Poemas -> Amor : 

A TÚNICA

 
A Túnica


Soberba a Lua, enorme e cheia
Quente a noite e morna a areia da praia
A natureza apostada em compensar
A agrura de alguns intermináveis dias.
Deslumbrante a lua e quente a noite
Porque quente o calor que nesta hora nos aproxima.
Tenso mas contido
Tanto quanto o reclama o teu pensar
Fascinou-me o instante em que te conheci
Porque me fascinou a pessoa que vi em ti
Nos olhos negros e amendoados a falarem-me de um mundo
Que me anuncia a mulher sedutora
Que o destino fizera nada no Sol Nascente.
Não foram as tuas vestes que
Estranhamente se tornaram estimulantes
Estranho paradoxo
Que nos estorva
Tantas vezes nos impede de sabermos onde
Com rigor reside o encanto da mulher.
Convencer-te a ver-mo-nos na noite
Nessa hora em que o Mistério se adensa
É empresa não fácil mas lograda finalmente.
Exuberante a Lua e majestosamente cheia
A sensualidade e o romântico são os ingredientes
Que fazem rico este recanto único da oceânica orla.
Há muito que me habituei a esperar na praia deserta
Passos que sinto baterem-me na alma
E despertarem toda a minha pessoa
Não tarda que os escute.
Estirado na areia simulo distracção ou sono absoluto
Mas acordado quanto o pode estar um homem apaixonado
Tanto quanto sinto estar.
A Lua continua soberba e cheia
E ela Ariana – é este o seu nome - aproxima-se
Adivinho que ninguém mais possa ser
E sem dizer palavra estira-se a meu lado.
O nosso recíproco mundo de silêncio
Faz-se mutuamente entendível
Que ânsia de a olhar não tem limites
Como se uma nova pessoa feita indescritível sonho
Me fizesse temer a quase divinal visão.
Tudo estranhamente se faz incógnita para mim
Incapaz de avaliar a visão concreta
Na noite sensual e romântica
Que se me anuncia.
Num impulso volto-me para Ariana
E os meus olhos estremecem ao trocarem-se com os seus.
Faz-se assim luminosa e omnipresente
A mulher que nos últimos dias
Se fizera o objecto dos meus pensamentos de todas as horas.
À luz exuberante da Lua
E ao lúbrico calor da praia contemplo-a no meu deslumbre.
Atento que uma túnica singela e negra
Bem à maneira oriental é tudo quanto a cobre
Pudica mas voluptuosa.
Subitamente sinto-me frágil ante o seu encanto
Sentimento de fragilidade
Que logo se converte em determinação.
Numa força que nada nem ninguém ousaria deter
Mas não obstante sempre caminhando pelos caminhos da prudência
Assim é que num lanço impetuoso quanto o pode ser
Enrolo a ponta da túnica nos meus hábeis dedos
Até ao subtil prenuncio da semi-nudez
Tanta quanta o generoso do luar consente.
Um suspiro fundo de Ariana me diz que aprova a minha ousadia
Um estremecimento seu é um desafio que me não deixa dúvida
E então não é já a atitude contida mas o envolvimento pleno
Num quase descontrolo próximo da loucura que nos envolve.
Como sempre o tempo faz-se escasso nesta comunhão inaudita
De duas pessoas que se devoram no mundo incomparável do amor.
Entretanto a lua já mal se anuncia na linha do horizonte marinho
E desaparecendo como que nos diz que o amor é precioso
Mas que o êxtase não dura sempre.

 
Autor
luciusantonius
 
Texto
Data
Leituras
756
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
1 pontos
1
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
OlemaCorreia
Publicado: 28/03/2009 17:08  Atualizado: 28/03/2009 17:08
Da casa!
Usuário desde: 14/03/2009
Localidade:
Mensagens: 277
 Re: A TÚNICA
Como mulher senti-me deliciosamente envolvida no clima criado neste poema.É precioso e realista o seu final.
Um Abraço
Olema