Poemas : 

Amor suburbano - Segunda parte.

 
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Dois dias depois estava no meu apartamento, não tinha ido trabalhar pela manhã, fiz uma caminhada e comprei jornais. Após folhear os jornais, olhei para o relógio que marcava doze horas, do apartamento ao restaurante seriam trinta minutos, andei de um lado para outro, acendi um cigarro e fui para a janela, mas o meu coração insistia em sair, então apaguei o cigarro e resolvi almoçar na pizzaria ao lado da loja. Eu estava impaciente a todo tempo meu pensamento estava naquele rosto, estranho, nunca havia me acontecido antes. A última vez que fiquei assim foi quando passei dois dias ao lado do meu cachorro, ele estava velho com mais de doze anos e vinha tendo problemas de respiração, comendo demais e andava ofegante com a respiração acelerada. Senti que escorria lágrimas nos seus olhos de uma dor imensa que vinha feito a pontadas, por duas vezes ele apagou e voltou repentinamente que chegou a andar alguns metros e caía e depois foi morrendo aos poucos olhando pra mim que fui massageando o peito dele. Tenho certeza que morreu feliz ao lado da pessoa pra quem ele foi o mais fiel dos amigos, ou seja, o estado de ansiedade por querer viver aquele momento. Saí da loja e no meio do caminho resolvi ir ao Leblon, havia mais de vinte dias que eu não entrava no apartamento, eu o havia comprado a mais de seis meses. A intenção era morar no bairro, mas fui adiando a mudança e já não tinha certeza que mudar seria uma boa ideia. Eu poderia tê-lo alugado e estar ganhando um bom dinheiro, o edifício era bem localizado numa rua residencial de esquina com uma avenida comercial.
Ao entrar apartamento, fui abrindo a porta que dava para a sacada para que entrasse o sol e sem mais imaginei encontrá-la sentada na sacada, e a me ver, levantaria e viria em minha direção me dando um beijo e puxando para o corredor, onde havia um pequeno quarto que ela transformara em um escritório com computador, estante e todos os livros meus e dela reunidos. O quarto principal estava decorado estilo árabe com quadros pelas paredes, fotos minhas, dela e juntos. Grandes almofadas espalhadas e colchão ao chão rodeado de espessos tapetes. Os desenhos foram feitos a mão com lápis de cera, de vários tamanhos, desenhadas em vinte minutos pelos artistas de rua, aqueles que ficam nas praças de Paris. Foi na nossa lua de mel, viagem de vinte dias divididos entre Roma, Paris e Madri. De repente me assustei com uma voz masculina que chamava por meu nome, quando me virei avistei o seu Manoel o porteiro do prédio, me pedia a chave do apartamento, para que pudesse mandar limpar. De pronto passei a chave que estava sobre a bancada do pequeno hall entre o corredor e a sala de estar, seu Manoel pegando as chaves me pediu desculpas pelo susto, eu respondi que não foi nada, então quando chegou à porta se voltou dizendo, o senhor pretende alugar o apartamento é que tem uma pessoa que trabalha aqui perto no centro e está interessada em alugar. Respondi que ainda não tinha tomado uma decisão sobre o assunto, mas se decidisse alugar ele seria a primeira pessoa, a saber, em seguida despediu-se e fechou a porta. E antes de começar a imaginar outras situações fui novamente despertado pelo bater da porta da sacada por uma rajada de vento. Voltei a verificar todo o apartamento, tudo estava em perfeito estado, fechei tudo e desci, na secretaria do prédio me despedi do Manoel e saí andando pela calçada, o vento forte anunciava uma possível chuva de verão para o fim da tarde.


Edmilson Naves

 
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EdmilsonOliveira
 
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