Poemas : 

Sem retorno

 
O riso chegou-me à calma
Num galopada corrida lançada...
E correu livre, todo solto de alma
Atrás do rasto de andança desvairada.

Encheu-se de comprimento e largura
Num profundo jeito pouco são,
Como remédio que descura
A doença que me deitou, homem, ao chão.

O riso chegou-me todo solto,
Chegou-me ao peito ainda cheio
E, sem regra, fê-lo em sentimento revolto.

Abraçou-me feio e sem freio
E tomou-me de rápido assalto
Cortando-me meio por meio.

O riso não passou por sorriso,
Disparou, sonoro, uma quase gargalhada
E num assomo de contente nada conciso
Deixou-me agarrado ao mais vazio nada.

Valdevinoxis


A boa convivência não é uma questão de tolerância.


 
Autor
Valdevinoxis
 
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Enviado por Tópico
VónyFerreira
Publicado: 12/07/2009 23:33  Atualizado: 12/07/2009 23:33
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Mensagens: 10301
 Re: Sem retorno
Gostei muito do seu poema, Val
Vóny Ferreira

Enviado por Tópico
RoqueSilveira
Publicado: 12/07/2009 23:34  Atualizado: 12/07/2009 23:34
Membro de honra
Usuário desde: 31/03/2008
Localidade: Braga
Mensagens: 8095
 Re: Sem retorno
Achei curioso o tema, pouco falado em poesia. De facto o riso pode contaminar o corpo assim de repente, ser saudável, uma alegria momentânea e no fim, passado o momento chega a consciência da inconsistência do riso, entra o vazio. Abraço

Enviado por Tópico
Nanda
Publicado: 12/07/2009 23:36  Atualizado: 12/07/2009 23:36
Membro de honra
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Localidade: Setúbal
Mensagens: 11076
 Re: Sem retorno
Valdevinoxis,
Fiquei aqui a filosofar sobre se, efectivamente, o riso não deveria passar primeiro pelo estado morno de sorriso, antes de se soltar por completo.
Ou seja: Gostei!
Bj
Nanda

Enviado por Tópico
Henricabilio
Publicado: 13/07/2009 00:31  Atualizado: 13/07/2009 00:31
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 Re: Sem retorno
Qual a diferença entre riso e só(r)riso?!...
Talvez o sorriso seja mais superficial e o riso venha lá bem do fundo do ser.
Isto porque um sorriso, pode esconder alguma tristeza, coisa que um riso dificilmente consegue fazer.
Olhando o poema, fico com a sensação que era um soneto, ao qual foi acrescentado uma quadra suplementar com uma ideia que não fora explorada por completo, mas pode ser apenas uma impressão minha...
Um abraçooo!
Abílio

Enviado por Tópico
Maria Verde
Publicado: 13/07/2009 21:16  Atualizado: 13/07/2009 21:16
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Mensagens: 3489
 Re: Sem retorno
leio o poema assim. Um riso nervoso, um riso de desatino onde o senso é ausente e nem se sabe ao certo se é alegria ou dor o que o eu-lírico sente. Se podemos chorar de alegria, de tristeza e desespero também se ri e gargalha.
Como sempre, sua leitura exige um leitor ativo.

Maria verde