O dia mal começou e já tem bilhete no grupo da escola, recado da coordenação, mudança na grade, aluno esperando explicação, pai pedindo retorno, e a tal planilha que precisa ser entregue “com urgência”.
Você respira fundo, encara a lista de pendências e mergulha. Corrige provas no intervalo, responde mensagem na hora do almoço, prepara aula de última hora. Resolve tudo. Ou quase tudo.
Mas lá no fundo, sabe que mais uma vez o importante ficou para depois. A conversa individual com aquele aluno mais quieto. A ideia nova de projeto que você teve no banho e que parecia incrível, mas ficou para depois porque o tempo apertou. O café com os colegas que faz falta. O tempo para estudar, para criar, para lembrar por que você ama ensinar.
Porque ser professor virou também ser bombeiro. Apagar incêndios o tempo todo — e nem sempre tem água para tanto fogo. E o que é essencial, aquilo que de fato transforma a educação — o vínculo, o cuidado, a escuta, a criação — fica espremido entre uma urgência e outra.
Mas é isso: o urgente grita. O importante sussurra. E se a gente não escuta, ele vai embora.
A pergunta que fica é: quanto daquilo que realmente faz sentido estamos deixando para depois?
Porque, no fim das contas, ensinar é mais do que cumprir prazos. É estar inteiro. E a gente só consegue estar inteiro quando o que importa tem espaço para florescer.
Crônica: Odair José, Poeta Cacerense