Poemas : 

Até ao "Último Capítulo"... temos ENREDOS*

 
Tags:  VII EVENTO - 2013  
 
TREZE



Capítulo I

Treze eram as pessoas. O grupo de oito homens e cinco mulheres adentrou no luxuoso barco para passeio por ilhas próximas. Todos eram tripulação e convidados do dono da embarcação, chamado respeitosamente Almirante. Anoiteceu em alto mar. Grande tempestade tomou de assalto o barco, que com dificuldade singrava na escuridão ondas gigantes lançadas sobre o convés. Faziam imensos esforços para que não adernassem, quando se ouviu:

-Mulher ao mar! A esposa do Almirante... No desespero, o homem canhoto, ainda tentou resgatá-la lançando ao oceano uma boia, quando teve punho e mão esquerda decepada por um dos tubarões, que sumiram com a infortunada senhora no meio do breu. Rapidamente fizeram-lhe um torniquete. Após boas doses de rum cauterizaram com ferro em brasa o ferimento. Uma vez cessada a tempestade e foram descansar.

Capítulo II

Senhor de grande fortuna e certa deformidade de caráter, numa época de medicina rudimentar, o Almirante não aceitou a mutilação. Assim, propôs em separado a cada tripulante: compraria a peso de ouro seu punho e mão esquerda. Quem tivesse coragem de decepá-la e servi-la como iguaria mais diferenciada, em bandeja de prata, aos outros convidados receberia mais dinheiro.

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ABLAÇÃO ALIMENTA AMBIÇÃO



Poesyck – ilha localizada no centro do Triangulo das Magias, governada pelo mago Peace Alquimium, grande mestre do poder da benevolência e da magia universal. Sua alma esotérica era praticamente constituída de dons benignos, mas continha pequena parcela de cunho maligno na mão esquerda, mas que não interferia na sua bondade. Peace Alquimium nutria o desejo de eliminar de vez toda e qualquer bruxaria demoníaca que interferisse no reino de luz destinado à humanidade.
Havia muitos magos de segunda e terceira categorias, porém onze deles causavam-lhe preocupações por se deterem em magias pelo caminho da mão esquerda, cujos atos evocavam sacrifícios satânicos. Por muito tempo investigou aqueles bruxos e não tolerando mais suas atitudes ocorreu fazer-lhes uma proposta. Pensou nos prós e contras e decidiu enviar instigantes missivas convites a cada um.
Evelyn Smith, Randolf Müller, Eleanor Creman, Anastácia Soy, Andrew Silver, Anah Rymond, Paul Clarency, Mathews Madeira, Peter Villar, Arthur Vidal e Antony Salvatori, todos com idades entre 40 e 50 anos, receberam a correspondência do Mestre das Magias, e imediatamente entraram em contato entre si para levar a cabo a proposta ali contida. Após pequena assembléia deram início aos preparativos que terminariam no grande e ambicionado banquete que aconteceria dentro de doze meses após o primeiro sacrifício. Fizeram um sorteio para estabelecer o dia e qual deles seria o primeiro a ofertar o manjar.
Assim, os meses foram passando e um por um se fez anfitrião, alimentando e sendo alimentado com suas próprias carnes de acordo com a carta convite recebida que dizia:
Do alto e do poder que me cabe comandar, reestruturar e pacificar todos os atos cometidos pelas inteligências mediúnicas existentes nesta esfera planetária proponho: Que os detentores de poder que utilizam as magias do caminho da mão esquerda usando da supremacia do ocultismo, que receberem esta carta, cortem suas mãos esquerdas na altura do antebraço e ofereçam entre si como manjar durante onze meses consecutivos, sendo que em cada mês seja consumido apenas um manjar por vez. Desta forma se alimentarão da magia um do outro e com isso o dom negro será erradicado de vossos atos e anseios. No décimo segundo mês, se farão presente nesta ilha de Poesyck, com seus trajes de gala, onde ofertarei um banquete cujo prato principal será minha mão esquerda cortada no pulso, pois que o lado obscuro do mal em minha essência é de pequena proporção. Quando tiver servido a todos e não mais restar resquícios de unhas em vossos pratos, receberão de mim a visão e todo o conhecimento que advém da Pedra Filosofal.

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CANIBAIS ANÓNIMOS



Em todo o mundo, são diariamente inúmeras as pessoas que desaparecem sem deixar rasto, e muitas as famílias que aguardam o regresso de um ente querido que muito provavelmente já morreu, mas cujo corpo nunca apareceu. Na realidade, alguns destes casos poderão estar interligados, e possuir uma só explicação, explicação esta que não aparece nos jornais ou na televisão, mas que é bem real.

Tal como existem viciados em cocaína, heroína, crack, ou outro tipo de drogas ou substâncias ilícitas, existem também viciados na própria carne humana. Esse não é um vício comum, mas quem de facto consome este tipo de alimento, se é que o podemos chamar assim, fá-lo pela adrenalina de matar outro ser semelhante, ou de digerir um “fruto proibido”, que portanto, poderá ser bem mais apetecível. Ao contrário de um viciado em droga ou em álcool, que pode ser reconhecido pela aparência, um viciado em carne humana não é facilmente reconhecido, e poderá ser qualquer um: um amigo, um familiar próximo, o nosso pai ou mãe, até nós próprios que inconscientemente, compramos “gato por lebre” a um dos anteriores.

Imaginemos também as mortes inexplicáveis, algumas delas de jovens, em blocos operatórios. Serão assim tão inexplicáveis, ou terão muitas delas sido provocadas propositadamente, para tráfico de órgãos humanos? E estaremos mesmo a falar de venda ilegal de órgãos humanos? Provavelmente sim, mas muitas vezes venda para consumo, e não só de órgãos. Existe actualmente uma rede de tráfico para canibalismo bem definida, e que possui uma dimensão já bastante significativa.

Do mesmo modo que existem grupos de alcoólicos anónimos, existem também grupos para “canibais anónimos”, estes formados em completo sigilo, não fosse o simples facto da sua existência ser tão peculiar. Poucas são as pessoas que ouviram falar deles, mas eles existem, e poderão ser compostos por pessoas do género masculino ou feminino, de maior ou menor estatuto na sociedade. Cada grupo passa por um ritual final, e é nesse ritual que os seus elementos provam que querem de facto exterminar o vicio que sentem.

Este ritual é um ritual de sacrifício. Nele, todos os participantes do grupo, à vez, e em reuniões isoladas, doam um pouco da sua própria carne, e partilham-na uns com os outros. O objectivo é sentirem na pele o sofrimento que infligiram nos familiares das pessoas cuja carne consumiram anteriormente, e observarem de perto o sofrimento dos restantes membros do grupo que oferecem também a sua carne. Com o fim das reuniões de ritual, todos estariam teoricamente livres do vicio, e portanto, a existência do grupo deixaria de fazer sentido.

Rodrigo Wallenstein era um dos membros de um desses grupos, e durante meses, tinha participado activamente em todas as sessões de discussão de experiências vividas, relacionadas com o canibalismo. Rodrigo era um homem de meia idade, tal como todos os restantes elementos do grupo, mas ao contrário de todos eles, era uma pessoa bastante influente na sociedade onde se encontrava inserido. O grupo estava já na fase de ritual, e Rodrigo não consumia carne humana desde que começara toda essa jornada, apesar de ainda ter escondidos dentro da sua arca frigorífica, uns bons pedaços, para emergências que pudessem vir a surgir. O fígado, o coração e as nádegas eram aqueles que mais apreciava.

Naquele dia, era a sua vez de sacrificar um pouco de si, e portanto, convidara todos os seus companheiros do grupo para um jantar na sua casa de férias, junto ao mar. Ele era o anfitrião daquele dia, e portanto, já tinha preparado a sua oferenda, e atendido aos ferimentos que a mesma lhe proporcionara. Quando a hora de servir o jantar chegou, Rodrigo segurou a enorme bandeja onde anteriormente depositara o seu sacrifício, já cozinhado, e dirigiu-se para o salão, onde os restantes membros do grupo de canibais anónimos o esperavam ansiosamente.

Infelizmente, o aroma daquela carne descontrolou-o ao longo do percurso para o salão, e a tentação de chupar e deliciar-se com todo o sangue daquele pedaço de carne foi de tal forma poderosa, que ele não aguentou. Sem hesitar regressou rapidamente à cozinha, e atirou a bandeja para cima de uma mesa. De seguida, dirigiu-se à arca frigorífica, e procurou rapidamente por outro pedaço idêntico de carne humana. Tinha sorte, pois daquela vez comprara meio humano, o que significava que tinha ali o mesmo tipo de carne que pretendia oferecer.

Para disfarçar, atirou esse pedaço para o microondas, e girou a roda para o máximo de potência. Iria levar a sua oferenda ainda um pouco crua, apenas um pouco quente, e se não gostassem, paciência! Só esperava que não detectassem a troca, e que ele pudesse guardar aquela que seria para si uma excelente sobremesa, após a reunião.


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A MORTE E A ARTE



Tomado pelo espirito sinistro da arte pôs-se a dar formas, encurvar linhas a desconstruir o plano do espaço de mármore; a escultura repousava viva sobre o pedestal. Como uma Vênus, ela se insinuava para o observador, seus seios duas maças, seus lábios entreabertos como que congelada em um momento solene, sua pele lívida como perola do mar. Era o resplendor dos anjos e a beleza das antigas deusas pagãs. Em nenhum momento pensaria em fazer algo tão belo. O artista emocionado pela criação tocou-lhe a face e teve a certeza que jamais existiria nessa, ou em outra realidade, peça de tão rara aparência.
Porém, não somente, o artista encontrava-se naquele aposento. A Morte o espreitava! Vagando entre as sombras do silêncio ela vigiava cada passo, cada suspiro, cada pincelada.
- Dê-me tão magnifica senhora! Bradou a Morte. Sua voz um rio negro, ora brando ora tempestuoso.
O artista recuou e fitou a imensa figura que se alongava e distorcia com o manto da noite.
- Dê-me tão magnífica senhora! Exclamou novamente a morte.
O artista olhou para a perfeição do que acabara de criar e soube que não poderia se desfazer dela, mesmo por um pedido da própria morte.
- Dê-me tão magnífica senhora e não conhecerás o fenecer das eras, não conhecerás a dor da não-vida retirando a última centelha eterna de seu corpo. Não verás o tempo corroer tua carne, nem dominar a sua feição.
Havia uma encruzilhada a frente: a imortalidade, ou a perfeição. Assediado com a ideia da vida eterna e com o coração pesado ele escolheu. Então a Morte foi embora, deixando silêncio e o pedestal vazio.
Os anos se passavam e os dias progrediam com a obsessão da beleza perdida. Por mais que tentasse jamais conseguia produzir algo similar. E ao fim do processo destruía a obra e passava horas se lamentando até recomeçar. Se pudesse morrer, morreria! Mas até isso lhe fora tirado. Ele vagava sem esperança e sem medo pelos becos e vielas noturnos. Sua loucura repuxava e ganhava forma, assim como magia da perfeição que lhe foi tirada: A visão do Paraíso perdido... A musa da inspiração dos campos divinos.
Então como que iluminado por sombria epifania vislumbrou sua “prima-dona” em uma mulher que passava ao ocaso. Ele a levou para o seu atelier, a tomou de corpo e alma e pôs-se a retrata-la, mas não era como a sua musa de toda beleza universal. Dessa vez ao termino, não destruiu a obra e sim a modelo. O sangue jorrava quente por entre os seus dedos... E agora, a mulher jazia flácida e inerte. Madelene, Lucrecia, Catherine... Prostitutas, sacerdotisas, belas moças, mulheres como a Vênus fora um dia ao inspirar homens e mulheres com sua fascinante beleza, mortas pelo artista que não encontrava a paz. Todas tinham algo que a sua antiga escultura possuía, mas nenhuma delas conseguia ser completa como ela foi.
Quando mais de Cem estátuas haviam em seu atelier, o artista vazio de alma ateou fogo no lugar e as labaredas começaram a devorar suas obras, ele sentou-se no meio da chamas para esperar por ela. A Morte enraivecida se ergueu das chamas.
- Eu dei-lhe a imortalidade e tu me procuras?
- Não há nada para ser vislumbrado que não a beleza dela. Devolva-a a mim.
- Não pode ter aquilo que eu levei, nem aquilo que está para além do que pode ser vislumbrado. Tens me servido, mas o destino foi tecido.
- Então não resta nada, nem hoje, nem nunca!
O artista fechou os olhos e sentiu as chamas ao seu redor o devorar. A morte compadecida o levou para os seus domínios nos reinos de Além-tumba. O artista acordou em uma sala com 11 impressionantes obras de artes: quadros e esculturas retratavam imagens tão belas que todo tempo seria pouco para melhor observá-las. No centro do imenso aposento, a 12º figura repousava coberta sob uma cortina vermelha, tinha de ser “ela”, tinha de ser. Aproximou-se afoito para desvelar o que havia sob o pano, mas a Morte surgiu à sua frente.
- Enfim, poderá retornar à ela. Mas antes deve sacrificar algo a mim. Como em vida renegou o dom que lhe ofertei, deve servir a sua própria essência até que não lhe reste nada e possa finalmente partir.
A Morte então apontou a direção de uma pequena mesa com um cutelo muito afiado e uma bandeja de prata, ele olhou para si e soube o que deveria fazer. Só pensava no momento em que a veria novamente, não importa se para isso tivesse destruir a si mesmo aos poucos. Imaginou que poderia olhar para ela por toda eternidade e assim o faria, naquela eternidade de poucos minutos que se passam quando atingimos o divino. Houve um estalar, mas ele quase não sentiu, apenas pegou a bandeja de prata e foi para o banquete, pois essa noite ele seria o anfitrião.

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O PACTO



I.

Noite qualquer do mês de abril. No imenso salão, um enorme lustre balançava suavemente com a brisa, refletindo nas paredes refulgências dos pingentes de cristal.
Próximo à janela sentia a aragem da noite. Figura singular, idade indefinida. Corpulento, o abdome proeminente disfarçado sob o talhe perfeito das roupas. Trazia nos olhos algo peculiar. Um brilho diferente, que combinava com movimentos sutis dos cantos da boca. Incomum também o fato de jamais ter sido visto com a cabeça descoberta e sem indefectíveis luvas grossas e negras. Costumava manter o braço esquerdo dobrado, a mão enluvada enfiada no colete, quase totalmente escondida.

Ao ser avisado pelo serviçal que os convidados haviam chegado, teve um sobressalto de alegria. Esfregaria as mãos e até bateria palmas, se pudesse. Olhou para um dos quadros. Uma figura com mesmos traços físicos, a mesma característica das mãos, parecia sorri-lhe, num esgar sardônico. Dirigindo-se ao retrato, disse:
- Chegaram! Vamos ver o que temos desta vez...


II.

Algum tempo depois, olhava quase com ternura para as doze pessoas que acabaram de selar o pacto. Cada um deles já havia participado de outras empreitadas, mas aquela tinha um toque especial. Poder, riquezas e glórias oferecidas a cada um deles. Em troca, deveriam cumprir uma tarefa e manter segredo sobre tudo o que vissem e soubessem. Uma vez iniciado, o pacto não poderia ser rompido, devendo o participante comparecer a todos os eventos e obedecer rigorosamente às regras.

Foram escolhidos com cuidado. Oito homens e quatro mulheres. Idades diferentes, mas não discrepantes. O soldado era o mais velho. Um operário desempregado, um médico, um ator já em final de carreira. Um político expatriado de um país vizinho, um jogador de futebol sem expressão, um engenheiro de minas e um comerciante, completavam as figuras masculinas. As mulheres, uma atriz decadente, a viúva de um senador, uma advogada e uma empresária de pretensa grife de luxo, a mais jovem do grupo. Selado o pacto, proferiram solenes os juramentos.

Cada qual foi orientado que, no devido tempo, receberia um livro com instruções. O primeiro a ser sorteado seria anfitrião de um convidado. A cada vez que um deles fosse contemplado, haveria um jantar, com um anfitrião diferente, o qual servira o acepipe principal. Os não sorteados não estariam presentes, apenas os que já eram ricos e famosos ocupariam a volta da grande mesa de banquetes. Não poderiam abster-se de comparecer, nem recusar os pratos, sob pena de perdimento do que já auferiram e outros castigos terríveis.

Um roteiro a seguir. Sempre, o anfitrião seria o último a entrar no salão, somente trazendo o acepipe após todos os convivas estarem em seus lugares. A cada jantar, um conviva seria acrescentado à mesa até que o último anfitrião servisse os onze já contemplados e saciados em seus sonhos de riqueza.


III.

Dias se passaram sem nenhuma novidade. Até viu nos jornais que um jogador de futebol, já em final de carreira, recebera um convite para treinar uma seleção no Oriente Médio. Um contrato milionário, por vários anos. A realização pessoal e profissional para aquele homem. Um mês depois, outra notícia chamou a atenção.

Um político expatriado de um país da America do Sul fora reconduzido ao cargo. Uma assembleia nacional declarou que havia sido destituído ilegitimamente, determinando a volta. Reassumiu, conduzido nos braços do povo. Na cerimônia da posse, dava gargalhadas sonoras, sem se importar com o local e os presentes. Nem mesmo ficou um pouco consternado diante dos olhares de censura de raros membros da oposição.

Assim foi acontecendo durante mais de um ano. Pelos jornais tomava conhecimento que membro do grupo havia ficado rico e famoso. Pensava quando seria a sua vez de receber o que tanto ambicionava. Quase madrugada, pelo noticiário, viu que uma antiga atriz fora reconhecida pela Academia de Cinema pelos serviços prestados em prol da arte cênica. Já havia assinado contratos milionários com redes de TV e produtores de cinema locais e estava de malas prontas para embarcar para os EUA e Europa, onde mais contratos a esperavam.

Começou a prestar mais atenção quando a mulher disse que, apesar do acidente que sofrera, esperava poder ainda atuar. Daí reparou que ela tinha a mão esquerda amputada, à altura do cotovelo Fechou os olhos e puxou pela memória. O jogador de futebol, agora técnico famoso usava um agasalho grosso e luvas. O político que vira numa reportagem estava com o braço esquerdo numa tipoia que encobria a mão.

Procurou saber sobre os demais e constatou estarrecido. Todos eles haviam sido amputados quase da mesma forma, um a um. Relatava cada qual um tipo de acidente, mas ele sabia que não era bem isso. Alguns davam a alma, ele teria que dar a mão esquerda. Era a retribuição, a paga para receber sua riqueza.

Pensou:

- Para ficar rico e famoso, dou de bom grado até meu braço esquerdo inteiro...



IV.

Há cerca de um mês, ficou sabendo que a advogada fora convidada para um cargo importante no Alto Comissariado das Nações Unidas, com polpudos salários e possibilidades de ascensão em cargos mais altos. Também ela não mais exibia a mão esquerda. Era a décima primeira do grupo. Não restava mais ninguém, a não ser ele.
Na mesma semana foi procurado por um advogado que deu a noticia: um tio, do qual nunca ouvira falar, havia falecido e deixara-lhe toda a herança. Propriedades, obras de arte, investimentos e ações em um valor com o qual jamais sonhara. E assumiria títulos nobiliárquicos. Os contatos seriam feitos em uma cidade do litoral e recebera as passagens e reservas. Chegara a sua vez de ser o anfitrião.
Já no resort, ainda no grande hall, finalmente recebeu o livro de que ouvira falar. Um alfarrábio vetusto, em couro e metal entalhado. No pergaminho da capa, uma fina iluminura medieval do mais puro ouro. Enfim! Logo mais receberia também o premio. Esfregou as mãos de contentamento, mas logo em seguida parou. Bem sabia que seria a última vez que faria isso.

A brisa marítima invadia o hall. Ali mesmo em pé, começou a ler. Arrepiou-se. Então era esse o tal segredo. Uma onda de terror e desanimo abateu-se sobre seu entusiasmo. O peito palpitava e a boca ansiava por saliva. Desabou em uma poltrona. Pelas grandes janelas a brisa envolveu seu corpo. A maresia penetrou na garganta, deixando um gosto salgado na boca ressecada.
Admirou-se como os outros tiveram tanta coragem para consumar tal ato. Alguns mais de uma vez. Duvidou de si mesmo. Teria coragem para tanto? A visão turvou-se, o estômago embrulhado seguido de náuseas. Já se havia imaginado sem a mão esquerda e até se acostumara com a ideia. Pesquisou sobre próteses e achava que poderia viver muito bem assim, sem a mão esquerda, mas com fama e dinheiro.

Pensando na riqueza que teria, aos poucos, foi recuperando a calma. Sentiu comichões no braço direito. Esfregou-o com a mão esquerda como a se despedir. Pensou:

- Bem, se posso dar meu braço esquerdo para tantas riquezas, por que não poderia também servi-lo numa salva e comê-lo com os demais? E só vai ser uma vez. Seria assim como a última refeição, um “último manjar”...

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A CONFRARIA DO BANQUETE


Tudo começou naquele pequeno vilarejo à beira mar, na Bahia de Amatique próximo a Guatemala com seus lindos coqueirais, suas areias branquinhas, suas águas azuis e seus raios de sol a iluminar o verde tapete natural que se estende a perder de vista pela densa floresta tropical. Ali a vida transcorria tranquilamente para aquele grupo de jovens, (quatro moças e oito rapazes), concludentes da Universidade de Arqueologia. Colegas de curso que misteriosamente tornaram-se amigos inseparáveis e tinham os mesmos objetivos de vida partilhavam da mesma filosofia ideológica. Juntos levavam a vida com entusiasmo e curiosidade inerentes aos jovens, e tinham em comum além do mesmo curso, o gosto por Mitologia.

Certo dia, os jovens em uma aula prática visitaram o fabuloso templo de Tikai, (na cidade Tikal), uma impressionante e inacabada construção Maia. Lá encontraram um ladrilho em hieróglifos, e juntos partilharam a plena certeza que em 21 de dezembro de 2012, aconteceria uma grande hecatombe mundial. Também encontraram uma misteriosa mensagem impressa, designada aos doze jovens que viriam a serem no futuro os anjos de luz destinados a salvar o mundo dessa programada tragédia. Estava em relevo nas “estelas” que essas pessoas seriam o elo de coragem, atitude e resignação e que em absoluto ato de bravura iria separar o joio do trigo, destruir o lado demoníaco, salvar o lado deidade e assim seria encontrado o equilíbrio do ciclo, que viria a anular a profecia do fim da humanidade.

Impactante para aqueles jovens foi descobrir seus nomes cravados na pedra junto às instruções de como deveriam proceder para a realização da profética missão, porque justamente eles seriam os citados anjos. Lá continham as instruções desse supremo sacrifício em prol do bem contra o mal e se tratava de eliminar o demoníaco lado perverso que se encontra segundo essa filosofia em cada mão esquerda da natureza humana, que fosse cumprido o ritual, que seria um banquete em oferenda ao grupo, começando em cada dezembro depois do ano 2000, até o ultimo dezembro de 2012, fazendo referência aos doze anos, (Coincidência, mesmo numero, doze amigos), antes da data estabelecida para o grande final.

No primeiro momento o susto foi impactante para aqueles jovens que se perguntavam o porquê de terem sido eles os escolhidos, mas logo entenderam que não tinham muito a questionar, por se tratar de fé, de convicção. Segundo suas interpretações o que estava escrito, estava escrito. A mensagem falava da bravura desses seres que em sua coragem e desapego da própria matéria, seriam o próprio gesto de amor, de solidariedade ao mundo, seriam os heróis, os espíritos limpos e evoluídos com a missão de evitar com seus sacrifícios o desfecho dessa catástrofe.

E assim ficou estabelecido entre eles o pacto, o segredo, a suprema renúncia, e resolveram que quando chegasse o tempo estabelecido pela profecia, seria marcada a Confraria do Banquete, que seria realizado com toda pompa e circunstância, num salão especial no Museu de Arqueologia e Etimologia na principal cidade do México.

"Fizeram entre si um sorteio para a ordem pessoal da destemida solenidade, e estabeleceram conforme o escrito recado, a se presentear com um distintivo, uma insígnia ao referido ato de bravura, seria um anel de pedra jade, oriunda das rochas vulcânicas, na cor verde para os homens, e rosa pra as mulheres para reluzir o triunfo do dedo anelar da mão divina destra.
E essa determinação se concretizou até o ultimo dia, onde ansiosos e destemidos reuniram-se...

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DEZEMBRO DE 1955



Em um pedacinho obducto do Alasca doze bocas ávidas rezingavam o que sobrara do piloto naquele confim de mundo onde a fome penitenciava a alma tornando inútil não celebrar a morte que sustentaria a vida por entre os penedais cercado pelo marulhar invisível.
Quando não restava mais vestígio das vísceras do piloto e os sobreviventes definhavam semimortos, era mérito sobre-humano manter o equilíbrio mediante os olhares que se devoravam.
Michael inesperadamente ofereceu os dedos da mão esquerda à consternação, não houve ânimo e nem tempo para impedir a automutilação que alimentou a matilha.
Haveria um próximo dia? Não, ninguém respondera ao chamado e os cordeiros a sacrifício foram lançados à sorte.
Michael clamava pela exclusão das quatro mulheres diante da indiferença de Seggal que de olhos vendados apontava para o nome esculpido no gelo e se não fosse a trapaça ignorada pelos ‘morrentes’ não teria sido ele, o ardiloso Seggal, a última ovelha a sacrifício adiando o próprio suplicio que chegou inevitavelmente ao amanhecer do décimo segundo dia acompanhado da covardia que minava a honra e a coragem enquanto o facão cortava o ar e fincava na geleira.
Intimado, sacou da arma que lhe ofertara o piloto morto no dia do acidente, acuou e amarrou a todos na ânsia doentia de sobrevivência.
Em dias sequenciais mutilou uma a uma a sinistra dos convivas na altura do pulso deitando sangue morno sobre a boca semisserrada dos ‘morrentes’ para manter o rebanho enquanto esperava a salvação naquele inóspito ambiente de devoração distante de Deus, isento de oração, perdão e culpa.
Um sinal atravessou o céu, um grande pássaro baixou sobre as penúrias do inferno gelado onde não havia pouso seguro e do azul marrento desprendeu uma longa corda que circundou o cadavérico homem.
Seggal omitiu os ‘morrentes’ declarando ser o único sobrevivente, salvou o corpo e condenou a alma aprisionando os convivas à sua (de)mente, entre as paredes de um manicômio e o eco lancinante dos próprios gritos, enquanto devorava compulsivamente os dedos da mão saciando o desejo inumano.
Quando o enfermeiro arrombou a porta e adentrou no quarto os dentes de Seggal violentou com gosto a própria mão arrancando-a do pulso.
Acordou com o braço esquerdo enfaixado e o sangue que maculava as gazes despertando-lhe o instinto selvagem, porém antes que entregasse o antebraço à boca salivante, abriu a escrivaninha, tateou com a mão direita a arma custeada naquele dia fatídico, mirou a fome escancarada e disparou colocando fim aos mórbidos pesadelos que o reunia toda madrugada aos convivas abandonados.
Um filete de luz tomou conta da escuridão e o conduziu por um corredor lúgubre até a porta maciça semiaberta onde luzia uma bandeja de prata polida deixada sobre uma pequena mesa rendada em branco.

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PIÈCE DE RÉSISTENCE



I.

Procurava emprego há três meses quando vi aquele anúncio, uma colocação para auxiliar de cozinha. Não entendia muito disso, mas achei que poderia tentar a vaga. Precisava trabalhar e estava aceitando qualquer serviço.
Os requisitos não eram muitos. Dizia o anuncio que deveria auxiliar nas tarefas. Preparação de alimentos, limpeza e conservação do local e dos equipamentos. Também auxiliar em serviço de copeiragem.
Respondi ao anuncio mandando um currículo no mínimo fantasiado. No dia da entrevista, havia mais de quinze pessoas. Um a um foram sendo chamados. Na minha vez, respondi algumas perguntas com os conhecimentos que adquiri no Google. Santo Google! Até para isso serviu. Perguntaram se eu tinha aversão a sangue e nessa parte eu tive sorte. Já trabalhei num açougue. Fui para casa na esperança de ser chamada.
No dia seguinte, recebi um telefonema dizendo que a vaga era minha. Esfreguei as mãos e até bati palmas, gesto esse que mais tarde jamais repetiria.

II.
Pela manhã dirigi-me à mansão e fui levadan até a cozinha. Um cômodo escuro e bem rústico, numa uma asa separada, ligada à construção principal por uma arcada de pedra bruta. Desse modo, fumaça, odores e barulhos poderiam ser mantidos fora da vista dos demais. Não havia fogão e sim uma espécie de lareira, munida de suportes móveis com ganchos ajustáveis, para apoiar e mover panelas e caldeirões.
Uma estante rústica acomodava frigideiras, chaleiras, espetos de vários tamanhos, e materiais para prender qualquer coisa desde tenras codornas até um boi inteiro. Pelas paredes estavam distribuídos vários tipos de facas, colheres, conchas e raladores. Numa mesa de tábuas brutas, o almofariz para triturar especiarias, panos para coar e potes de barro com temperos.
Mas, o que me chamou mais atenção foi num canto, um cepo de madeira da altura de uma mesa, contendo uma machadinha e logo abaixo, uma bacia estreita e rasa como usada para coletar gotejamento de algum liquido que escorresse.

III.

No meio da tarde, o chef me chamou e disse que a noite seria especial. O patrão iria receber convidados, e deveria por a mesa do grande salão para doze pessoas. Disse-me que eu serviria a bebida e alguns pratos, mas que a “pièce de résistance” seria servida pelo anfitrião em pessoa e ele mesmo faria o preparo. Disse o cozinheiro:
- Sem ele, seria impossível fazer o prato principal”, seguido de um riso entre sardônico e diabólico. Acrescentando:
- Vamos repassar a receita. Vamos tomar a peça de carne sem corta-la ou feri-la. Numa gamela vamos deitar a farinha peneirada numa peça de seda. Jogue lá dez ou doze gemas. Então vai deitar a carne para ser enfarinhada. Segue para panela de água fervente com manteiga, e aos poucos, vamos deitar os temperos atados inteiros em maço e à parte, cravo e açafrão, pimenta e gengibre. Se o caldo ficar muito ralo, vamos engrossa-lo com bocados de farinha e manteiga. Entendeu?
Fiz um sinal com a cabeça e perguntei o que iríamos cozinhar. Mais uma vez ele disparou aquele riso. Calei-me e contive a curiosidade.

IV.

Por volta das vinte horas todos os pratos secundários já estavam prontos. De repente, o anfitrião entrou na cozinha. Não era jovem e tinha uma expressão de vitória nos olhos. Com ele entrou outra pessoa, carregando uma maleta. Sem dizerem nenhuma palavra dirigiram-se até o cepo. O homem abriu a maleta e tirou várias faixas de gaze, um garrote, agulha e linha e arrumou cuidadosamente em fila. Erguendo as mangas do braço esquerdo, o anfitrião posicionou-o no cepo e com a mão direita tomou da machadinha. O outro homem fez um torniquete à altura do antebraço. Ajustando a bandeja embaixo do cepo, o cozinheiro me perguntou se a água já estava fervendo.
Um calafrio percorreu minha espinha, seguido de arrepios de terror. O anfitrião iria cortar a própria mão esquerda e ela seria o prato principal, depois de cozida com farinha e ovos, temperada com especiarias.
Quase automaticamente fechei os olhos. Não ouvi nem um som. Quando abri os olhos, o homem estava costurando o toco do braço. O cozinheiro trouxe a mão na travessa enfarinhada e me entregou. Dirigi-me até o caldeirão e ainda pude ver o braço do anfitrião ser enfaixado com gazes, já tingidas com salpicos recentes de sangue.
Terminado o cozido, foi posto numa salva com tampa. O anfitrião tomou-a na mão direita, levantou-a a altura da cabeça, mantendo o que restou do braço esquerdo apoiado no peito. Com uma expressão triunfante, avançou rumo ao salão principal, onde o esperavam os convidados.

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UMA ÚLTIMA VIDA


Sou novo. Tenho apenas 21 anos e forcei-me a vir para a guerra para não levar uma vida de gatuno.
Os gangsters de Chicago disputavam jovens como eu nos velhos bairros sujos e decrépitos dos subúrbios, isto no final dos anos 20, após a Quinta-Feira Negra. O pão mal chegava para toda a família, comíamo-lo por turnos para não termos todos fome às mesmas horas, o primeiro era sempre o pai, que tinha de procurar trabalho ou fazer uns biscates aqui e ali, e depois a mãe que fazia arranjos de roupa mal pagos para as finórias esposas de banqueiros semi-falidos, algumas já viúvas mercê do suicídio de seus maridos. Vivia-se numa roleta em que os mais estúpidos se governavam com uma metralhadora e sem respeito pela pobreza dos outros.
Aqui oiço o zumbido das balas metralhadas pelos Alemães, os gangsters cá da zona, vejo os meus camaradas de armas a pedir ajuda por lhes faltar um membro ou meio corpo, vejo os olhos de quem já nada vê, o fumo negro que sai de obuses detonados, ruínas... não vejo nada.
Estávamos em 1942, Dezembro, mês frio numa Europa em escombros, as notícias que nos chegam de casa são quase sempre boas ou nenhumas, de vez em quando lá morre a velha tia de um qualquer soldado. Dizem que está tudo bem por lá e que nos esperam como heróis.
Heróis! Heróis de membros amputados e com a morte na memória. Quando cá chegámos, ficámos alguns dias em Inglaterra para que os Generais decidissem o nosso destino, muitos, como eu, tinham tido pouco treino por terem sido voluntários, dois, três meses no máximo e depois atirados aos canhões.
A vida só perdoa àqueles que podem comprar o perdão, aos outros não. O meu avô Simeon dizia-me para fugir de perto dos ricos, só assim poderia ser como eles, vendo ao longe os erros que cometiam e evitando-os, tinha graça o velhote. Conseguia ver-me nos olhos dele, fundos. Os seus setenta anos despediam-se todos os dias da vida cada vez que acendia o cachimbo cheio de aparas de madeira que ia apanhando, depois juntava-lhe uma folhinha de hortelã para disfarçar algum cheiro, como se conseguisse.
Talvez tente ficar aqui pela Europa depois da guerra, se sobreviver. Aqui diz-se que se um soldado levar um tiro é mandado de volta a casa e que ganha uma pensão de guerra, não sei de quanto será, mas também não me sinto com coragem para levar um tiro. Talvez seja por isso que fecho os olhos enquanto despejo as antecâmaras da metralhadora.
Perguntei, na trincheira, a um desses ingleses empertigados quanto tempo esperava que durasse esta loucura, o pobre não teve tempo e me responder, assim que me olhou foi atravessado por duas balas perdidas, fiquei agoniado e aos gritos, completamente sujo e não foi só com os miolos dele, as minhas entranhas saíram todas. Quando o tiraram de cima de mim não via mais nada que não fossem perfis vermelhos, perdi os sentidos, os sentidos e a dignidade, se é que tal existe num sítio destes.
Passados pouco mais que alguns segundos os sentidos foram sendo restabelecidos, pois numa situação de guerra, só se pode ouvir o próprio silêncio e sentir o frio interior se estiver acordado, é a condição mínima para tentar manter-se vivo, a sobrevivência está no exercício peremptório das acuidades, sempre não perdendo a fé, controlando o medo, e mantendo frieza nas acções, mesmo que o cheiro acre de sangue te leve ao vómito descontrolado enojado pelo convívio com corpos mutilados, misto de vísceras, ossos e lama, rostos transfigurados com estampas de horror e dor, daqueles que foram horas atrás homens fardados, combatentes garbosos, defensores da pátria e da bandeira, agora ali, meninos mortos, pintados de abandono num quadro fantasmagórico. O cérebro fervilhava em pensamentos anestesiados, tentava arranjar uma condição favorável para sairmos da trincheira túmulo, onde só ecoava o som de lamentos de dor dos meus companheiros abatidos. Dependíamos de uma acção da retaguarda, mas a nossa artilharia jazia silenciosa, nem na hora do confronto principal se ouviu um único tiro, também não houve nenhuma quebra no cessar-fogo temporário do inimigo, permaneciam silenciosas. Como gostaria de ter ouvido os tiros dos nossos obuses, mas dei-lhes crédito, algo de sério havia acontecido, lamentei, era de suma importância e eficaz para nossa retirada. Precisava de informações, estávamos sem comunicação, o rapaz do rádio jazia morto com furo na orelha, do outro lado da cabeça não havia rosto, enfim; eu não tinha aptidão para manusear o rádio, mas teria que tentar, nada mais podia ser feito na situação que eu e os outros companheiros nos encontrávamos, afinal precisava de novas instruções de como chegar mais próximo dos alvos ou de uma retirada estratégica. Temia puxar para mim a responsabilidade para alguma acção imediata já que com o oficial morto a tropa carecia de comando. Continuei calado por alguns instantes enquanto isso começavam a ouvir-se os estrondos, continuados e ensurdecedores, do fogo pesado do inimigo que estava logo à frente, acabara o cessar-fogo, ouvíamos nitidamente o passar traçante dos projécteis sobre nossas cabeças, e nós, aqui na linha de frente, ainda não podíamos fazer nada, precisávamos da ajuda da retaguarda, éramos trinta, da tropa restava-nos para resistência pouco mais de onze aptos, os feridos eram incontáveis. Então, com a ajuda de mais quatro soldados, numa operação relâmpago, arrancámos as identificações dos corpos, guardando-as nos bolsos da mochila de campanha, quando já preparávamos para a retirada, numa decisão tomada sem anúncio, começara a chover torrencialmente, uma chuva gelada encharcava nossos uniformes, por causa do vento intermitente a sensação de frio era potenciada, doía até aos ossos, havia risco de hipotermia, perdíamos o senso de direcção por causa de uma espécie de nevoeiro, mistura de fumo de pólvora. Essa mudança meteorológica não me fez mudar de atitude, inconscientemente dei ordem aos meus camaradas para irmos em frente, mas não foi possível avançar, onde estávamos, antes era sabido ser uma trincheira natural mas na verdade é um regato, que de seco, começou a inundar-se rapidamente por causa do temporal, ao que aumentado o seu volume, veio trazendo os corpos boiando em suas águas sanguinolentas, pior, é que a força da correnteza nos arrastava para a direcção contrária, isto é; em direcção ao território ocupado pelo inimigo, neste momento já não mais tínhamos esperança de sobreviver.
Mas era forçoso sobreviver! Uma luz de esperança começou a brilhar dentro de mim e fez com que, momentaneamente, me alheasse de toda aquela carnificina. Deixei de sentir frio, de me sentir encharcado, muito embora as minha pesadas botas militares se enterrassem no lodo; e o meu uniforme fosse uma pasta de água e manchas de sangue. Vieram-me à lembrança imagens familiares, algumas delas muito queridas. Será sempre assim, quando o perigo é real e iminente? Sempre nos lembramos de nossa mãe e da nossa namorada?
Eu diria que sim, que a nossa mãe sempre surge como o derradeiro refúgio. Sempre ousamos regressar ao ventre materno, o único sítio aonde sempre estivemos protegidos e cómodos e…também sempre desejamos continuar a viver, seguir em frente. Sobretudo quando estamos às portas da morte! Por isso, também a lembrança dos olhos da mulher amada, o colar dos seus abraços, a doçura dos seus lábios também surgia como sinal de futuro e de contrapartida ao frio e à dor em que me encontrava atolado. Eu iria salvar-me! Não me importava quem ia ganhar a guerra, ou se algum dia pertenceria “ao exército heróico que há-de conquistar Berlim”, como proclamara o general George S. Patton, no discurso de saída de Inglaterra.
Estando absorto nestas doces divagações, alheado da terrível miséria em que me encontrava, sou despertado pela voz do Sargento que viera, perante o meu alheamento, gritar-me ao ouvido, muito embora o seu vozeirão pesado mal se fizesse ouvir no meio dos ruídos infernais do combate:
- Vamos retirar! Assesta a metralhadora naquele cômoro em frente e disparas quando vires o inimigo surgir! Só quando todos tiverem abandonado a posição em segurança será a tua vez de fazer o mesmo! Não te deixes matar!
Sem mais delongas, o Sargento desapareceu, limitando-se a dar-me uma pesada palmada nas costas. Caía a tarde. Em breve a mais pesada noite se abateria em meu redor. Mas a luzinha de esperança continuava acesa dentro de mim. Aninhei-me. Vejo surgir o primeiro carro de combate alemão à minha frente. Não reagi! Nem de nada adiantaria fazer fosse o que fosse. Também nada, nem ninguém me ligou a menor importância! Aconcheguei-me ainda mais na pequena cova, permitindo que a pesada viatura de ferro, pudesse passar por cima de mim, sem me molestar. Eis que, quando já me encontrava completamente protegido pelas lagartas de aço articuladas, uma de cada lado, se ouviu um estrondo estarrecedor e a massa informe, escaldante, se imobilizou sobre mim. E o que parecia ser a mais terrível das ameaças convertia-se assim num abrigo impensável e inexpugnável. Não só não me matava mas antes me salvava do inferno de metralha que, de forma gritante, explodia por todo o lado.
Não sei exactamente o que houve com meus camaradas, cercado de toneladas de ferro, aço e sob tiroteio incessante a minha ténue esperança não se abala, a miséria enrijece os nervos e prepara para encarar certas situações que normalmente sequer teria coragem de pensar lidar, a morte está certa. As doces lembranças de pessoas queridas perdem-se em imagens de nuvens de pólvora e mutilados na noite tenebrosamente negra e estrelada que aparece fria e calma. Com terra e areia nos olhos lacrimejantes como autómato atiro mirando não um alvo específico mas o monte de criaturas movimentando-se indistintos do outro lado da frente, um soldado levanta-se não muito distante, um camarada meu a quem gritamos para se proteger. Algo de estranho na forma como se contorce, mãos ao rosto e gritos, a silhueta é despedaçada por projécteis que esvoaçam, nunca saberei o que o fez erguer-se facilitando ser alvejado. As ordens não chegam até mim, isolado e confuso no que parece uma tumba, arrasto-me para uma abertura maior para melhor responder ao fogo cruzado, ainda protegido, entrincheirado, tentando avistar meus companheiros. Por um minuto o clamor de armas pesadas é interrompido, quando um avião passa num zumbido lamentoso e crescente, seria inimigo? No retorno ao barulhento trocar de disparos um clarão estremece o solo. Nestes segundos volto a pensar nos que deixei num país em crise, acredito que mesmo com todas as bandeiras, em todos os lados, jovens idealistas mas também inocentes ou sem escolha agora pensam nas múltiplas possibilidades de uma vida que mal começou para muitos e no amor dos parentes, amigos, no fim das contas com todas as insígnias, suásticas e ideologias confusas e autoritárias, tudo não passa de ganância dos poderosos, banqueiros, generais e políticos que brindam cada vitória ou derrota às custas de nossas almas. Somos todos iguais na instável e surpreendente batalha, todos vítimas, alguns com consciência disso, outros perdem-se em delírios pseudo-filosóficos extremistas. Nós não, voluntários nem sempre passam pela lavagem cerebral e explicações absurdas sobre os motivos de estar aqui ao invés de junto dos seus, na pátria mãe.
Novamente disparos, minha perna dói como que pregada mil vezes, formigando e ardendo, ensopada, estou faminto também, algo se arrasta sobre meu corpo, assustado mal reajo quando o Sargento, com a face em sangue, irreconhecível, soldado intrépido, abaixado, com os braços em meus ombros e um fuzil na mão, faz sinal para que me cale quando uma nova pausa paira no ar. Tiros aqui e ali, silêncio.
Somos os últimos da pequena tropa e os alemães seguem seu caminho até a mítica «Valhol» segundo as palavras dele. Tudo é muito rápido, podendo variar caso se esteja ferido contemplando pedaços do próprio corpo ou amedrontado, as horas morrem sem pressa para que mais combatentes tenham a chance de encontrar o fim e a perversa dor e lágrimas mal contidas escorram no rosto não mais envergonhado que enlouquecido, desfigurado.
O avião que passou sem que prendesse minha devida atenção era um dos nossos, na insana sinfonia de horror e bombas o clarão da morte era a resposta aos soldados nazis, pedaços de arianos na terra empobrecida. Enegrecidos, carbonizados, não têm o meu rancor tampouco a piedade, agora enfim despertei para a guerra, e juntamente com o Sargento prosseguimos de pé em nossos planos de batalha buscando outro local seguro ao encontro de mais dos nossos companheiros nalguma frente, as medalhas ainda pendem de meus bolsos na perna ferida por alguma bala que ricocheteou atingindo-me de raspão, uma lembrança caso sobreviva, para mostrar aos filhos e netos, uma das marcas do horror que agora vivencio. O rádio perdeu-se, resta caminhar tropeçando em escalpes, tantos que mal acredito. A paisagem resume-se em cadáveres e fumo, montes de aço contorcido, nenhuma habitação e o frio enregelante nos ossos que rangem deixa-me mais entristecido, esquecendo a dor na perna que me faz andar cambaleante. Um alemão sai do tanque que me protegeu, arrastando um corpo em pedaços da cintura para baixo e desarmado, voltando-se para trás o Sargento sem o fuzil que agora segurava, saca da sua pistola e atira certeiro na face que desaparece, é guerra, prossigamos então sem um último adeus aos colegas tombados.
“Mãe, deram-nos uma folga de três dias… queria estar aí mesmo que estivesse desempregado e com fome, era preferível”…
Comecei a escrever a carta para os meus pais mas perdi a coragem de continuar, pensei que me considerariam um cobarde. Isso não podia acontecer, eu sabia que o dinheiro que lhes mandava todas as semanas lhes fazia falta e nunca poderia desiludi-los.
A guerra é um lugar estranho para se estar, parece um interminável caminho adornado com o pior que há em cada um de nós, somos carcereiros da nossa própria ganância. Por aqui houve-se dizer que Hitler é um gajo baixinho e arrogante e que quase todos os soldados aliados lhe deixam mensagens em, pelo menos, uma bala. Não compreendo muito bem o que faço aqui. Rumpf, que me adoptou, chama-me louco por ser voluntário de um país que não está na guerra e por não saber o que me trouxe cá, sou um pobre coitado como outro qualquer. Quando lhe perguntei se podíamos ser amigos ele nem teve meias medidas:
- Para além de louco ainda queres ser meu amigo? Eu não faço amigos… os que tive, morreram todos!
Como eu o compreendia. Aqui as amizades fazem-nos cometer erros, matam-nos a nós e a todos os outros, são piores que balas.
A perna dói-me, mas o médico diz que é da mudança de tempo, aproxima-se a Primavera e com ela o calor que sobrepõe o cheiro dos mortos ao da comida, que, já de si, não é muito apreciada.
Londres está a ser bombardeada por bombas voadoras, que caem incessantes e sem prévio aviso, há quem arrisque dizer que os alemães estão a ganhar terreno e, com isso, a guerra, será esse o nosso destino, o de sermos todos alemães de segunda? Julgo que essa ideia, esse medo assassino, aumentou a vontade de virar o resultado em nosso favor.
Nestes três dias de folga soubemos que estava em curso a retirada das tropas aliadas em Dunquerque, aqueles alemães filhos da mãe tinham entrado em França, pouco tempo teríamos para gozar Paris, a bela e apaixonante Paris. Estava tudo num pandemónio, ninguém sabia o que pensar.
Os bares e restaurantes iam, no entanto, fazendo dinheiro nas despedidas dos aliados, algumas raparigas pediam-nos em casamento para irem de lá para fora, para outro país, para outra vida longe da guerra. Perguntei a Rumpf se podia mandar uma miúda para Portugal, ele riu-se na minha cara… calei-me. Ela era Geneviève, linda com seus olhos de Sol, seu sorriso delicado contornado a vermelho. “Namorámos” uns tempos até que seus pais conseguiram emigrar para os Estados Unidos… jamais nos veríamos.
Eu e Geneviève tínhamos feito planos para toda uma vida, assim que acabasse a guerra, casávamos, teríamos três filhos e envelhecíamos juntos, pouco mais dava para combinar e já isto era muito. Ficámo-nos por algumas noites de promessas e prazer, romance e amor em tempo de guerra. Escrevi-lhe algumas cartas, mas nunca as enviei por não saber a sua morada, na altura… agora já a sei. O navio em que seguia foi torpedeado por um submarino alemão em águas internacionais… ninguém restou, mas ainda tenho essas cartas, são a única forma de a recordar.
Era urgente recuar. Os alemães estavam às portas de Paris, era o saque total, a fuga generalizada, pessoas que recusavam sair, pessoas que passavam a apoiar Hitler, a Resistência a organizar-se, tiros, sangue e loucura. Paris deixou de ser Paris por alguns dias. Os Champs Elysées esvaziavam-se, a Torre Eiffel parecia mais pequena, o Arco do Triunfo perdera toda a sua beleza… o Rio Sena tornara-se cor de sangue.

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A PROFISSÃO DO ANFITRIÃO



I.

Esperando o início do banquete, recordava-me dos jantares anteriores. Não sei quanto aos outros, mas no início, mas não fora fácil engolir meu bocado daquela carne ensopada. Cortava um pedaço, espetava no garfo e logo procurava o copo. A intenção era colocar o naco na boca em empurra-lo para dentro do estomago com um grande gole de vinho. Com a sequencia de jantares acabei me acostumando. Diria até que já apreciava aquele prato.
Olhei rapidamente para os presentes e tentei trazer à mente a figura do anfitrião naquela noite. Vi-o rapidamente e não pude observar bem as mãos. Divagando, comecei a pensar se ele teria as unhas bem feitas ou se as roia, deixando aparecer os tocos dos dedos. Frequentaria uma manicure para deixar as unhas bem cortadas e limpas?
Sim. Por que convenhamos! Deixar as unhas “de luto” não seria muito polido. Muito anti-higiênico!
E se fizesse as unhas e usasse esmaltes? Será que teve o cuidado de usar esmaltes neutros e antialérgicos?


II.

O salão estava barulhento. De vez em quando aquele senhor gordo costumava soltar uma gargalhada. Odiava a gargalhada. Estridente e fina, desagradável como o som de uma hiena. Ainda bem que todos olham para ele nessas ocasiões e de imediato ela parava.
Continuando a olhar pelo salão detive o olhar naquela senhora gorda. Usava tantas joias! Não se contentando em usar brincos, colares, anéis e pulseira, ainda enfeitava o antebraço esquerdo com um pingente de ouro e safiras. Achei de muito mau gosto.
Um barulho acima da minha cabeça e olhei para o teto. Um grande candeeiro balançava ao sabor do vento. Voltei a olhar os presentes e balancei negativamente a cabeça, ao me deparar com um dos presentes coçando os ouvidos com o indicador da mão direita. Em seguida, placidamente levou o mesmo dedo ao nariz. Aquilo me embrulhou o estômago. Será que fazia isso também com os dedos da mão esquerda?

Estava demorando. Sabia que sem o anfitrião não haveria o prato principal e isso justificava a sua ausência entre nós até aquele momento. Não conseguia mesmo me lembrar do que ele fazia, qual era a sua profissão.
Talvez fosse um pintor ou um mecânico. Nesses casos, possivelmente teria restos de tintas e graxa nas mãos e debaixo das unhas.
Enquanto divagava distraído veio-me a lembrança da figura do nosso anfitrião. Aquela lembrança me embrulhou o estomago novamente. Não pude evitar o arrepio de asco ao lembrar a profissão.
Era médico. Mas fazer o que agora? O jantar estava prestes a começar. Restava torcer para que tivesse lavado bem as mãos e que usasse luvas em seus exames. Especialista em proctologia


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O ÚLTIMO CAPÍTULO


O dia está a declinar, a penumbra decora o meu quarto de cinzento. deveria levantar-me para acender a luz mas estou preguiçosa, sinto o conforto do sofá que oferece os seus braços
para aconchegar os meus. Os pensamentos veem, começam a aflorar a minha memória. Então lembro a juventude e não só. Tive a felicidade de poder viajar por países estrangeiros, ocasião
de ver coisas verdadeiramente extraordinárias, belas e imagináveis, mas nunca gostei de ficar muito tempo fora. Hotéis,
pousadas ou qualquer alojamento nos dão o conforto da nossa
casa e quando chegava sentia uma grande alegria. Reconheço
que foi um tempo de aprendizagem, conhecimentos úteis e culturais que me deram outra perspectiva do mundo. Agora no presente. É primavera, o tempo tem estado maravilhoso por isso amanhã tenciono ir passear pela vereda que circunda a casa. Calço uns ténis porque a terra é areenta, aquela pedritas
entram nas sandálias e magoam os pés. Mas é tão agradável ir pela sombra daquelas árvores, que nunca ninguém poda nem rega e só a chuva do inverno lhes mata a sede do calor do verão.. Agora reflorescendo provocam uma suave aragem que
nos traz o aroma doce das pequenas floritas campestres e coloridas. As amoras são uma tentação, um bocado poeirentas,
mas sopro e como-as, que doçura! Ás vezes até penso escrever
um livro mas não sei se alguém teria coragem de o ler até ao Último Capítulo…Na minha idade sénior de certo seria pouco compreensivo para os jovens que hoje em dia leem por siglas
no computador. Pelos adultos que nunca têm tempo para nada, nem para se coçarem pelas esquinas e idosos que infelizmente
precisam de óculos e nem dinheiro para os comprar. O tema seria insípido certamente. Vou guardar esta ideia peregrina para mais tarde quando regressar da minha última viagem e trazer histórias estreladas e luminosas. Ah! Que soneiraaaaaa!

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RECANTO DAS LETRAS



Estava agora completa a associação secreta de Luso-Poetas conhecidos como "Marmotas", que após expulsarem todos os demais poetas considerados por eles inferiores, os quais chamavam de "Antas", passaram a controlar todas as publicações de forma ferrenha numa busca doentia pela perfeição.
Alguns "Antas", inicialmente, não perceberam o cerco dos "Marmotas" pois estavam brigando entre si discutindo sobre estrelas e acordos ortográficos (melhor dizer, desacordo), e a desunião facilitou o ataque. Tão logo, o que se viu foi uma verdadeira caçada. Todos os "Antas" que recusaram a sair foram assassinados.
A obsessão aumentava a cada dia. No auge da loucura, os "Marmotas" decidiram que cada membro deveria cortar sua mão "inútil", a mão com a qual não escrevia, e que ela seria devorada por todos. Era o ato máximo de fidelidade à poesia, uma espécie de rito de passagem. Mas toda essa loucura estava longe de terminar, pois após devorarem a última mão inútil, decidiram no final daquela mesma noite que se algum membro ali presente não publicasse pelo menos três poemas por semana, dentro dos padrões exigidos de criatividade e originalidade, se fosse encontrado algum erro, mesmo de digitação, perderiam a mão "útil".
Ainda naquela mesma noite, três desistiram e voltaram para o "Recanto das Letras."

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O DERRADEIRO MANJAR


Um grupo de pessoas afins, conhecidas em seu circulo fechado, como o grupo dos doze, acreditavam que se ingerissem mutuamente a carne um do outro, a força de um se somaria a do outro, desta forma, um teria a força dos doze e como supunham que o lado esquerdo é a representação da força espiritual, resolveram de comum acordo que, um por um no prazo de doze semanas, deceparia parte do braço esquerdo e o servia como banquete aos outros onze, desta forma todos se fortaleceriam física e espiritualmente.

O local paradísico a beira-mar, havia sido cuidadosamente escolhido e tudo elaborado em detalhes cerimoniais.

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PRÉMIO EM MARTE



Primeiro Capítulo

Eram 5h da tarde quando o foguetão, último modelo acabara de aterrar em Marte. Lá dentro os 12 passageiros confortavelmente acomodados preparavam-se para sair. Todos tinham um ar radiante, pois apesar de serem mais de 1000 concorrentes, só eles tinham ultrapassado todas as provas que os levaram até ali. Aguardava-os agora a prova final, mas ninguém sabia o que os esperava, pois só o piloto tinha assegurada a viagem de regresso.

Um a um foram levados para um grande palacete encrostado num conjunto de rochas em tom madrepérola circundado por um rio de águas cor de violeta. Entraram pelo enorme portão até ao jardim, e depois foram introduzidos num salão redondo com janelas em toda a volta com vistas para exterior. No centro, assentado numa poltrona de veludo de cor neutra estava o presidente do júri vestido de forma estranha com uma capa que lhe cobria o corpo desde o pescoço até aos pés. Com uma voz pausada e austera revelou que a partir de agora era: “um por todos e todos por um”. O prémio só seria conseguido se ultrapassassem a prova final, e se um falhasse, tudo estaria perdido.

Foi-lhes dito que iriam ficar incomunicáveis, no entanto todas as noites um concorrente seria chamado através de sorteio para um jantar especial. Em cada jantar mais um seria acrescentado à lista, mas só passados 12 dias, estariam todos reunidos, no último banquete que seria realizado na parte superior do palácio, se entretanto ninguém falhasse o objetivo.

Os participantes estavam surpreendidos e até receosos, pois o ambiente tinha um ar de mistério e de pouca segurança, no entanto em breves segundos foi-lhes servida uma bebida de sabor agridoce que os deixou um pouco tontos. À medida que os minutos iam passando começaram a sentir-se muito felizes e cada vez mais eufóricos; afinal eles eram os heróis e todo o universo iria assistir em direto à sua vitória!

O que eles não sabiam é que a partir de agora iria começar o seu terrível pesadelo...

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ERAM DEUSES SANGUINÁRIOS



São atos incompreensíveis, mas antes da leitura do ‘Grande Livro Negro’, descoberto entre as ruínas duma antiga civilização. Se puséssemos apenas o olhar simplório de mortal aos fatos, jamais obteríamos com exatidão os motivos desde a formação do primeiro clã que se permitiu contaminar-se de instintos bárbaros e sanguinários, com o fim profícuo da aculturação insólita, advinda da aceitação e adoração dum ancestral imaginário e ‘Primaz do mal’, que deixou como primeira ordem antes do seu eterno mergulho ao âmago das profundezas; de segui-lo em seus preceitos cruéis a bem de se manterem coesos a ele, fortes e invencíveis, em prol da disseminação do poder e domínio através dos tempos pela guerra a todos os pontos habitados da terra, promovendo o controle amplo através do terror, subjugando as pessoas, à força dos misteriosos rituais macabros. Por isso, a expressão; “Do inimigo comerei a carne e beberei o sangue”.
Contam os anciãos refugiados numa aldeia nas montanhas geladas, que, assim como lhes contaram os antepassados, anciãos seculares e seus mestres, que, esses bárbaros não se contentavam em invadir, saquear e matar os habitantes dominados, os reis e seus guerreiros defensores; também lhes arrancavam o braço esquerdo, ‘o braço honroso, aquele que sustenta o escudo’ e levavam-no como troféus.
Num desses regressos, a legião sanguinária foi pega por uma forte nevasca, forçando-os a abrigarem-se na floresta. Isolados, não contavam que a tempestade perduraria além do tempo resistível ao frio, a sede e a fome. Findas as provisões de subsistência, e nulas as condições de sobrevivência, necessitados prementemente de proteína animal, comeram então seus troféus, adquirindo então o hábito do canibalismo, repetindo a cada fim de combate. Evento macabro que passou a ser considerado meritoso, pois, os elevavam a ‘superiores’ mestres de guerra.
Mantidos assim durante séculos, nesse vil perfil, sanguinários, ‘mestres superiores’ até a segunda dinastia, igualmente como seus antecessores; tidos como imortais, mas tão mortais quanto considerados divinos. Foi quando pela primeira vez correram o real risco de serem dizimados. Conta o episódio que após uma das incursões de guerra, como de praxe, trucidaram suas vítimas e delas trouxeram seus troféus... Já naquela altura, cada troféu considerado iguaria impar que se consumia nas ‘Festas da Vitória’, na verdade uma grande noite de orgia regada a vinho e ópio extensa a população servil intramuros constituída de mulheres parideiras, eunucos, e serviçais escravizados.
Algo de inusitado aconteceria naquela fatídica noite, quando, dois terço dos comensais foi surpreendido por uma grande catástrofe, um mal repentino sob o véu duma ‘peste negra’ levando quase todos a óbito em poucas horas. Mal devastador sabido somente após manipulações alquímicas feitas pelos magos e curandeiros da aldeia que se salvaram pelo impedimento de frequentarem as orgias por votos de castidade as suas relações diretas com os deuses. Registros descobertos da época consta que foram vitimados por uma estratégia inimiga, ação premeditada de guerra empreendida por um rei que teria sido avisado da invasão por esses bárbaros. Foram então enviados a combate soldados infestados duma doença infecciosa desconhecida que os faziam moribundos nos calabouços da fortificação, por isso, dispuseram dar seus corpos a imolação ao aço dos invasores pelo bem do reino.
E assim, durante dezenas de anos, parecia terem estabelecido uma trégua nas guerras. Na verdade não, foi apenas o tempo para se formar um novo clã, a terceira dinastia, constituída de indivíduos ainda mais perspicazes, cruéis e sanguinários. Quatro mulheres e um homem foram os únicos sobreviventes, pai e filhas, que se ofereceram em celebrações carnais incestas, para formação do novo clã, cada uma parindo gêmeos.
Morre o varão adulto, com oito filhos ainda inaptos a guerra, fica o comando nas mãos das matriarcas, com elas, o compromisso de continuidade da irmandade. Para que os motivos principais não se dispersassem, adotaram medidas radicais de proteção e bem estar, alheio à vontade dos adolescentes. Foram medidas duras, impostas em caráter definitivo e irrevogável, importantes no se previa para a eternidade. No parágrafo único, ditava que; ‘Sob qualquer pretexto, não se consumiria mais os troféus de vitória arrancados dos corpos dos inimigos; seriam queimados na praça central da cidade invadida, depois de saqueada e devastada’. ‘Deveriam os varões, completados a fase adulta; em sinal de obediência, na lua cheia, cada um dos iniciados, deceparia o próprio braço esquerdo, qual seria consumido por todos numa grande festa, uma cerimônia de iniciação, e de celebração aos antepassados.
Em volta da mesa, comensais incomuns, partícipes duma terceira geração de guerreiros do mal sob o vício do canibalismo, sendo que; os primeiros a radicalizarem, adotando a prática da automutilação e consumo da própria carne em ritual. Oferecendo aos seus pares, duma geração cujos ideais satânicos ficaram mais apurados ainda, sem correrem o risco de cometerem os erros do passado, de se envenenarem. Assim; fazendo da autopreservação o maior legado, a prova inconteste de lealdade, consequentemente, eternização do clã. Considerados ainda hoje uma irmandade poderosa e temida, seus membros resistem a esses tempos contemporâneos, só que o ritual não consiste mais na amputação do braço como sacrifício do corpo para o bem da alma possuída, consiste apenas em seccionar a falange do dedo mínimo, um arremedo do yubitsume, o ritual popular da Yakuza.

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Apurados os resultados da votação do júri, eis os vencedores deste VII Evento:


PIÈCE DE RÉSISTANCE - ARYSGAIOVANI - 1º lugar, com 32 pontos

O PACTO ---------------- LUIZMORAIS ----- 2º lugar, com 31 pontos


PRÉMIO EM MARTE - NELIAXP -------- 3º lugar, com 28 pontos

TREZE ----------- BETHA MENDONÇA - 4º lugar, com 26 pontos


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*(todos os enredos teriam que ter, por lógico, este final:)




ÚLTIMO CAPÍTULO


No amplo salão, onde uma mesa para doze estava requintadamente composta, ouvia-se o burburinho das vozes, em respeitosa moderação de timbres. Uma breve gargalhada soou, algures, e todos os olhares se voltaram para a origem dela, com uma estranha atitude de quase consternação e ofensa: fez-se um silêncio pequeno, e, logo depois, as conversas e os rostos voltaram ao tom grave, quase austero, que a ocasião impunha.
Alguém deu voz à ordem de sentar – o jantar ia ser servido. Havia doze lugares à mesa, mas só onze convidados na sala – sete homens e quatro mulheres, todos de idades a rondar a meia vida. O anfitrião, como sempre acontecia naquelas reuniões, serviria a refeição, e só se sentaria no seu lugar, ao topo da grande mesa, quando entrasse com o manjar e o servisse a todos, um por um.

O candeeiro enorme, suspenso sobre a mesa dos onze convivas, pareceu oscilar levemente, concedendo aos cristais que lhe adoçavam a luz, refulgências de curiosidade e espanto. Todos se voltaram para a porta, estranhamente sentindo uma aragem fria, reminiscências de brisa marítima, um gosto quase salgado-seco na boca...

O décimo segundo conviva, erguendo na mão direita uma enorme bandeja, trazia o braço esquerdo enfaixado e seguro ao peito. Uma mancha de sangue vermelho vivo trespassava as gazes brancas, deixando perceber que o acidente fora recente. Mesmo assim, sorria, triunfante, quando entrou na sala. Depois, em silêncio, pousou a bandeja sobre a mesa: uma mão esquerda, cortada com o pulso, fumegava, ainda, na enorme travessa...

Todos bateriam palmas, se tivessem as duas mãos... mas, claro, a todos os restantes convivas, faltava já a mão esquerda, cortada ao nível do antebraço... restou-lhes olhar com respeitosa admiração o “último sacrificado”, e, com estranha e discreta gula, o “último manjar”...


FIM
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 17/05/2013 12:36  Atualizado: 17/05/2013 12:39
 Re: Até ao "Último Capítulo"... temos ENREDOS* - VII Evento
Cumprimento os participantes deste VII Evento literário. Impressionei-me não só pela qualidade dos escritos, mas sobretudo, pela quantidade de participantes nesse seguimento; contos. É uma prova inequívoca de que ainda há quem muito se doa nesse mister em respeito aqueles que procuram novas leituras. Vemos, pois, que no âmbito do amadorismo, salvo alguns desvios, pode-se achar muita coisa boa para se ler.
meu abraço caRIOca a todos e boa sorte.
zésilveiradobrasil

Enviado por Tópico
smerdilov
Publicado: 17/05/2013 14:16  Atualizado: 17/05/2013 14:16
Muito Participativo
Usuário desde: 06/04/2013
Localidade: Russia
Mensagens: 62
 Re: Até ao "Último Capítulo"... temos ENREDOS*
Meus sinceros cumprimentos aos participantes e antecipadas escusas a quem eu porventura desagradar. Excelentes textos na qualidade literária. Alguns pecam por não estarem no formato, mas em se tratando de poetas/escritores não acostumados ao conto e quantidade.

Certo que não se exigiu um conto, mas entendo que o enredo deve ser centrado em um relato referente a um fato ou situação mencionada no epílogo que se apresentou.
Deve apresentar-se de forma condensada e sintética, de preferência centrado em um único conflito, criando a unidade no elemento que norteia toda a narrativa, levando o leitor a manifestar admiração, espanto, medo, desconcerto, surpresa, entre outras reações.
Cada autor deve criar uma gama de personagens, seres ou acontecimentos, contendo um narrador, na 1º ou 3º pessoas, personagens, descrições, ponto de vista, enredo e finalmente um desfecho que seja inesperado ou humorístico.

A proposta inicial era escrever um texto ( introdução ou história ) de forma que fosse um enredo que se encaixasse ao epílogo que todos conhecem, ou seja, o último capítulo.

Inicialmente, examinei a objetividade, a fluidez e o impacto do texto. Entendo que os melhores textos seriam os se encaixassem com naturalidade e coerência como enredo. Alguns textos são longos, de leitura pesada e difícil e não se estabelece desde logo um liame entre o que se apresenta e o que se propôs. Outros são evasivos e perdem-se na divagação por demais exacerbada.

Após várias leituras, acho que os textos que atenderam a proposta inicial, isto é, são enredo com inicio e meio, incluindo apresentação de personagens, descrição de locais e detalhes relacionados ao epílogo já escritos são:
treze, ablação...., o pacto, confraria...., piece de...., a profissão.... e premio de marte.
Não há nenhum demérito aos outros. São excelentes textos por si só, com qualidade literária, mas entendo que não se encaixaram no que foi proposto, o que expresso sub censura e salvo melhor juízo..

Entre os que elegi, ainda farei uma análise cuidadosa.
Uma abraço e parabéns a todos.


Dimitri Smerdilov

Enviado por Tópico
Betha Mendonça
Publicado: 17/05/2013 15:30  Atualizado: 17/05/2013 15:30
Colaborador
Usuário desde: 30/06/2009
Localidade:
Mensagens: 6699
 Re: Até ao "Último Capítulo"... temos ENREDOS*
A imaginação é uma viagem com muitos caminhos.O Evento mostra a disposição, modo e via que se pode usá-la.Todos os contos odos bacanas. Na verdade, alguns fogem ao proposto pelo exercício: escrever a ou as partes iniciais ao epílogo dado.
Parabéns aos participantes!Aguardemos o resultado do certame.
Abraços

Enviado por Tópico
pedrobito
Publicado: 17/05/2013 20:07  Atualizado: 17/05/2013 20:22
Usuário desde: 13/01/2009
Localidade: Leiria
Mensagens: 195
 Re: Até ao "Último Capítulo"... temos ENREDOS*
Boa noite a todos. Depois de ler todos os textos, consigo eleger um TOP 5. Os que gosto mais são, por ordem de preferência:

1. Prémio em marte
2. O Pacto
3. Recanto das Letras – Este foi original… :) Merece destaque… Só foi pena a parte final...
4. Piéce de résistance
5. Treze

Parabéns a todos os participantes… :) Alguns textos são muito bons… Vamos então esperar pelos resultados. Penso que o juri escolherá para os 3 melhores textos, aqueles que eu classifiquei como 1º, 2º e 4º lugar. Essa é a minha previsão. Mas posso estar enganado… :) Certamente que o juri seleccionado percebe mais disto que eu, e não terá os meus gostos…

Cumps,
Pedrobito

Enviado por Tópico
Jmattos
Publicado: 17/05/2013 20:29  Atualizado: 17/05/2013 20:29
Usuário desde: 03/09/2012
Localidade:
Mensagens: 18165
 Re: Até ao "Último Capítulo"... temos ENREDOS*
Parabéns aos criativos participantes! Adorei os textos, embora tenha percebido que alguns fugiram ao tema proposto! Escolhi três, são eles: Treze, O Pacto e A Profissão do Anfitrião! Boa sorte a todos! Beijos!
Janna

Enviado por Tópico
HelenDeRose
Publicado: 17/05/2013 21:55  Atualizado: 17/05/2013 21:55
Usuário desde: 06/08/2009
Localidade: Sorocaba - SP - Brasil
Mensagens: 2022
 Re: Até ao "Último Capítulo"... temos ENREDOS*

Enviado por Tópico
ArysGaiovani
Publicado: 17/05/2013 23:50  Atualizado: 17/05/2013 23:50
Usuário desde: 03/03/2012
Localidade:
Mensagens: 117
 Re: Até ao "Último Capítulo"... temos ENREDOS*
boa noite a todos

gostei de todos, principalmente de a morte e a arte.

para mim seria assim( classificando os cinco primeiros)

1. O pacto
2. pece de resistence
3. ablação alimenta ambição
4. a profissão do anfitrião
5. premio em marte

Enviado por Tópico
miriade
Publicado: 18/05/2013 03:08  Atualizado: 18/05/2013 03:17
Colaborador
Usuário desde: 28/01/2009
Localidade: Brasil
Mensagens: 2171
 Re: Até ao "Último Capítulo"... temos ENREDOS*
Como sou participante, quero apenas parabenizar a todos os poetas que tão bem fizeram uso do vasto mundo da imaginação,do comando de sua voz interior dando vida e encantamento ao 'relato' aqui apresentado. A meu ver o conto é sempre uma história inventada onde ficção e realidade se misturam sem limites...onde as emoções, sensibilidades e ideias se abraçam de maneira fantástica.Boa sorte parceiros.


Carinho, Lu



Enviado por Tópico
miriade
Publicado: 18/05/2013 03:08  Atualizado: 18/05/2013 03:13
Colaborador
Usuário desde: 28/01/2009
Localidade: Brasil
Mensagens: 2171
 Re: Até ao "Último Capítulo"... temos ENREDOS*
PS: não entendo pq sempre meus comentários saem em duplicidade, por isso deletei um.

Enviado por Tópico
GabrielaSal
Publicado: 19/05/2013 12:07  Atualizado: 19/05/2013 12:07
Colaborador
Usuário desde: 19/01/2013
Localidade:
Mensagens: 790
 Re: Até ao "Último Capítulo"... temos ENREDOS*
Nossa, incrivel a imaginação de todos vocês!
Parabéns! Gostei especialmente "A MORTE
DA ARTE" e "O PACTO".
Pensei em participar, mas sinceramente nao tive inspiração, e
acho que não tenho nem talento para tal.

.•´¸.•*´¨) ¸.•*¨)
(¸.•´ (¸.•`*´ Gabi.♥

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 20/05/2013 20:21  Atualizado: 20/05/2013 20:21
 Re: Até ao "Último Capítulo"... temos ENREDOS*
Gostei muito dos contos!

Meus parabéns a todos participantes. Embora nem todos os enredos convergiram para o capitulo final (oferecido pela genial equipe dos eventos), os textos ficaram muito bons mesmo. Um viva a criatividade dos autores !

Enviado por Tópico
Eventos Luso-Poemas
Publicado: 08/06/2013 11:48  Atualizado: 08/06/2013 11:48
Eventos
Usuário desde: 20/04/2012
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Mensagens: 486
 Re: Até ao "Último Capítulo"... temos ENREDOS*
Já estão disponíveis, na área de ARTIGOS -> RESULTADOS DE CONCURSOS, cujo link aparece no topo de todas as páginas abertas do Luso-Poemas,


http://www.luso-poemas.net/modules/sm ... tion/item.php?itemid=2974


os resultados deste desafio literário.


Parabéns a TODOS os participantes, as obras a concurso primaram pela qualidade e pela imaginação! Reunir e chamar ao seio do Luso escritores com tanto empenho e genuíno interesse na Literatura, é um dos nossos objetivos, e alcançá-lo, não poderia ser mais gratificante.


Estejam atentos ao próximo evento, a lançar pelo início da semana! Se não encontrarem o link no topo, é só abrir ARTIGOS e procurar na área de Eventos Literários.


E L-P

Enviado por Tópico
fotograma
Publicado: 09/06/2013 01:41  Atualizado: 09/06/2013 01:41
Colaborador
Usuário desde: 16/10/2012
Localidade:
Mensagens: 1473
 Re: Até ao "Último Capítulo"... temos ENREDOS*
macabro, mas deveras interessante

parabéns a todos pelas boa leitura