Sinto é um medo, um medo insuperável 
Defronte das alturas misteriosas. 
E dizer que me agradam andorinhas 
No céu e do campanário o alto vôo! 
Caminheiro de outrora, cá me iludo 
Pensando ouvir à borda do abismo 
A pedra a ceder, a bola de neve, 
O relógio batendo eternidade. 
Se assim fosse! Mas não sou o peregrino 
Que vem dos fólios antigos desbotados, 
E o que em mim real canta é esta angústia: 
Certo – desce uma avalancha das montanhas! 
E toda a minha alma está nos sinos, 
Só que a música não salva dos abismos! 
                
        
                Ossip Mandelstam, poeta russo.
In: Guarda Minha Fala para Sempre
Editora: Assírio & Alvim, 1996
Tradução: Filipe Guerra e Nina Guerra.