Finda o dia e já 'scurece...
Horas vespertinas em que divago
no meu leito inda sem flores. 
Estou lúcido e tu me apareces. 
Espera! que a dor não trago 
e ainda há dia em minha vida. 
Minha mente está caduca 
e vazio é o saco escrotal das minhas palavras. 
Quisera ejaculá-las todas, aos borbotões, 
em tua página vermelha e negra... 
Ah! Se não fosses infecunda! 
Transformar-te-ias com a maternidade. 
Reagirei, ó Dona Morte, Viúva Triste, Mulher Fatal! 
E incutirei em tuas veias os versos deste poema, 
marcapasso do meu coração. 
Desposaste Mallarmé, Camões, Bilac... 
Não te contentas? 
A mim, hás de ler-me vivo! 
Ninguém é totalmente insensível à Poesia. 
Assim, absorta em ouvir-me, enamorada, 
amar-te-ei ao ocaso e, antes que anoiteça, 
tendo-te aos meus pés, exausta e subjugada, 
de posse do teu segredo e em prol da Vida, 
matar-te-ei, ó Dona Morte! 
                
 
Remisson Aniceto - poeta brasileiro, da cidade de Nova Era, editor da Revista PROTEXTO, de páginas abertas para novos e conhecidos autores.