Prosas Poéticas : 

"A Madrugada Infiel"

 
Há o poema…
Há a criança carecida de arte, há pena de não ser… Há tempo.
Entendam-se os anjos que cobrem as esquinas do mundo, arrepio, sombra de sol mastiga o que resta do corpo fatigado, o vento bebe os cabelos que mar de sal enxagua.
Há a criança…
Há o poema…
A cidade deita-se a horas tardias, guardei imagens, gentes, o luar, as estrelas desentendidas são cruéis, infiéis, trocam-se carências, afectos, céu e mar revoltam-se conspirando, o mundo é uma pincelada sem cor que mão artista esculpe com lágrimas sem sabor.
A criança corre os prados nus, sua natureza, inocência, nunca sair derrotado, enfrentando, desistem os homens de ser gente, para ser refúgio permanente, na mente criança que sente.
Eu era o pintor, o escultor que moldava o mundo, achando, maior que deus, estenderia a mão madura, consumindo com ternura os olhos navegantes, as veias salpicadas de sal, que o mar enforcou.
Poeta desvairado, olhando em silêncio o quarto escuro, a parede revela sinais de crueldade, a pintura desvanece com o tempo, ficam traços diluindo, as poucas lágrimas que restam, do ser infinito.
Mais que criança, introspectivo, reflexivo, corre a velocidade extrema…
O terreno de Deus num céu de infernos.
As cores transformam o sonho, que ilusão consome com versos.
Descansando, os olhos maduros absorvem da paisagem enlouquecida o pouco silêncio que resta, memória a sombra abraça, ficam resíduos do tudo e do nada.
Com palavras verdadeiras consumi o mundo, com revolta invencível conquistei os céus, lugar do paraíso, os sonhos são filhos dos pesadelos meus, meu pai é o silêncio que me veste e adormece em mãos pausadas de sol, que aquece, lua desatinada embala nos braços, tudo o mais que minha prece estranha carece.
Sou um cavaleiro, pedinte de sentimentos, carente de fantasia, sou mãos enforcadas no sangue dos homens, sou quem viveu! Sou quem viu!
O ser humano caindo por terra, sem sonhos, sem ilusão, sem forças abraçando os mistérios desentendidos de um tempo perdido, perdido nas lágrimas do luar, enfraquecem os corpos consumidos pelos olhos do sol.
A criança vai correndo, brincando com histórias, aprendendo com os silêncios, desejando ser um dia, mais que arte, ser gente.

A criança Viu! Viveu!...

Adormece…
É tempo… É presente.

Paulo Themudo

 
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Paulo Themudo
 
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