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Vou-me Embora pra Pasárgada (Manuel Bandeira)

 
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

Manuel Bandeira, poeta pernambucano. Texto extraído do livro "Bandeira a Vida Inteira", Editora Alumbramento – Rio de Janeiro, 1986, pág. 90

 
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AjAraujo
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 21/08/2011 12:22  Atualizado: 21/08/2011 12:22
 Re: Vou-me Embora pra Pasárgada (Manuel Bandeira) - Para Alberto
Valeu pela lembrança, Alberto! Esse eu vou carregar comigo. Manuel Bandeira é uma das figuras que me fazem ter orgulho por ser pernambucano.

Valeu mesmo, sempre me arrepio ao ir pra Pasárgada junto com o Manuel...