Por que me tens assim
Como o pó da estrada
Que envolve o ar
E sufoca quem por ela passa...
Vi no espelho os dias pelos quais passei
E contei tamanhas desilusões
Que apagaram de mim
A face terna de um bem querer...
E quantos lamentos e lágrimas
Ainda consumirão
O meu breve lampejo
De felicidade...
Tens nas mãos
A infindável presença
Da angustia
Que rodeia minha sombra...
Tens nas mãos
O insaciável desejo
De trair todo o silencio
Que me persegue...
Da poeira que me sufoca
Guardo a presença amarga
E a cor mórbida
Do teu desprezo...
"Há poemas ininteligíveis nos seus elementos, porque só o poeta tem a chave que o explica; mas a explicação não é necessária para que pessoas dotadas de sensibilidade poética penetrem na intenção essencial dos versos"
Manuel Bandeira