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Prisioneiros do mundo interno

 
 
Procuras saber quem sou?
Tentas encontrar para lá de um rosto, traços de uma vida, pedaços que possas alastrar. Vasculhas incessantemente e trocas conversas com o outro ao teu lado.
Queres saber quem eu sou? Que importa quem sou?
Porque escrevo e porque o faço?
Tu quem és?...Não respondas um nome, um cunho pelo qual te apresentas. Quem és?...Não sabes!
Encontras-te tantas vezes nas minhas palavras mas focas o olhar em descobertas vagas.
Não poderás saber quem sou, o que sou nunca será o que encontras.
E tu quem és?...Não sabes, jamais te procuras para não correres o risco de te encontrar, não suportas olhar o espelho de frente com a silhueta despida e alma aberta na claridade.
Não encaras o passado e do presente foges.
Outorgas culpas e julgas culpados na vã esperança de te libertares…
As grades estão cravas e inquebráveis no centro de tudo…
É a solidão, respondes, a solidão! Essa é a tua construção do paralelo exacto em que te focas na dispersão do “eu” em intima comunhão com a confusa mente que esquece…
Movimentas-te com sorrisos e deixas cair dos lábios conversas supérfluas, falas cada vez mais e entendes de muitos e variados assuntos. Se não encontras ninguém usas o telemóvel, mandas uma mensagem, assim a mente está ocupada.
Dizes saber dos distúrbios dos alheios e gritas que queres dar-lhes a mão, na mão esquerda tens sempre um lenço para aparar as lágrimas, a mais nobre acção de solidariedade…
Mas e tu? Quem és tu?
Onde te perdes-te?
Não te encontras mas buscas em mim a solução.
Encara de frente os teus medos, limpa o teu interno sótão, abre os livros antigos com os projectos futuros, deixa cair o nome que te encobre o rosto. Vive a tua solidão deixa a multidão em espera (ela espera sempre no mesmo lugar), agradece a vida a Deus, sente a beleza das flores,”olha os lírios do campo” e os pássaros que das sementes se enfartam. Agarra o tronco de uma árvore que vive há séculos com as raízes sólidas numa terra fértil, abraça-a sente a sua força motivadora…
Não grites liberdade sem quebrares as correntes invisíveis que emolduram a tua verdadeira essência.
E eu quem sou? Sou um “eu” tal como tu e tu um “eu” à imagem de todos!



Ana Coelho
Os meus sonhos nunca dormem, sossegam somente por vagas horas quando as nuvens se encostam ao vento.
Os meus pensamentos são acasos que me chegam em relâmpagos, caem no papel em obediência à mente...

 
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AnaCoelho
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Enviado por Tópico
Nanda
Publicado: 19/08/2010 20:16  Atualizado: 19/08/2010 20:16
Membro de honra
Usuário desde: 14/08/2007
Localidade: Setúbal
Mensagens: 11076
 Re: Prisioneiros do mundo interno
Aninha,
Afinal todos somos iguais e vulneráveis qb.
Beijinhos
Nanda


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 19/08/2010 20:38  Atualizado: 19/08/2010 20:38
 Re: Prisioneiros do mundo interno
Adorei teu texto Poeta!
Belissimo e muito profundo, li e reli!
Muito bom!Open in new window


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 20/08/2010 18:34  Atualizado: 20/08/2010 18:34
 Re: Prisioneiros do mundo interno p/AnaCoelho
Ana, pareceu-me ler aqui UM GRITO, nele há um discurso que demonstra conhecer bem o terreno da Psicologia. O certo é que tens aqui uma prosa muito construtiva , assim saiba quem te lê extrair as devidas conclusões.
Excelente!
Bj


Enviado por Tópico
Epifania
Publicado: 24/08/2010 08:52  Atualizado: 24/08/2010 08:52
Super Participativo
Usuário desde: 02/07/2010
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Mensagens: 179
 Re: Prisioneiros do mundo interno
- Um texto bem elucidativo das nossas mais variadas criações vs sujeições, criando imagens fidedignas de nós mesmos.Uma boa leitura.

- Concordo. Um bom texto, avaliando os motivos que levam à dispersão do eu, e avaliando os medos de que se reveste o ser humano, sempre que parte para outras movimentações do olhos.

-Beijo Ana Coelho
- Abraço Ana