Prosas Poéticas : 

Carta de um Triste Solitário

 
Carta de um Triste Solitário
 
Évora, 01 de Janeiro de 2017
Talvez seja tarde meu amor ...

... mas na impossibilidade de pessoalmente te dizer, digo-te, aqui, hoje, por carta: não consigo esquecer-te! Perdoa se fui cruel. Se fui violento com as palavras e me deixei vaguear por emoções que nos separaram. Perdoa-me se não te soube ouvir a tempo, nem te prestei a atenção devida, quando me quiseste chamar à razão. Arrependo-me profundamente de não te ter ouvido aquando daquela ocasião. Perdoa se fui duro, frio, intransigente e inadequado, quando, afinal, tu, só me querias dar amor. E eu?! O que fiz a nós dois?! O que fiz de nós dois?! Não há uma noite sequer, em que me deite na minha cama, que não sofra com a distância que nos separa "mea culpa", meu amor, "mea culpa"!

Tudo porque não soube escutar o eco do teu coração. O timbre da tua voz. O sussurro do teu olhar. Porque me terei fechado tão friamente ao nosso amor? Porque terei renegado o que de mais intimo e profundo tem a Alma humana, o amor d'Alguem?! Porquê?! Não sei ... juro que não sei ... não entendo ... nem me entendo ... E quando tento entender só há vazio, dor e solidão. E recordo o abandono do mundo a que sempre fui votado. Mas como poderias tu não me abandonar também?! Como poderias permanecer ao lado de alguém tão arrogante e retesado como eu?! Como pude ser tão cego em relação a ti? Como?! ...

Na verdade, a vida dá-nos muitas oportunidades de ser feliz, por vezes, somos nós que as não vemos nem sentimos.

Fui arrogante e prepotente. Perdoa se ainda vou a tempo. Não faças comigo o que fiz contigo. O que fiz connosco. Salva a nossa História, e, talvez, quem sabe, não estaremos ainda a tempo de nos reencontrarmos! Quem dera pudesses ouvir este meu pobre e triste desabafo, tão cheio de verdade, agrura e solidão. Depois de diagnosticada a tua ausência, meu corpo, foi tomado, como se de um cancro se tratasse, profundo, intenso e maligno.

Morro de tristeza a cada dia que passa. Estou desenganado. Sei. Sinto-o. A fria incomunicabilidade dos nossos corações corrói e consome a minha Alma tão fugaz. Diz ao menos que me não esqueceste ainda. Que recordas, como eu, aqueles instantes de amor que nos foram dados junto do mar. Diz que não esqueceste o entardecer sobre as rosas que tantas vezes testemunhou a nossa História. Diz que não foram vãos os versos que te dei ... diz ... se me amas ainda ... diz ... Não oiço nada! Antes escutava-te sem te ver. Sem que estivesses a meu lado. Agora, não te escuto, não te vejo, nem te sinto. Que amargo o destino se tornou. Cheio de qualhos, quebrantos e gangrenas. Resta-me a caneta, o papel, a carta e este corpo que, apodrece na imensidão dos segundos que parecem ser eternos. Sem ti meu amor! Sem ti!

PARA TI:

Há poesias nos meus lábios
excessivamente fechados
há tristezas nos meus olhos
paradoxalmente cerrados ...

Como se d'um morto se tratasse
meu corpo está cansado
e meu coração talvez parasse
se não batesse descompassado ...

Tantas estrelas invertidas
no meu Céu em solidão
tantas mágoas concebidas
que a dor enterra neste chão ...

E que faço eu a esta hora
sem a Luz dos teus abraços?! ...
Amor volta, sem demora,
prá quietude dos meus braços ...


Correm-me as lágrimas neste momento, meu lirio, meu cravo, minha estrela da manhã ... Nada mais tenho a dizer-te, as palavras escasseiam e atiram-me ao vazio, e, em mim, tudo acaba também. Não sou nada. Já nem sei se alguma vez fui ...
E é do nada, no nada e com o nada que me despeço de ti. Apenas com este amor ferido na mão!


Adeus!
Do sempre Só!
Richard Mary Bay

P.S./ Aqui me tens p'ra começar de novo ...


Richard Mary Bay
"o Último Romântico"

 
Autor
SirRichard
 
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