Poemas : 

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Não estava preparado
Para levitar na orbita do teu olhar
Muito menos encontrar-te, brilhando
A 35 centímetros acima dos ombros

Era apenas um caminhante,
Carregando
A dor pesada às costas
E um coração anémico
Querendo descanso


Mas a vida entrega-nos um passaporte para as ilhas gregas
Quando acabamos de ultrapassar um deserto com o coração sagrando …

Assim cheguei ao campo gravitacional
Do teu íntimo …
Um mundo virgem
Com trilhos conhecidos
Antes de os pisar …

Não levava convite
Apenas um olhar em ramo
E um par de flores tristes

Cheguei ao teu ombro
Como pássaro medroso
Querendo
O pescoço nos lábios
E uma vida inteira ao teu lado

Oh meu Deus…! Foi sempre assim, nesta curta vida …
Descobrimos o vento quando rapamos o cabelo …
Encontramos o ouro nos cornos do touro
Já sem fôlego para o enfrentar ….

Mesmo assim,
Estou aqui,
Pronto a ser colhido por ti …e amar-te ...




 
Autor
kikofalcão
 
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Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 02/09/2016 18:28  Atualizado: 02/09/2016 18:28
Usuário desde: 06/11/2007
Localidade:
Mensagens: 1943
 Re: .
Acho este poema duma candura comovente.
Tem distintamente duas partes.
A primeira duma existência conformada, em "piloto automático" e a segunda da descoberta.

Acho particularmente felizes os versos:
"Descobrir o vento quando rapamos o cabelo" pela sua proximadade ao dia-a-dia.
"...querendo o pescoço nos lábios..." pelo inesperado do contrário.

Claro que, como diria Cervantes em D. Quixote - vê moinhos são moinhos, vê gigantes são gigantes...

Também se pode ver ouro em chifres de touro.

Abraço

Enviado por Tópico
Jmattos
Publicado: 03/09/2016 01:42  Atualizado: 03/09/2016 01:42
Usuário desde: 03/09/2012
Localidade:
Mensagens: 18165
 Re: .
Poeta
Gostei imensamente!
Beijos!
Janna

Enviado por Tópico
Margô_T
Publicado: 03/09/2016 08:26  Atualizado: 03/09/2016 08:26
Da casa!
Usuário desde: 27/06/2016
Localidade: Lisboa
Mensagens: 308
 Re: .
As tuas cinco primeiras estrofes levam-me em passeio galáctico…
A primeira estrofe é soberba, combinando o próximo com o longínquo de um modo que me enternece. Deste modo, orbita-se – não uma estrela ou um planeta – mas um “olhar” e, com esse movimento, levitamos. Simultaneamente, encontramos o brilho cósmico, não à noite nos céus, mas a “35 centímetros acima dos ombros” (adorável a precisão!)
Caminhamos, orbitando, por este olhar que “desenhas” nos teus versos, sentindo a necessidade do sujeito poético de obter repouso para este seu “coração anémico”, pesado de sombras, que, por falta do fluxo vital, não palpita como deveria neste seu corpo “caminhante”.
Saltamos da paisagem cósmica para as “ilhas gregas” e sentimo-nos atraídos por um mundo que nos prega com o seu “campo gravitacional”. Porém, o que nos espera serão “trilhos conhecidos” e já o sabemos ainda antes de os pisarmos (e cá voltamos nós à ideia de órbita, de círculo ou elipse, de ciclo, de repetição).
Mesmo sem convite, o sujeito poético entra neste novo mundo tendo como “carta de apresentação” um “olhar em ramo” e um “par de flores tristes”. As flores lembram-lhe o coração anémico... e o “olhar em ramo” este encantamento que o faz gravitar.