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Carta 31

 
Do frio de um quarto.

Jolie,

Ah, Michel, Michel, Michel, Michel! Dele não ouso saber mais do que meus olhos já me permitiram ler por tais linhas tuas, nem pelas curvas das moçoilas da república do segundo quarteirão à Universidade. De fato, minha jovem Jolie, Michel é um exímio artista, e, não escapam a ele, as veias da boemia luterana, que se encarregam do eucarístico vinho, às risadas das carraspanas de fins de semana. Michel, de mãos hábeis e pulsos firmes, não titubeia diante as curvas de uma destinada esquina, nem das arestas das mais proibitivas janelas do educandário. Não questiono, nem por um frustro segundo, que tua poesia alada, e, desprendida, minha jovem Jolie, ressoa em perfeita consonância, com os desenhos recalcados e vívidos falantes do experimentado Michel. Ei-lo aí, ensinando-te a bater asas e curvando-se diante deste teu tão admirável talento. Quem ousaria se retorcer diante teus delicados versos unidos aos firmes traços tão flamejantemente carbonados, ainda mais quando expulsos da alma de dois artistas? Faltam-me agora palavras para descrever todo feito, como hão de faltar àqueles que vivenciarem todo este dueto em obra.

E vejam, ma Jolie, o que o destino reservou a mim. De aluna tu já me passas a professora, e, sou eu agora a aprender a ler em tua cartilha de sobrevivência, nesses dias que a ti não tenho, e, que não posso ter. E re-Capitu-lando de minhas outras linhas desvendadas pelos teus olhos, vejo que o tempo será deveras delongado se dele não me aprouver de forma mais adequada, como tu o fazes agora em teus projetos particulares. Lanço-me à ventura de transpor as paredes deste frio quarto, a aquecer-me do tanto que a França possa me oferecer. Meus olhos serão constantes registradores desta minha mais nova realidade, e, o meu coração será fiel depositário do amor que sempre terei por ti. E quando, por aí, tu me lançares labaredas destas tuas chamas, terás muita lenha a combustar em mim.

Envolvo-me no trabalho para fazer o tempo escoar mais depressa. Trago-te comigo entre as páginas de Sartre, e, esta nova imagem, recente, como tu me disseste, ganhará morada cativa, fazendo par com duas de tuas cartas que lá já residem há algum tempo. Objetos de instiga e curiosidade alheia, venho sendo frequentemente inquirido por uma colega sobre o que mais Sartre me reserva. Por fim de muitas outras tantas delongadas insistências, acabei-te revelando a Marie, que ouviu nossa história fragmentada, não sem me confidenciar um pouco da dela. Não faço aqui menções mais específicas, por considerar que a reserva se faz apropriada a um assunto tão particular, quanto o que ela secretamente me revelou. Contudo, não posso me abster de não compreender como uma mulher tão madura, inteligente, profissionalmente destacável e de digna admiração e espelho, possa se resguardar na triste errata de nunca ter conhecido um amor de verdade. Confesso, ma Jolie, que me compadeci do que ela brevemente me relatou. Talvez, por isso, tenha-lhe poupado revelar a grandiosidade desse nosso sentimento tão único, tão nosso, em nossas conversas seguintes. Preferi falar de outros assuntos, e, pedir-lhe opiniões sobre o cotidiano num outro país. Marie já está há 4 anos e meio na França, e, conhece muitos excelentes lugares por aqui. Prometeu-me fazer conhecê-los, em troca de alguns sorrisos que ela sempre diz serem difíceis de me arrancar, mas belos demais para serem retidos.

Mas, não engano nem o novo nem o velho mundo. Nem tão pouco me preocupo em assim fazer. Se existe aqui em algum lugar razão que me faça sorrir, é somente quando tu me tomas de laço os pensamentos e me prende nesses momentos que só me memoram a ti.

Sinto tua falta, Jolie.

Beijos do teu ainda mais apaixonado,

Victorio Pierre.


rody

 
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