Se eu pudesse ouvir
A voz do meu próprio coração,
Ela não viria em palavras,
Viria em um tremor suave,
Um sopro quente que sobe do peito
E se espalha pela garganta, pedindo passagem.
Mas eu o silencio.
E ele continua a pulsar
Como quem insiste em viver um segredo.
Às vezes imagino como seria libertá-lo.
Dizer tudo.
Abrir o peito
Como se abre uma janela depois de dias de tempestade.
Deixar que o ar novo,
Ainda tímido, invadisse o espaço entre nós.
E então penso na sua reação.
Talvez você sorrisse
Com aquele brilho leve
Que acende seus olhos quando algo o toca profundamente.
Talvez ficasse em silêncio,
Não por falta de palavras,
Mas porque algumas verdades só se compreendem devagar.
Talvez sua alma estremecesse só um pouco,
O suficiente para entender
Que meu sentimento não nasce de um impulso,
Mas de uma constância quieta.
Ou talvez você desviaria o olhar,
Surpreendido demais,
Sem saber como segurar algo tão frágil
E tão intenso ao mesmo tempo.
E é por isso
Que a voz do coração permanece encarcerada.
Não por medo do que sinto,
Mas por cuidado com o mundo que existe entre nós.
Porque amar calado, às vezes,
É a única forma de não perder quem já é presença,
Mesmo que não nos pertença mais.
Mas ainda assim…
Às vezes fecho os olhos e imagino.
Se eu falasse,
Se você escutasse,
Se o destino respirasse fundo…
Quem sabe a reação que eu tanto temo
Fosse, no fundo, a que meu coração secretamente espera.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense