Poemas : 

NESTE “ DIA DO TRABALHO” , UM CONVITE À REFLEXÃO

 



Em julho de 1899, foi oficializado o “ 1º de Maio”, como a data máxima dos trabalhadores em todo o mundo. Concebida em Paris, pela Internacional Socialista, surgia como uma homenagem aos “ mártires de Chicago ", os operários daquela cidade que, anos antes, foram condenados à morte após participação em conturbados e violentos movimentos, nos quais reivindicavam, principalmente, o cumprimento da legislação que estabelecia a jornada de trabalho.

Os trabalhadores – e naquela época, preconceituosamente, somente eram assim reconhecidos os operários, posto que se excluíam os demais – exigiam nas ruas a promulgação da lei que tornava concreta a conquista da jornada de oito horas diárias de trabalho. Para isso, entre outras manifestações, prepararam os líderes, uma greve que eclodiu no dia 1º de Maio de 1886.

Como era de se esperar, as elites reagiram violentamente. Mudam as épocas e os países, mas as elites dominantes são as mesmas e comungam os mesmos interesses. Querem a qualquer custo manter seus privilégios e sempre se utilizaram das polícias como instrumento de controle e repressão a serviço de seus próprios interesses.

Historicamente, a Polícia esteve presente em todas as manifestações ocorridas ao longo dos tempos. Logicamente, cumprindo o papel imposto pelas elites, ou seja, o de reprimir esses movimentos. Geralmente, de forma violenta e a cada um que tombava diante da truculência e insensibilidade do aparato repressivo, nasciam novos mártires e datas a serem comemoradas.

No pensamento de LÊNIN, “ a greve ensina os operários a compreenderem onde repousa a força dos patrões e onde está a dos operários”. Mais ainda, as greves ensinam e proporcionam aos trabalhadores a oportunidade de unirem-se e, paulatinamente, mas de maneira contínua, faz a todos compreender que somente unidos podem continuar a luta com alguma possibilidade de sucesso! Aí reside a razão de todos os esforços das elites em combater essa legítima forma de reivindicação, a princípio utilizando a força de seus formadores de opinião - desmoralizando; em seguida, a força econômica – corrompendo; a força política – editando mordaças em formas de leis que recriam a censura; e quando nada disso é suficiente, reprimindo de forma violenta.

Os entreveros começaram nos portões das fábricas entre os grevistas e os que desejavam trabalhar, estenderam-se pelas ruas da cidade e a apoteose trágica ocorreu numa praça, durante uma manifestação anunciada como ordeira e pacífica.

Mas em toda história do mundo, em toda história das lutas das classes trabalhadoras contra as elites dominantes, jamais essas componentes chegaram a bom termo.
As reuniões pacíficas e a livre manifestação – que desnudam problemas e situações antes escondidas – jamais foram de agrado dos poderosos que sempre fazem valer “ as razões do lobo”, escudados na capacidade repressiva e truculência de uma atividade policial que criaram, toleram e acalentam para a manutenção dos seus privilégios e das benesses dos seus apaniguados.

O palco estava montado. O texto: as manifestações dos operários e a reação das elites. O cenário, uma praça. Os atores: os líderes das massas operárias e os comandantes das polícias. Os figurantes: 50.000 trabalhadores e uma quantidade sempre não conhecida de policiais; agitadores estrategicamente colocados, policiais infiltrados, dissidências sindicais agindo nas quinta-colunas e os aproveitadores de sempre em número cada vez maior. O figurino: alguns, de mãos nuas, panfletos, faixas, cartazes, pedaços de paus, pedras, coquetéis molotov, algumas vezes com algumas armas simples e outros contando sempre com o que há de mais moderno do controle de distúrbios e de massas: gás lacrimogêneo, cães, veículos e toda a sorte de armas de fogo existentes. Discursos inflamados, provocações, algumas prisões. A ordem das elites era de reprimir, de dissolver a turba, os líderes presos e caso resistissem...

Os trabalhadores foram cercados. O impasse formado e a situação cada vez mais tensa. De repente, uma explosão e o inevitável e desproporcional confronto! A praça transformou-se em praça de guerra. A escaramuça terminara com o movimento sufocado, entre presos e mortos. A polícia, mais uma vez, cumpriu o seu papel de servir aos poderosos.

Cem anos depois, em outro país, em outras praças, mais uma vez reuniram-se manifestantes. Líderes exaltados gritavam palavras de ordem, organizavam-se piquetes, distribuíam-se panfletos e faixas.

As elites - as mesmas de sempre e como sempre costuma acontecer - logo reagiram e trataram de se valer de seus privilégios determinando que a polícia agisse e de uma vez por todos acabasse com a manifestação.

Mas, atônitos, viram descortinar-se um admirável mundo novo diante de seus olhares perplexos. A polícia já tomava conta das praças, das ruas e dos quartéis. Mas, não estavam ali para reprimir. Após séculos de cumprirem mansamente o seu papel na ordem vigente, descobriram os integrantes das polícias que eram seres humanos e tinham as mesmas necessidades daquelas a quem reprimiram através dos tempos.

E premidos pela avizinhança da quase penúria que lhes vislumbrava a continuidade da situação instalada, embalados pelo triste som das panelas vazias, saíram às ruas, em histórica marcha para valerem direitos agora descobertos e não reconhecidos pelas elites.

Estas, de uma hora para outra, acordando do cinismo e da profunda hipocrisia em que ingenuamente deixaram-se embalar, perceberam que mais do que um aparato destinado manutenção da ordem pública, as policias eram formadas por seres humanos com anseios e necessidades humanas. Diante de um atônito e admirável mundo novo descortinando-se ante seus olhos, também perceberam que os policiais que reprimiam trabalhadores grevistas também tinham as mesmas necessidades que aqueles reivindicavam.

O mesmo palco, os mesmos cenários. Numa praça, de repente, uma explosão, um disparo. Tombaram Valério de Oliveira, em Belo Horizonte e Francisco Mauro Benevides, no Ceará. Um soldado e um comandante, ambos atingidos por disparos anônimos. Mártires policiais? Figuras descartáveis num contexto mais complexo? Desta vez, porem, as elites perplexas não se regalaram com o final trágico que antegozavam. O inevitável confronto não ocorreu nas proporções previstas e desejadas pelos arautos do apocalipse.

Seria um temor pelos resultados trágicos, a prevalência do espírito de corpo ou o fruto do amadurecimento político dos integrantes das polícias? Jamais saberemos, assim como jamais serão identificados os autores das cartas-bomba, das explosões e dos disparos que contribuíram para avivar a imagem truculenta e repressora das polícias e manter as elites em seus lugares de dominantes na ordem vigente.

Aguarda-se com grande expectativa a adoção das medidas necessárias para resolver essa questão, traduzidas principalmente na adoção de uma eficaz política de segurança pública, onde sejam observadas a qualificação profissional, a adequação dos recursos materiais e principalmente a valorização salarial. As policias uniram-se e marcharam pelas ruas. Disseram líderes sindicais que a união era efêmera, que a polícia não tem ideais. Somente luta por salários e uma vez atingida essa única premissa, restaria desmobilizada e apática novamente.

Mas, esta data convida à reflexão sobre esses acontecimentos, desde os longínquos fatos ocorridos na Praça Haymarket, em Chicago, até os mais recentes, nas praças de Belo Horizonte e de Fortaleza. Devem as policias, com toda a certeza, sem qualquer prejuízo da sua função de mantenedoras da paz social e da harmonia entre os cidadãos, continuarem mobilizadas e principalmente unidas e através de seus sindicatos e associações fazer com que soe, não o eco dos anseios das elites dominantes, mas a sua própria voz.

Ampliando-se essa reflexão, como num “ 1º de Maio “ globalizado, os movimentos ensinaram os integrantes das polícias a iniciarem a real compreensão do seu verdadeiro papel no equilíbrio da ordem dominante, compreendendo e mensurando na equilibrante - até então harmônica - a intensidade, não só da força descomunal das elites como de sua própria força.

E principalmente, desnudou que a resultante nem sempre esteve tão voltada para o bem estar da população quanto a serviço dos interesses econômicos e políticos das elites.


 
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LM.remora
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