Farinha do mesmo saco #.#.#

Farinha do mesmo saco



Os ladrões e os hipócritas,
Os cleptomaníacos e dissimulados de toda ordem,
Os psicopatas, assassinos, estupradores;
Os corruptos, os amadores, os furadores de fila,
As zebras, as antas, os cachorros, as galinhas,
Eu, você,
Somos todos, uma farinha grossa e empolada,
Nesse mesmo saco industrial feitos em série.

Os gays, lésbicas, os heterossexuais,
Os machos de todas as camas e camadas, as feministas,
As maquinistas, as alpinistas e o que mais
Carregarem todas essas rimas abissais com suas poses
Ridículas, tão cheias de impactos cinematográficos,
É tudo farinha ensacada, triunfando
Em enormes passarelas, sob os aplausos canibais.

Os homens, as mulheres, as crianças, as famílias,
As tribos, todas as tribos de tatuados conscienciais,
As matilhas em todas as suas pérfidas matizes e abjetas ilusões,
Suas repugnâncias, seus furúnculos e todo o pus,
Essas bandeiras de variados formatos, todas ridículas,
Feitas por alguém como eu, como você,
Encharcados de coliformes fecais nos olhos e no torpe coração,
Esse mesmo coração que chora de prazer,
Quando fica de quatro, de quina, de pernas abertas,
Babando enquanto o sistema pinga uma gota de mel podre
Nesta sua língua maldita e bifurcada.
Não se engane, eu estou nessa lista e você também.

Então fica assim, não temos nada para comemorar,
Meu vizinho morre de fome e eu não estou nem aí,
Minhas feridas são sempre maiores, as suas também.

E tudo vai ficar bem mais florido, somos diligentes,
Plantamos todos os dias novas sementes
E as nascidas, principalmente as feias, regamos sempre,
Não esquecemos um só minuto de cuspir nesse canteiro.



Milton Filho.. 10.03.2016