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Olhar Cego nº 31

 
[Este texto não pertence à Administração. Trata-se de uma colaboração de um Luso-Poeta, que participou de forma anónima no jogo "Olhar Cego". No final, revelaremos a sua identidade. Convidamos os utilizadores a pontuar e a comentar o texto à vontade, como fazem com qualquer outro.]

Vazio...

nem o ódio resta...

foi tudo sorvido até ao fundo,
raspado de forma lesta
até só haver um vazio rotundo...

profundo,

um zero tão zero que absorve tudo,

ficaram apenas as covas dos olhos,
o tórax seco...
e nada,
nem sequer um pouco de mais nada
além de paredes arranhadas

Desespero!
É isso!

O vácuo desesperante,
a flutuação inquietante
em que se roem unhas já arrancadas
com requinte violento...
rangem-se os dentes até lascar...
é isso!

Desespero e mais nada.
Houve amor e nem ódio resta.
Foi sendo arrumado a um canto,
acocorado em silencioso pranto
e desaprumou-se num desencanto...
secou!

Não é nada que se ouça,
ou sinta assim,
ou veja, ou seja, ou...
nada...
nada...
nada...

 
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Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
AlexandreCosta
Publicado: 29/09/2024 17:57  Atualizado: 29/09/2024 17:57
Administrador
Usuário desde: 06/05/2024
Localidade: Braga
Mensagens: 1315
 Re: Olhar Cego nº 31
Um nada muito denso!

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 29/09/2024 19:26  Atualizado: 29/09/2024 19:36
 Re: Olhar Cego nº 31
.


…Vazio……( a reticências no título contínua na minha cabeça, como sinal de continuação, o vazio é… e continua)

…nem o ódio resta……( será que está engasgado e não consegue continuar, penso que o ódio é quase involuntário)

…sorvido…,...lesta…,...rotundo……( a minha imaginação me leva a desenhar um copo, seria um tipo de sede)

…um zero tão zero que absorve tudo,...( No fim até a embalagem é consumida)

…ficaram apenas as covas dos olhos,...( Dá vontade de olhar
no espelho o desespero e é tanta criatividade que eu chego a ser agitada por dentro)

…acocorado em silencioso pranto
e desaprumou-se num desencanto...
secou!...(É triste, mas creio que a vida seja igual a uma planta)

Enviado por Tópico
Alemtagus
Publicado: 29/09/2024 20:52  Atualizado: 29/09/2024 20:52
Moderador
Usuário desde: 24/12/2006
Localidade: Montemor-o-Novo
Mensagens: 3835
 Re: Olhar Cego nº 31
A forma adulta como esta página se enche de vazios é impressionante, enche-nos de esperança que o futuro não tenha esta cor.
O texto é soberbo, mas a imagem (a que eu li) incomoda os mais sensíveis. O corpo vivo que jaz no caixão, para quem o mundo, de repente, minguou e agora se cinge a um espaço que dura poucos minutos, as unhas aflitas rasgam a madeira, o ar esvai-se e seca o olhar já cego pelo breu, a voz é impotente e clama pelo fim da loucura.
Dor bem escrita.

Enviado por Tópico
rosafogo
Publicado: 30/09/2024 06:05  Atualizado: 30/09/2024 06:05
Moderador
Usuário desde: 28/07/2009
Localidade:
Mensagens: 11347
 Re: Olhar Cego nº 31
O desespero é imenso! Quem dera que o mundo fosse mais perfeito e o homem tivesse maior capacidade de amar, evitar-se-iam as dores de tantos, que sofrem neste momento, a dor aqui descrita no poema.

A vida é um poema que se lê tantas vezes com lágrima ao canto do olho.

Gostei deste momento poético.

Enviado por Tópico
Benjamin Pó
Publicado: 02/10/2024 13:45  Atualizado: 02/10/2024 13:45
Administrador
Usuário desde: 02/10/2021
Localidade:
Mensagens: 851
 Re: Olhar Cego nº 31
.
A lembrar "Tabacaria", de Álvaro de Campos:

"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."

Enviado por Tópico
Aline Lima
Publicado: 05/10/2024 00:45  Atualizado: 05/10/2024 02:00
Administrador
Usuário desde: 02/04/2012
Localidade: Brasília- Brasil
Mensagens: 1048
 Re: Olhar Cego nº 31
Que sofrida a imagem desse estado emocional onde até os sentimentos mais fortes foram consumidos. Destaco o final, onde a repetição da palavra "nada" reforça a ideia de que o vazio não é só a ausência de emoções, mas um estado de existência, onde não há mais o que ser dito, sentido ou vivido.
Triste e impactante.

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