Há outros caminhos
Esta é para os que dizem que todos vão dar a Roma
Há outros caminhos
Chegou a hora de acordar do coma
Quando eu era pequenino perguntaram-me o que é que eu queria ser
Ao contrário das outras crianças eu não sabia bem o que dizer
A meu ver, essa era uma questão inconveniente
O ser humano tem que estar sempre a estragar o bom ambiente
Porque não posso simplesmente viver o presente?
Vê-se mesmo que não fazem a menor ideia de que eu sou um homem que nada sente
Se ao menos eu tivesse caído de pára-quedas
Eu conseguiria ter a mesma visão que a dos meus colegas
De que nessa vida nem tudo é tão ruim quanto parece
Lamento se não sou capaz de dar azo à liberdade
Mas é que eu tenho um fraquinho pela ansiedade
É por isso mesmo que a minha existência tem sido marcada por uma série de desistências
Porque eu acredito que se deve viver de reticências
Há outros caminhos
Esta é para os que dizem que todos vão dar a Roma
Há outros caminhos
Chegou a hora de acordar do coma
Os professores não perceberam que eu precisava de amadurecer
Eu não queria fazer uma declaração só por fazer
Em primeiro lugar eu tinha que experimentar
Para na volta acabar por esquentar
Vou para a natação com a intenção de endireitar a coluna
Mas o meu coração afunda
Para a segurança máxima onde no simulador só consigo rezar o terço da nossa senhora de Fátima
Para o curso de línguas e humanidades para escapar das ciências exactas
Pensar que algum dia vim de malas e bagagens
Caso para dizer que eu devo estar a ter miragens
Tenho cá dentro um amor mal resolvido
Que me impede de ser bem-sucedido
Sonhar não custa nada
O meu sonho é tão real
Vou fazer-me à estrada
Tenho um ponto cardeal
Deram-me a opção de recepcionista de hotel
Opção, que não podia ser mais amarga que o fel
Há outros caminhos
Esta é para os que dizem que todos vão dar a Roma
Há outros caminhos
Chegou a hora de acordar do coma
O importante é não nos darmos por vencidos
Mesmo que os nossos inimigos peçam para que chova
Temos de mostrar que nascemos para sermos aquecidos
Que não há precipitação que seja que nos demova
Logo no primeiro dia a minha vontade era de desaparecer
Engraçado que foi precisamente isso que acabou por acontecer
A professora queria que os alunos fizessem trabalhos em grupo
Como sabem não papo grupos
Quando me reconheço ameaçado eu sou bruto
Para não bater em ninguém optei antes por bater com a porta
Voltei à estaca zero
No centro qualifica vi a minha antiga professora de geografia
Foi quando veio à minha mente a imagem da minha péssima caligrafia
Mais um pouco e estava a viver tudo de novo
Estava a dar-se a ressurreição de um estorvo
João Braga - Sou eu, em pele, carne e osso
À semelhança do ano anterior fiquei sentado ao fundo
Bem como, sem quaisquer tipos de assuntos
Quando vou limpar chaminés tenho os pés bem assentes na terra
O medo venceu a batalha mas não pode ganhar a guerra
Quando parecia que já nada restava percebi que ainda tinha a escrita
É quando digo que não valho um pataco que ela me grita
Que ao mesmo tempo me dá chapadas para eu acordar para a vida
Isso era bom se eu tivesse comigo um pedaço de ânimo
Desde que me conheço que nunca me senti romântico
Porque sempre que eu fico feliz acontece alguma coisa ruim
Por alguma razão se costuma dizer, o que ninguém sabe ninguém estraga
Se calhar é essa a solução para me tornar num segundo Pedro Chagas Freitas
Quero ir para além de frases feitas
Falar algo breve mas certeiro, que não levante suspeitas
Já lá vai o tempo em que eu era um tipo às direitas
Se repararem bem eu escrevo com a mão que me dá mais jeito, a esquerda
Quem sabe se não é por isso que nos dias de hoje sou um homem feito, engoli muita perda
Há outros caminhos
Esta é para os que dizem que todos vão dar a Roma
Há outros caminhos
Chegou a hora de acordar do coma
O importante é não nos darmos por vencidos
Mesmo que os nossos inimigos peçam para que chova
Temos de mostrar que nascemos para sermos aquecidos
Que não há precipitação que seja que nos demova
Se formos por outros caminhos, podemos achar a saída
O importante é não desistirmos, tudo tem uma razão de ser
Se cairmos, de seguida rirmo-nos
O que é para ser nosso, ninguém nos tira
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