Poemas : 

O DESMATAMENTO DA ALMA

 
Tags:  poesia    solidão    tristeza    depressÃo  
 
 
(trecho inicial)

"Hoje estava difícil de pegar no sono,
Quem diria uma vez mais enfrentar a estrada.
Calejada é a alma e o dom da palavra;
Quem diria; antes tudo hoje não diz nada.
Ouço vozes que partiram no vazio,
Vejo rostos que traziam novas histórias,
Tomo vinho numa taça e parece água,
Toco o corpo da amada que já foi embora.
Sinto-me bandeira em dia de domingo –
Baioneta pronta pra uma nova luta armada,
O hino que desfila em cada corda atrai vitória
Que é certa como o circo que já foi embora
E transforma o menino em homem feito e vivo,
Cada acorde é sentido e subentendido,
Toda letra é espelho do que já foi feito
Nessa terra que um dia sonhei ser perfeita.
Quem dera vida ser baile de sexta-feira,
Ter par certo esperando na hora marcada,
Perceber em cada flor aroma de desejo,
Em cada pétala roubada novo aprendizado
Mas, a lição que a vida emprega é cruel e triste:
A fatia desse bolo não é para todos,
O tiro muitas vezes sai pela culatra
E o ouro desejado é ouro de tolo.
Nesse teatro o palco quase sempre está lotado
Cada cor tem seu papel e nobre espaço,
Na platéia todos querem ser estrela,
As cadeiras vazias anunciam o fim dessa bonança.
Os tijolos dessa Igreja ainda estão quebrados,
Cada linha do teu livro soa tão amarga,
A confusão que se procede à verdade assusta,
Quero uma bailarina que me conduza.
Mostre-me que todo amor supõe ser verdadeiro,
Todo sangue derramado não é por acaso,
O suor que escorre lento da testa dos justos
É esforço que no fim será recompensado.
Mostre-me que ser honesto ainda é virtude,
A bondade é cobertor e ainda aquece.
Mostre-me que a justiça é cega e liberta
E que essa liberdade não é para poucos.

O que é que queima mais que gasolina?

De repente fui tomado como por acaso,
Mera introdução de algo errado.
Queria ser final feliz de ato insensato
Mas, sou estilhaços de vaso quebrado.
Não me diga que “o certo rima com o errado”,
A tempestade de hoje é obra do acaso,
Há poesia em todo canto e o canto é sagrado...
Não há nada que conserte algo tão incerto!
Se o incesto que ocorre é proibido
E o aborto da questão, sopro do pecado,
O que diria da palmeira ao vento na avenida
E o sonho de sereia amaldiçoado?
Das noites claras e obscenas quase sem sentido,
Dos amigos e “amigos” cheios de favores,
Do veneno servido em taça de cristal
Produzido e engarrafado em fundo de quintal?
A voz que sai é presa, seca, lenta e tenta tanto
Produzir algo de bom em todo encontro,
Mas quis a vida que o banquete fosse dado aos ratos
E o tolo se servisse das sobras do prato.
O tempo toma tanto tempo e nosso tempo é curto,
Um mudo xinga um soneto e só um surdo escuta,
Cruzar a linha do absurdo é tão perigoso,
Improvável que se possa ver o outro lado.
Plantaram árvore em terreno que é condenado,
Condenaram a verdade a pegar atalho,
A falsidade se esconde em cada sorriso,
Cada abraço, cada ato feito ao acaso.
Feliz de todo estado que somar cidade,
Achar que tarja - preta é necessidade,
Descobri que falsificam tanto sentimento
Em prol da massa unida, a massa do momento.
Diga-me que cada gesto é abençoado,
Todo desejo puro será realizado,
Cada passo no asfalto não será em falso,
Cada tombo, cada soco é parte do passado.
Diga-me que quem perdoa será perdoado,
Todo jogo só termina no último ato,
Diga-me que foi fiel quem; na beira do abismo,
Abriu os braços e pagou por todos.

Quem é que dança mais que bailarina?

..."




Minha poesia mais ambiciosa. Essa não é para qualquer um...
 
Autor
Adroaldo
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