Os desejos são pedidos feitos em surdina pelo nosso 
coração e que nos vagueiam pelo espírito e pelo 
corpo.
São como nuvens altas que nos desviam a atenção e 
que correm lentamente no nosso horizonte visual 
até que desaparecem no infinito das nossas 
impossibilidades.
São sementes que plantamos na terra fértil e 
firme da razão, fazendo crescer seus frutos 
como se fossem belas e apetitosas maças,
prontas a serem mordidas por bocas carecidas de 
renovados sabores a vida.
São águas calmas de um rio que aparentam poder
matar em nós a sede que trazemos de mergulhar na 
profundidade do tempo, mas que às vezes apenas 
nos deixam aportar nas velhas recordações que há 
muito estão inquinadas pelo sofrimento. 
Desejos são as tentações de alguns dos nossos 
sentidos, que escapam do âmago dos seres à 
procura de ganharem expressão e que são nada mais 
nada menos para os poetas,
que uma ânsia legitimada de se fazerem passar por 
seres especiais que encantam com as suas 
melodias e nos cantam ao ouvido da consciência, 
porque trazem consigo o intuito firme de 
querer levar através da associação de ideias, do 
uso de metáforas e das palavras,
um pouco de conforto, de alegria, de paz e amor, 
a todos os seus amigos.
Mas os poetas não são santos porque nos perturbam 
e revolucionam a alma,
Nem tão pouco são ingénuos seres porque o fazem 
sabendo!
Beatriz Barroso