Crónicas : 

MEU PAÍS

 
Regozijo-me do meu fantástico país - o Brasil da imponência, do ouro abundante nas aluviões, da bauxita incrustada nos promontórios, do diamante oculto nas fendas das rochas. Brasil que ostenta um carnaval o qual fascina brasileiros e estrangeiros seja na Marquês de Sapucaí, no sambódromo do Anhembi, no Farol da Barra ou nas ladeiras de Olinda. Brasil onde viceja a maior floresta tropical do mundo, que possui um Rio Amazonas, o mais caudaloso do planeta, em cuja foz a pororoca encanta turistas internacionais. Um Cristo Redentor que permanece de braços abertos para dar boas vindas aos visitantes que chegam seja pela Ponte Rio-Niterói ou pelo Galeão. O Brasil dos belos arranha-céus que se desmancham com a neblina da Avenida Paulista e do Morumbi. Do Maracanã e do Parque Antártica lotados de torcedores festivos. Do espelho d`água da Lagoa da Pampulha que, refletindo os contornos da Serra dos Currais, forma um Belo Horizonte. Um churrasco tão suculento que é preciso ser regado com chimarrão. Uma Chapada Diamantina, cujo brilho faísca os olhos dos visitantes. Um lençol que o Maranhão nem necessita de cobertor. O calor humano do Nordeste dispensa esses atributos, pois o frescor proporcionado pelo suco de umbu, cajuína e buriti sossega o paladar. Um pantanal repleto de bichos de rara beleza. Um plano piloto, em cujo centro uma cidade tão bem traçada provoca inveja em arquitetos internacionais.
Meu Brasil festeja o carnaval e a vitória no futebol não com fogos de artifício, mas com tiros de fuzil e acerta o peito do menino que está vindo da escola. Inunda o Amazonas e o São Francisco de agrotóxicos. Abarrota os canais feitos pelos homens para escoar mercúrio e contaminar o sangue dos ribeirinhos. Enfeita o céu cinzento de São Paulo com gás carbônico e enxofre e empurram o CO2 para nosso pulmão. Joga detritos nas grotas que outrora podiam ser chamadas de rios. Mata os bichos do Pantanal que nos encantaram um dia com sua beleza. Ateia fogo na caatinga já ressequida e faz do Nordeste um deserto. Entope-se de maconha e cocaína nos carnavais do país e volta para casa com o cartão de crédito estourado.

JOEL DE SÁ
05/12/2008.

 
Autor
Joel Pereira de Sá
 
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