Naamah
Singra sobre as profundezas, o argonauta
Flainando no vento glaciar pelo temporal.
Na ribalta avulta-se uno corpo celestial,
Um sibilar seráfico duma insípida pauta.
Na noite em que desvela a superfície,
Quão frívolo se revela esse leme gris!
Entre vagas de nuances, a parda matiz
E um siroco sem chances em calvície.
Oh! Ciclone tornado…
Alija-o desta brisa… Querubínica.
Oh! Mísero tornado…
Olvida-o desta cacimba… Anímica.
Os filhos de Lucy só tangerão no futuro.
Lá… Onde jazem como perdidos tesouros,
Vivem e morrem desconhecidos agouros.
Lá… No inexplorado sublime soturno.
Não é aqui! É lá o seu tugúrio!
Lá… Onde a alta gravidade eleva.
Onde a baixa temperatura evola.
Não é aqui! É lá o seu túmulo!
Trepidam, não ousam afundar-se…
Nem Naamah, possuindo sem desejar!
Para quê pela sua possessão obsidiar?
Aterra o terror onírico! Sinistro vórtice!
Solidão
Solidão! Porque não me deixas sozinho?
Autópsia
Sinto, às vezes, uma vontade
De descrever o meu ser no tempo,
Embalsamado em palavras, o sentido,
Parece aparecer desnorteado.
Abstracção morta do intuitivo viril,
O cadáver permite a autópsia.
Conhecer pela morte a vida.
Ó paradoxo do conhecimento, vil,
Que verdade te é subliminar?
Que sentido esperas encontrar
nas entranhas das palavras?
Não, não respondas com falsidade.
Tic Tac
Tic…
Pensador
Tac…
Perguntas retóricas
Tic…
Sonhador
Tac…
Distopias utópicas
Tic…
Pregador
Tac…
Descanso eterno
Tic…
Criador
Tac…
Divina palavra
Tic…
Legislador
Tac…
Leis do universo
Tic…
Governador
Tac…
Natureza
Tic…
Predador
Tac…
Cadeia alimentar
Tic…
Reparador
Tac…
Anatomia humana
Tic…
Imitador
Tac…
Tecnologia animal
Tic…
Hipnotizador
Tac…
Opinião pública
Tic…
Ajuízador
Tac…
Bem e mal
Tic…
Pesquisador
Tac…
Bomba Atómica
Tic…
Moralizador
Tac…
Capital
Tic…
Inovador
Tac…
Selva robótica
Tic…
Ditador
Tac…
Patriótico
Tic…
Historiador
Tac…
Cataclismos
Tic…
Amador
Tac…
Coração sanguinário
Tic…
Matador
Tac…
Herói de Guerra
Tic…
Entretecedor
Tac…
Maquiavelismos
Tic…
Conhecedor
Tac…
Ingénua ignorância
Tic…
Pleiteador
Tac…
Pena capital
Tic…
Competidor
Tac…
Rat race
Tic…
Impera
Tac…
Dor
O 1 que queria ser 0
num sistema binário
houve um número 1
ao contrário dos outros
nao ansiava se multiplicar
a soma já era absurda
assim estava divido
sem saber como se subtrair
para se tornar um 0
Amador
Antes de ser já em ti era,
Nasci, gatinhei, os primeiros passos
Dados foram na tua direcção,
Ainda que de tal ignorante.
Entre sonhos cor-de-rosa e pesadelos
Vi-te num relance abrupto,
Consciência sem ilusão
Não influenciável pelo alheio,
Pelos vilipêndios infantis.
Confesso que angustiou,
Mas morri de amores por ti.
Inúmeras tentativas esquecidas
De te ofuscar da memória,
Umas mais, outras menos longas,
Como as recaídas implícitas.
Mesmo quando ausente, eu sei,
Escondias presentes no coração.
Hoje em dia, não posso viver
Nem com, nem sem ti,
Se não te tenho é porque tenho,
Se te tenho é porque não tenho.
Feitos fomos, eu para o outro.
Não paro de em ti pensar,
Da mente te expulsar,
Por muito que me faças sofrer,
Não, também não o quero,
Viver sem estar ciente de ti?
Destinados um para o outro, sei
E sei que um dia, um dia,
Mais tarde ou mais cedo, cedo,
Aí vou-te ter, tu vais me ter,
Mais tu a mim que eu a ti.
Perder-me-ei nos teus braços,
Envolto por felicidade para sempre.
Quanta distância nos trespassa,
Podia ir ao teu encontro, podia,
O caminho pode ser duro, receio,
A tua negação e de ter de viver,
Com imprevistas consequências,
Pusilâmine, aguardo para te conquistar.
Se não for para ti virás para mim.
Nesta relação amor-ódio,
No fim o amor triunfará,
Mesmo que te odeie de morte.
O quarto segredo de Fátima
Não digam a ninguém... mas o quarto segredo de Fátima é que os três pastorinhos eram esquizofrénicos.
Funâmbulo
Um funâmbulo caminha na direcção da morte sobre a linha imaginária do tempo.
Homo demens
Trata-se de um ser de uma afectividade imensa e instável,
Que sorri, ri, chora;
Um ser ansioso e angustiado;
Um ser gozador, embriagado, estático, violento, furioso, amante;
Um ser invadido pelo imaginário;
Um ser que conhece a morte e não pode acreditar nela;
Um ser que segrega o mito e a magia;
Um ser possuído pelos espíritos e pelos deuses;
Um ser que se alimenta de ilusões e de quimeras;
Um ser subjectivo cujas relações com o mundo objectivo são sempre incertas;
Um ser submetido ao erro, ao devaneio;
Um ser híbrido que produz a desordem.
E como chamamos loucura à conjunção da ilusão, do desconhecimento,
da instabilidade,
da incerteza entre o real e o imaginário,
da confusão entre o subjectivo e o objectivo,
do erro, da desordem,
somos obrigados a ver o Homo Sapiens
como Homo Demens.
Edgard Morin
http://danceavida.com/textos/homosapiens.htm
Música, Poesia, Forma e Conteúdo
Começando do fim... Fazer poesia necessariamente pela forma, ou seja, pela métrica parece ser mais uma restrição do que outra coisa, que vai confinar o conteúdo.
A poesia provavelmente surgiu da música, como acompanhamento, uma espécie de música e parte da forma da música.
Então,a minha questão é, fazer música limitando-se à forma, aos tempos, é pelo menos análogo a fazer poesia limitando-se à métrica.
O problema, soará bem uma musica sem tempo constante? Porque a poesia como é uma forma da música que alcançou independência não necessita de ritmo, mas será o mesmo quanto à música?