O último suspiro
Não é apenas ar,
É a alma que sussurra
O que a boca nunca teve coragem de dizer.
Há segredos que só o silêncio entende.
E o último suspiro…
É o único que fala com o tempo.
O fim não pede desculpas.
Mas o último sopro tenta,
Como se pudesse costurar com vento
As palavras que faltaram.
O último suspiro é o poema mais sincero:
Não tem rima, nem verso,
Mas tem verdade.
Quem ouve o último suspiro
Carrega uma herança invisível:
O peso do não dito,
E a dádiva de continuar.
O último suspiro não procura plateia.
Ele dança sozinho,
Num compasso que só o destino escuta.
Quando o peito solta o último ar,
Não é o corpo que parte,
É a lembrança que decide em quem vai morar.
Às vezes, o último suspiro
É uma pergunta lançada ao escuro,
Na esperança de que alguém, um dia,
Responda com vida.
Não há mentira no último suspiro.
É o único instante em que o ser
Deixa de fingir que não tem medo.
Alguns partem com um grito,
Outros com um sopro,
Mas há quem transforme o último suspiro
Em uma semente,
E floresça dentro de quem fica.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense