a árvore
assim se forma de novo a árvore
quase a definhar na epiderme outonal
adormecida na endoderme invernal
das raízes nasce a extática esperança
floresce na derme primaveril
de folhas flores e frutos estiais
um arraial de pássaros coloridos
içando asas bicando frutos
chilreiam versos de infinito
enquanto os pés se tolhem
em noturnos seculares
por detrás da vidraça dos meus olhos
deixo-me divagar simples humano
tanto me é dado
e tão pouco alcanço
sou de aquém o átomo finito
nada posso
e desta minha ânsia crepuscular
ouso gritar
sou árvore movediça
e voo no espaço sideral
enquanto há ciclos verdes…
como se os ramos não apodrecessem
como se não morressem
para além das franjas frescas enrubescidas
e os seus rostos nus
sem mais lugar para partos inúteis
meus olhos livres
neste espaço sem fronteiras
contemplam flores que enfeitam
quintais ásperos e mudos
há ramos que ficam
braços eternos que se estendem
aonde o amor clama
há mãos que acariciam
que dão seiva da vida
há mãos que se dão
para que seja eterna a árvore
que quase definhava
Fernando R Almeida