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Carta ao Monstro

 
Desperto Monstro, que nas querelas dos teus pensamentos massacras as sombras com prospectos demagogos e uma fugaz insularidade.
Porque te anuncias ao vento contra os que amam a escrita e destróis os caminhos construídos pelas palavras?
Jamais serás indigente para que peças sacrifícios dos demais obreiros deste mundo que se perde a teus pés… Grotesco herdeiro do mal que abunda num terreno espalhado como um nevoeiro apocalíptico que espera pacientemente o seu tempo para desaparecer. Não!
Serás sempre a besta que se esconde nas palavras dos outros, que sorri nos lábios alheios e que morde a sombra da sua própria alma.
Não percebes que tens o tempo contado e que te foge a cada instante?
Não entendes que deixaste de existir aos olhos dos que ainda vivem?
Não tens identidade feita, nem espaço, és eremítico, porque não sabes coexistir. Renegado. Trazes em ti os sabres da morte anunciada. Escorres o sangue, o suor e as lágrimas dos que se esforçam para que o mundo consiga sobreviver.
Não!
Não entendes?
És a tua própria morte assumida, assinalada, erecta, com o condão de seres o termo imutável do desespero e do desacato.
Acorda desse feitiço feito sonho que nunca passará dum pesadelo infame e depravado.
Nasceste Monstro e assim continuarás pelas trevas dos inglórios tempos do além.
Deixa-nos. Inebriado desejo que tens que vives em função de cada passo, que respiras cada palavra com sendo tua. Não vingarás com a atrocidade que alimenta a tua serpente que julgas ser um cérebro, quiçá, só teu… Amaldiçoado seja!
Afasta-te.
Leva contigo a tua morte e convida para essa viagem os malfeitores terrestres que abundam por esta encantada caminhada. Leva-os contigo. Ressurge noutro tempo, noutro local em que os espectros sejam imperantes e existam em compleição igual a tua.
Serás então emergente e ainda assim, bem recebido por essa, que designo de gente…
Se esta carta chegar tarde, que assista ao teu funeral e que regresse com as palavras inebriadas da notícia que ansiamos receber.
Todos por aqui procuram a paz. E não te pensámos capaz.

Vai-te! Ó derradeiro híbrido...


Paraíso secundário, 31 de Janeiro de 1331


Escrevo…para libertar as personagens que não consigo Ser!
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http://catalogoluademarfim.blogspot.pt/

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Autor
Paulo Afonso Ramos
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 12/11/2008 19:09  Atualizado: 12/11/2008 19:09
 Re: Carta ao Monstro
Bastante doce o teor, frontal, assim...humano(?!)Há monstros e monstros. São muitos. São tantos e híbridos, de fato.

Enviado por Tópico
jaber
Publicado: 12/11/2008 19:20  Atualizado: 12/11/2008 19:20
Membro de honra
Usuário desde: 24/07/2008
Localidade: Braga
Mensagens: 2780
 Re: Carta ao Monstro
...e que tenhas mil mortes pelos mil sofrimentos que causaste... Grande exorcismo ...

Abraço

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 12/11/2008 19:24  Atualizado: 12/11/2008 19:24
 Re: Carta ao Monstro
Muito à frente no tempo e intemporal no contexto...
Muito bem.

Um abraço ao meu amigo ausente

Enviado por Tópico
Vera Sousa Silva
Publicado: 12/11/2008 21:28  Atualizado: 12/11/2008 21:28
Membro de honra
Usuário desde: 04/10/2006
Localidade: Amadora
Mensagens: 4098
 Re: Carta ao Monstro
Paulinho, um texto surpreendente, onde mostras a tua enorme versatilidade com as palavras. És rei!
Está excelente e eu estou super orgulhosa de ti!

Mil beijos