alongadas e esmaltadas escandalosamente, sinalizando para baixo da minissaia, que abrigava seu fruto raro de possuir, mas disponível para quem dispusesse pagar caro.
Décimo terceiro chopp, na tarde caída e eu sem pressa nenhuma de sair dali.
Na esquina, ela era a única a desfilar à passos curtos vitrinando o belo par de coxas, pernas andarilhas, naturalmente rijas, guardiãs imponentes do seu ponto.
Bebi o último chopp, paguei a despesa, e me encaminhei para o cafofo que quisera um dia alugar para ela...
Já de manhã, cada gole de café acentuava o amargor da boca.
Com facilidade, comecei a lembrar-me do sonho bom cena por cena, ou pesadelo; resquício duma tarde etílica.
Raquel
como teu olhar cativa...
ensaias um mirar de soslaio
que atrai e impressiona.
é de deixar qualquer um assim;
completamente perdido
nestes grandes olhos de mel
inquietos, com sabor de desejo...
tantos segredos a desvendar,
faz-me pensar no teu corpo,
vontade de beijar tua boca
‘esta boca cheia de mistérios’
talhada como se com cinzel.
pedindo; faz amor comigo;
depois de um poema quente
como só tu sabes fazer...
‘docemente indecente’
Canção hibernal
aquela insistente canção do vento
sibilando nas frestas das venezianas
‘da janela do meu quarto’
é a única e indivisível comprovação
que; por ti ainda não morri de amor...
Dispnéia
se te amo
nas ausências
desse amar.
aproximo,
desaproximo,
me deixo levar
no teu mar
'à deriva'
qual um náufrago;
atraído
as profundezas
do teu amar.
e qual um peixe;
'submirjo'
na ânsia
de te encontrar...
te amar
é preciso
no meu precisar;
como se pra
respirar
precisasse
de ti
como ar.
Variabilidade
cortejados e ou
invejados, serão
alguns poetas
nas suas cotidianas
escrivaninhas;
‘habitat natural’
perseguidos então,
de qualquer forma,
se constatada a evolução
da sua evidente arte;
‘abraçada com serenidade’
lívidos e persistentes
celebrarão cada palavra,
igualmente assim, se;
cirandas de versos,
sonetos diversos,
poemas concisos,
‘poesia expressa’
num sobrevoar.
liberados de risos
e livre poetar;
simples assim...
‘sem aquele gosto amargo’
dos que tentam gessar.
Marinhada
.
amar é dançante; se par constante
assemelho-o aquele mover na areia
da espuma nas marolas ondulantes
da onda; indo e vindo, incessante.
Bebendo-te
há nos teus olhos
o perfume e o sal.
nas tuas lágrimas
de amor; buquê,
qual vinho denso,
presente, marcante
ao descer suave
em tonal suferino
na taça de cristal.
na borda; o olor.
na boca: o gosto,
da canção de amor.