Poemas : 

Submersos

 
 




olhos afundados
nas goteiras
dos lagos
em busca de brilhos
como dantes
quando nos olhávamos
como duplas janelas
querendo ser abertas
após o erguer das pestanas

nesta realidade
os insociáveis olhares
range nas sombras
antes do calor
da chama
da cinza
no adeus anunciado
vestido de ganga, verniz e seda

resta-me encarar as letras de frente
nas torturas das mesmas horas
esperar que o tempo
perfure as folhas
e faça da caneta que escreve
tinta do meu sangue

sei que as letras
já me olham de lado
somos companheiras
da viagem ao passado
em direção ao esquecimento

sofremos
de uma solidão esquelética
que bebe
da mesma saudade alcoólica
e fuma
da mesma tristeza poética

não sei quanto tempo irá durar
esta união matrimonial

a cada verso
morremos mais um pouco
e já não se ouve a chama do grito
não se veem os acordes da língua
não se sente o brilho grunhindo dos olhos
ao fim deste poema




 
Autor
kikofalcão
 
Texto
Data
Leituras
129
Favoritos
1
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
13 pontos
3
1
1
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
HorrorisCausa
Publicado: 19/02/2024 19:02  Atualizado: 19/02/2024 19:02
Administrador
Usuário desde: 15/02/2007
Localidade: Porto
Mensagens: 3598
 Re: Submersos / KiKofalção
olá Kikofalção

num registo que eu gosto muito, algo sombrio, misterioso, no jogo do desvendo mas também tapa, deixas o adivinhar, deixas que o leitor se permita ir...
finda o poema, ficam emoções-

"a cada verso
morremos mais um pouco"


mas, a cada poema, ressuscitamos.

atenciosamente
HC

Enviado por Tópico
Egéria
Publicado: 20/02/2024 13:46  Atualizado: 20/02/2024 13:46
Usuário desde: 28/09/2009
Localidade:
Mensagens: 901
 Re: Submersos
Olá,
perfeito!!
Adorei.
Abraço

Enviado por Tópico
Paulo-Galvão
Publicado: 20/02/2024 15:34  Atualizado: 20/02/2024 15:34
Usuário desde: 12/12/2011
Localidade: Lagos
Mensagens: 1176
 Re: Submersos
Olá falcão,
Há no olhar uma magia secreta
que quando liberta,
é porta aberta para o infinito.

Gostei de ler

Abraço

Paulo